A violência doméstica afeta mulheres de todas as classes sociais, rendas e escolaridade. Mas é a falta de informações sobre o que é, quais são os tipos de violência doméstica e onde buscar ajuda que faz com que muitas mulheres continuem em situação de risco ou percam suas vidas. Em entrevista ao RDtv, a diretora do Plantão da Mulher em Hultsfred e Vimmerby, Elaine Sanches, esclarece que o assunto é pouco tratado porque muitas mulheres não entendem que, até um empurrão é uma forma de violência física.
Elaine, que traz ao Conjuscs, da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), um estudo sobre o assunto, explica que o processo de sair de uma situação de violência doméstica pode ser bastante demorado e complexo. “Costuma ser física- e psicologicamente exaustivos. Até mesmo, excruciantes, afetando, na maioria das vezes, pessoas próximas à vítima, como filhos por exemplo”, afirma a diretora.
A legislação e o processo judicial são essenciais para que essas mulheres tenham seus direitos garantidos. “Algumas vezes as autoridades de imigração também participam desse processo e os ‘Plantões da Mulher’ acompanham em todas as fases”, diz Elaine ao lembrar, ainda, que não existe uma união tão grande a ponto de proteger todas aquelas que vivem em relacionamentos abusivos. “Mesmo em países desenvolvidos, muitas vítimas não querem que outras pessoas saibam que ela vive em um ambiente abusivo e que sofre de violência doméstica. Muitas vezes, elas se enganam e acreditam que a culpa é delas e não do agressor”, diz.
Juliana Monti Paz, gerente de projetos no Plantão da Mulher em Södertälje na Suécia, reforça que violência doméstica não escolhe um perfil específico. “Esta violência não tem nenhum ‘preconceito’, pode acontecer em todos os países, em todas as culturas. Acredito que as pessoas tenham uma visão de que a Europa tem países mais desenvolvidos, mas o desenvolvimento e a renda do país não tem relação com o que acontece dentro da casa das pessoas”, explicita.
Sobre o trabalho realizada no Suécia, Juliana ressalta que as mulheres podem chegar ao Plantão de diversas maneiras. “Algumas vezes elas podem ser encaminhadas para nós pela polícia ou diretamente com a gente. A partir do momento que ela entra em contato, analisamos a necessidade dela, se é preciso ficar na casa protegida, que tipo de apoio ela precisa e agimos conforme o que é melhor para a vítima”, expõe.
Sobre as diferenças e semelhanças do tratamento contra a violência doméstica no Brasil e na Suécia, Elaine diz que no Brasil falta rede de apoio às vítimas. “As mulheres sabem que aqui na Suécia temos organizações onde não é necessário prestar queixa na polícia sobre o agressor. Aqui elas recebem todo o suporte, seja um lugar seguro para morar estando com os filhos ou não, além do apoio psicológico e econômico”, diz.
Já na Suécia, Juliana acredita que há poucas leis específicas para as mulheres. “Em casos de agressão física, assassinato ou tentativa de assassinato, não existem leis que ajudem especificamente as mulheres. As leis são válidas para qualquer pessoa. Quando acontece um feminicídio, ele cai na lei de assassinato, por conta desta ideia de igualdade que existe neste país”, esclarece.
Elaine enfatiza que independente da situação, é importante denunciar todo e qualquer tipo de violência, seja ela física, psicológica ou até financeira. “Se você sofre qualquer tipo de abuso, denuncie e lembre-se de que você não está sozinha, existem várias pessoas dispostas a estender a mão para te ajudar. Para isso, é preciso denunciar para que estas pessoas saibam que a ajuda é necessária”, finaliza.