Juros: Risco fiscal pressiona e taxas avançam ao pico desde 2016

Os juros encerraram a sessão desta sexta-feira, 18, marcada pela volatilidade, em alta, maIs acentuada nos vencimentos curtos. As expectativas em torno do futuro da PEC da Transição e seus riscos para a política fiscal e monetária continuaram orientando os negócios, com os agentes ao longo do dia ora tentando se apegar a sinais de consciência fiscal emitidos pela equipe de transição para estancar a sangria que marcou a semana, ora preocupados com o nome de Fernando Haddad ganhando força para assumir a Fazenda. Pelo desempenho dos DIs curtos, ficou bem claro o recado do Banco Central de que vai “reagir” se não houver convergência entre as políticas fiscal e social, reforçando o viés de desinclinação da curva na semana.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 14,335% (regular) em 14,375% (estendida), de 14,152% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 13,57% para 13,715% (regular) e 13,76% (estendida). O DI para janeiro de 2027 terminou a regular em 13,46% e a estendida em 13,49%, de 13,30% ontem. Nesses níveis, as taxas estão nas máximas desde abril de 2016.

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Em evento da Bloomberg, Campos Neto disse que a definição final sobre o arcabouço fiscal a ser adotado tem o potencial de interferir no cenário para a política monetária, uma vez que a política fiscal serve de “input” para os modelos. Assim, considera importante haver coordenação entre a política monetária e a fiscal neste estágio do ciclo. “Se acreditarmos que a convergência não acontecerá por fiscal, vamos reagir”, adiantou, observando que a população pobre é a mais prejudicada quando as condições são adversas.

“A fala dele foi pragmática. Quanto menos ortodoxo for o fiscal, pior será para a política monetária”, disse o diretor de Tesouraria do Banco Fator, Bruno Capusso, destacando que quanto mais tempo a Selic demora para cair, mais se acentua o spread negativo entre os longos e curtos na curva a termo.

Ao ratificar a percepção que o mercado já vinha amadurecendo, de que vai sobrar para o BC combater eventuais excessos fiscais, a fala de Campos Neto reforçou as apostas de alta da Selic. Segundo apontam cálculos da Greenbay Investimentos, a precificação na curva é de aperto nas próximas três reuniões do Copom, mas agora nas duas primeiras de 2023 já aparecem apostas numa elevação de mais de 25 pontos-base, com Selic chegando a 14,57%. Depois disso, cortes começariam em junho com a curva apontando Selic de 14,00% no fim de 2023.

Parte dessa postura defensiva é atribuída ainda à indefinição sobre o comando da equipe econômica na nova gestão. No meio do dia, a curva deu uma guinada, com as taxas, que caíam desde a abertura, passando a subir repentinamente. O estopim foi a informação do colunista Lauro Jardim, do Globo, de que Haddad volta do Egito, onde acompanha Lula na COP27, como favorito para assumir a Fazenda. No atual contexto de tensão fiscal, não agrada ao mercado um nome do PT para ocupar o principal cargo da área econômica.

O ‘efeito Haddad’ acabou se sobrepondo nos DIs ao impacto positivo das declarações de ontem do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB). Ele afirmou não haver motivo para “estresse” e que a gestão Lula vai buscar formas de cortar gastos. Citou ainda a possibilidade de uma “ampla revisão de contratos vigentes” do governo e como prioritária a aprovação da reforma tributária. Ainda, segundo Alckmin, haverá superávit primário e redução da dívida.

As declarações trouxeram alívio nas primeiras horas da manhã, assim como o aumento da percepção de que o Congresso vai limar os excessos da PEC, para torná-la mais ortodoxa. Também é bem vista a ideia da equipe de transição de possivelmente negociar a inclusão no texto de um dispositivo que prevê a reforma do teto de gastos por meio de lei complementar. “A medida pode ser considerada como uma sinalização do governo eleito em prol da previsibilidade da agenda fiscal e econômica”, avaliam analistas políticos da Warren Renascença.

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