ABC - quarta-feira , 1 de maio de 2024

Tratamento da infecção urinária recorrente nem sempre envolve antibióticos

As mulheres que sofrem com infecções urinárias recorrentes devem procurar um médico e jamais tratar o problema usando antibióticos não receitados pelo ginecologista. Essa prática pode trazer muito mais problemas pois as bactérias podem se tornar resistentes e o tratamento mais difícil. Essa é a orientação do ginecologista e obstetra, Sérgio Makabe, que também é diretor da área de Medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) que participou do RDTv desta terça-feira (06/12).

Segundo Makabe as mulheres devem dar importância aos sintomas e evitar a automedicação. Se não tratada logo a infecção pode acometer outros órgãos. “Importante as mulheres saberem que anatomicamente já existe uma facilidade para a mulher desenvolver a infecção urinária, porque a uretra é bem menor que a uretra masculina e também tem a proximidade da região anal. Tem uma facilidade de que essas bactérias que habitam a região perineal subirem para a região da uretra e começarem a desenvolver uma uretrite. Essa infecção pode subir para a bexiga, aí a gente pode chamar de cistites, e pode ir para o rim que é a infecção mais grave, a pielonefrite”, explica o especialista.

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Somente o médico pode fazer um diagnóstico e recomendar os medicamentos, o que nem sempre envolve antibióticos. “Nem sempre há necessidade de tomar antibióticos muitas vezes um antisséptico de vias urinárias já alivia alguns sintomas, aquela dor ao urinar ou vontade de urinar toda hora ou mesmo a dor no final da micção. Todos esses sintomas devem ser tratados com orientação médica, para que não se torne um caso mais grave”.

Sintomas

Se a mulher sente dor ao urinar, se tem febre, dores no corpo e prostração, isso pode significar que ela está com uma infecção. “Assim que começa a ter sintomas ela deve procurar um tratamento que vem sempre após a realização de um exame de urina; uma urocultura e um antibiograma. Na urina crescem as bactérias e no exame de antibiograma nós sabemos qual antibiótico que vai matar aquela bactéria específica”, diz Sérgio Makabe.

A prevenção de infecções urinárias envolve uma boa higiene íntima, evitar o uso de calcinhas de lycra e calças que abafam a região genital. “Isso vai isso vai diminuir a sudorese nessa região o que pode predispor a um maior aumento de secreção. Também precisamos considerar, por exemplo, a mulher que tem pedras nos rins que também podem causar cistites e uretrites. Tomar bastante líquido é importante, quanto mais ela tomar, mais ela irá prevenir as infecções urinárias de repetição. Outra orientação é não segurar a urina. Quanto mais segura maior é o risco de infecção urinária”.

Sexo

As relações sexuais podem causar uretrites por causa de uma irritação local, conforme explica Makabe. “A relação sexual muitas vezes causa a uretrite porque causa uma irritação na uretra. Orientamos que após a relação ela urine, porque a micção limpa a uretra. Mulheres diabéticas, têm um descontrole da flora vaginal e isso também pode causar maior frequência de infecção urinária”, explica.  Para Makabe é importante a mulher fazer seus exames ginecológicos periodicamente, tratar corrimentos e isso melhora muito as infecções urinárias”.

Idade

O fator idade também deve ser considerado quando se analisa uma paciente com infecção urinária recorrente, seja mais jovens ou com mais idade. O ginecologista Sérgio Makabe explica porque. “Durante o período do climatério e pós menopausa, à partir de 40 anos, existe uma alteração hormonal onde vamos ter a secura vaginal, isso altera a flora vaginal e faz com que haja uma predisposição para infecções. A pele vai ficando mais fina e vai perdendo os componentes de defesa. Por isso se deve procurar o ginecologista para tratar essa secura vaginal e periuretral e assim diminuir o risco da mulher ter infecção urinária de repetição”, orienta.

Já as mulheres mais jovens podem ter mais infecção urinária quando elas têm muitas relações sexuais. “Existe um quadro que chamamos de cistite de lua de mel, que por ter muitas relações a mulher passa a ter dor ao urinar”, conta o ginecologista.

Doenças

As ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) também podem ocasionar infecções urinárias. “Quando uma mulher tem uma infecção ela tem uma alteração na imunidade. Muitas vezes a uretrite pode ser causada por uma doença sexualmente transmissível, como a gonorréia, que a gente chama de uretrite gonocócica. Toda infecção causa esse desequilíbrio imunológico e vai predispor o aparecimento de outras bactérias”, diz o especialista ao RDTv.

O uso de antibióticos só deve ocorrer após análise médica dos exames de urocultura. A dinâmica é procurar primeiro o médico, que vai pedir o chamado Urina 1, série de exames para diagnóstico de infecções. O médico pode receitar um antisséptico para usar até sair o resultado e, quando sair, entra com a medicação que não necessariamente será um antibiótico. “Também não pode esperar muito pois a infecção pode subir, ir para a bexiga, ir para os rins aí fica com infecção urinária mesmo, com febre, prostrada e dor muscular. Muitas vezes as pacientes precisam ficar internadas para receberem antibióticos endovenosos, porque o de via oral não faz mais efeito”.

“O uso de antibióticos deve ser muito racional e orientado pelo médico. A mulher não deve, porque está com uma dor para urinar, ir na farmácia e pedir para o farmacêutico um antibiótico. Porque o problema pode se tornar resistente e o antibiótico também vai selecionar a flora. Em outros momentos pode ter infecções mais fortes por bactérias mais resistentes. Entre as mulheres isso é comum, procurar a farmácia, não procurar o médico, porque ela está incomodada. Em casos graves ela pode entrar em septicemia, quando a infecção vai para o sangue. A infecção urinária pode se tornar muito grave quando não tratada. Importante é a paciente encarar como um quadro que merece atenção, passar no médico para fazer pelo menos um exame de urina”, explica Makabe.

Grávidas

A gravidez pode acabar aumentando risco de infecções recorrentes, primeiro por conta da dilatação do sistema urinário. “O esvaziamento da bexiga não é total, existe sempre um sedimento então existe uma probabilidade maior de proliferação de bactérias. A própria gravidez causa uma diminuição da imunidade. Por isso que, durante o pré-natal, o médico sempre orienta a tomar bastante líquido e ficar atenta aos sintomas da infecção urinária. Na mulher grávida ela pode ter as bactérias e não sente nada, então por isso sempre pedimos o exame de urina no primeiro trimestre, segundo trimestre, no terceiro e em qualquer momento em que a mulher relate alguma ardência. A infecção urinária na gravidez é a principal causa de parto prematuro e todas as suas complicações. Mais higiene, tratamento das candidíases, que são mais comuns nas grávidas, são indicadas”, diz o médico.

Além de beber muita água, Sérgio Makabe orienta suas pacientes a fazerem uso de sucos naturais. É comum o comentário de que sucos ácidos como os de laranja e limão pudessem favorecer as infecções, mas segundo o ginecologista a infecção e a acidez não estão relacionadas. “Uma mulher adulta deve tomar de dois a três litros de líquidos por dia, não precisa ser água, porque aí ela tem a micção mais regular e impede a proliferação de bactérias”, completa o especialista.

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