
O ABC tem duas realidades bem distintas quanto a competitividade e sustentabilidade das cidades. Três municípios têm um ótimo resultado quanto à ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e ESG (sigla em inglês que significa, Ambiental, Social e Governança) e outras três estão muito longe do que exigem esses mecanismos modernos de gestão e de avaliação para investidores. Os dados constam de ranking de municípios denominado Índice de Competitividade e que é elaborado pelo CLP (Centro de Liderança Pública). Esse estudo foi alvo de análise da economista, mestre em administração e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Alessandra Santos Rosa. A análise é parte da 23ª Carta do Conjuscs (Conjuntura da USCS), lançada nesta quarta-feira (05/10).
Os conceitos de ODS e ESG já são amplamente adotados no setor privado até como estratégia de visibilidade e de construção da imagem da empresa. Agora esse conceito também é utilizado na gestão pública e para o mesmo objetivo; atrair investimentos demonstrando o seu potencial econômico, social e ambiental. A Investe SP (Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade) ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado já considera isso. A professora Alessandra reproduz no seu estudo trecho de publicação da agência que abordou o tema na perspectiva do Fórum Econômico Mundial de Davos de 2022. O órgão estadual afirma que “os atuais investidores passam a se preocupar com todos os envolvidos em seus negócios e que a riqueza gerada deve atingir seus colaboradores e de certa forma a sociedade em torno, é o que está sendo chamado de capitalismo de stakeholders. Ainda para a Investe SP o tema ESG não é um assunto de exclusividade do setor privado, mas também do setor público e, por isso, de acordo com o órgão, cabe aos estados e municípios desenvolverem políticas públicas de incentivo, que criem condições e regulações necessárias para incentivar investimentos e a adoção de boas práticas pelas empresas”.
O índice de competitividade do CLP tem objetivo de criar ferramentas efetivas, por meio de indicadores e rankings que subsidiam gestores públicos de estados e municípios brasileiros. No ranking o destaque fica para São Caetano, 1° lugar em ODS e em ESG e 2° lugar no ranking geral, perdendo apenas para Barueri.
Em segundo lugar do ABC, mas longe da primeira posição no ranking, vem São Bernardo, na 14ª posição, na sequência aparece Santo André em 57° no ranking geral. As demais cidades da região aparecem nesta ordem: Ribeirão Pires, Diadema e Mauá, todos muito depois da centésima posição. A nota técnica do Conjuscs cita o “abismo” no ranking entre os três primeiros municípios citados e os três últimos. A professora considera que questões como a diferença socioeconômica das populações e a necessidade de políticas públicas devem ser consideradas. Rio Grande da Serra não aparece na pesquisa por não possuir as características de recorte do estudo.
A autora da nota técnica considera que as empresas modernas já começam a utilizar rankings como o da CLP para analisar novos investimentos e prospectar negócios. “Eu não afirmaria que já são pontos decisivos para que uma empresa se instale em determinado município, mas com certeza as empresas estão mais atentas a estes movimentos e devem começar a cobrar mais dos municípios. A empresas podem sim olhar como um diferencial e consequentemente se instalarem nestas cidades, o que irá proporcionar o aumento da riqueza com certeza. Precisamos compreender que estes indicadores sinalizam uma mudança de visão e perspectiva, leva um tempo, mas quem estiver na frente com certeza ganhará vantagem”, analisa Alessandra.
A docente da USCS diz que a diferença que considera “gritante” entre o posicionamento no ranking CLP, das cidades do ABC, dividindo-as em dois grupos distintos, tem a ver com a realidade socioeconômica de cada uma e a necessidade de eleger prioridades na gestão. “É um conjunto que nos sinaliza obviamente as prioridades de cada cidade. Um município que ainda precisa melhorar significativamente saúde e educação, por exemplo, terá uma menor aderência imediata aos conceitos de ODS e ESG. Constar nos indicadores é mais uma consequência do que um planejamento. Já uma cidade mais evoluída nos itens básicos consegue planejar melhor outros pontos que são importantes e incluir efetivamente nas políticas públicas, como é o caso de São Caetano, que aparece em primeiro, além das questões socioeconômicas”.
Para Alessandra Santos Rosa o Consórcio Intermunicipal e a Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC são ferramentas muito importantes que hoje estão voltados à solução dos problemas urgentes da região, mas que podem contribuir para que as cidades avancem nos índices de ODS e ESG. “Eu, geralmente, menciono o Consórcio em minhas notas técnicas porque é um instrumento poderoso para efetividade das políticas públicas regionais. Mas é muito importante lembrar que as demandas para uma região como o ABC são infinitas e assim, mais uma vez, as urgências dão lugar, na minha opinião, às estratégias de desenvolvimento. O que precisa ser compreendido é que as propostas norteadas por estes indicadores precisam caminhar juntamente com as políticas públicas, ou seja, quando olho para os ODSs e para os pilares dos ESGs e proponho políticas públicas a partir deles, a melhora dos indicadores é um processo natural. Neste sentido, eu creio que ambos os órgãos têm muito a contribuir ainda”, completa.