Juros: Taxas disparam com piora de risco fiscal e IPCA acima das projeções

A piora na avaliação do risco fiscal e ajustes na percepção sobre a inflação após o IPCA de outubro acima do esperado mantiveram os juros fortemente pressionados ao longo da tarde. As taxas fecharam em alta significativa, com as principais delas no maior nível desde o fim de julho, assim como as taxas das NTN-B no secundário também escalaram.

A possibilidade de a PEC da Transição excluir de forma permanente a despesa com o Bolsa Família, e sem apresentação de contrapartidas em receitas, já pesava no começo do dia, em meio a ausência dos nomes que vão compor a equipe econômica. Depois, a entrevista do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no fim da manhã fez a curva empinar, com alguns contratos chegando a entrar em leilão.

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No fechamento da sessão regular, o mercado ainda reagiu mal à nova leva de nomes que vão compor a transição de governo, com o ex-ministro Guido Mantega alocado na área de Planejamento e Orçamento. Nesse clima, o alívio dos ativos no exterior – os yields dos Treasuries tombaram – com a surpresa benigna vinda da inflação americana não conseguiu chegar até aqui.

A taxa do contrato e Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou a regular e a estendida em 13,63%, de 13,04% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 saltou de 12,01% para 13,05% (regular) e 12,95% (estendida) e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 12,98% (regular) e 12,90% (estendida), de 11,89%. Tais níveis representam o pico desde a última semana de julho, quando o Federal Reserve, em reunião de política monetária, apertava mais uma vez sua taxa de juros no atual ciclo. Nas NTN-B, as taxas dos papéis curtos já romperam 6%. A expressiva zeragem de posições (stop loss) vendidas em DI ao longo da sessão contribuiu para catapultar o volume de contratos

As taxas longas vêm subindo ininterruptamente desde segunda-feira, acusando o aumento das incertezas fiscais, que se agravaram de ontem para hoje. “Os gatilhos para a reprecificação dos ativos foram os discursos de ontem e de hoje, dada a possibilidade de expansão de gasto social sem fonte de recurso sustentável”, afirma o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

Ao risco de que as despesas com o programa social permaneçam fora da regra do teto durante todo o mandato, somou-se hoje um discurso de Lula considerado “heterodoxo” ao sinalizar que vê dicotomia entre prioridades sociais e equilíbrios fiscal. Vários profissionais têm citado o caso do Reino Unido, onde o pacote fiscal da ex-primeira ministra Liz Truss provocou a estilingada dos juros do país, ao incluir cortes de impostos em prol do crescimento, em um ambiente inflacionário desafiador.

Em encontro com parlamentares aliados, Lula declarou que as pessoas são “levadas a sofrer” para garantir a estabilidade fiscal. “Por que se fala em cortar gastos, fazer superávit e respeitar o teto de gastos?”, questionou. Ao mesmo tempo, disse que não há “alguém mais responsável que eu (no fiscal)”, acrescentou, ao citar o tripé de sua campanha eleitoral: credibilidade, previsibilidade e estabilidade.

A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, afirma que o conjunto IPCA + fiscal pesou sobre a curva, “mas mais o fiscal”. “A negociação da PEC preocupa porque não tem até agora anúncio de contrapartida. Daí veio o IPCA. Não dá para o BC fazer muita coisa, embora seja ainda cedo para dizer se o ciclo de cortes da Selic está em xeque”, afirmou.

O IPCA de outubro, de 0,59%, superou a mediana (0,49%) e o teto das projeções (0,54%) e contribuiu para adicionar cautela, com várias casas já revendo para cima suas estimativas para o fechamento do ano, para mais perto de 6% do que de 5%.

Dado o nível de estresse da curva, o Tesouro reduziu hoje os lotes de prefixados e ainda assim não vendeu todo o volume de LTN (300 mil das 450 mil ofertadas), rejeitando todas as propostas para o vencimento 1/10/2023. A oferta, também pequena, de NTN-F (100 mil), foi absorvida na íntegra.

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