Após vitória na Itália, apoio à Rússia é primeiro teste de coalizão de direita

A líder da direita radical italiana, Giorgia Meloni, deu início nesta segunda, 26/9, às negociações para formar uma coalizão de governo, depois da ampla vitória nas eleições do domingo, 25. Apesar de favorável, o cenário não é de todo certo para a líder do Fratelli D’Italia.

Ela terá de articular com Matteo Salvini, da Lega, e Silvio Berlusconi, do Forza Italia o desenho de seu gabinete de ministros e superar eventuais diferenças com os dois aliados, sobretudo no que diz respeito ao papel da Itália no apoio à Ucrânia na guerra com a Rússia.

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Segundo o Ministério do Interior Italiano, a coalizão de direita conquistou cerca de 44% dos votos válidos. A aliança de centro-esquerda liderada pelo Partido Democrático, com 26%, e o antissistema M5S, com 15%, completam a lista dos mais votados pelos eleitores italianos.

O porcentual de votos é suficiente para garantir à coalizão um número de acentos majoritário tanto na Câmara quanto no Senado, o que significa que a direita será capaz de formar governo sem a necessidade de ampliar sua aliança ou negociar com outros partidos.

Em contrapartida, a diferença não deve ser suficiente para o grupo conseguir a sonhada maioria de dois terços no Parlamento, o que permitiria fazer alterações na Constituição do país sem o consentimento da oposição.

De toda forma, a estabilidade da coalizão dependerá fundamentalmente da habilidade de Meloni em manter seus aliados satisfeitos. E um dos focos de desacordo mais latentes é a Rússia.

“Gerenciar a coalizão do governo não será fácil. De um lado, está Matteo Salvini, ressentido com a ascensão de Meloni – que veio às suas custas – e inflexivelmente pró-Putin, ele pode causar problemas sem fim. Do outro, Silvio Berlusconi, que já avisou seus sócios que o Forza Italia ‘vai romper com o governo se for preciso'”, escreveu Mattia Ferraresi, editor-chefe do jornal italiano Domani.

Ucrânia

Como líder da oposição ao governo do primeiro-ministro Mario Draghi, Meloni, criticou tudo, desde requisitos de vacinas até projetos orçamentários. Mas na questão da Ucrânia, talvez a mais importante para o governo de Draghi, ela criticou inequivocamente a invasão. Recentemente, disse que continuaria a fornecer armas italianas aos ucranianos se fosse premiê.

O mesmo não pode ser dito de Berlusconi e Salvini. O primeiro declarou recentemente que “Putin foi pressionado pela população russa, por seu partido e por seus ministros a inventar essa operação especial”.

Salvini, por sua vez, é tão próximo da Rússia que frequentemente tem de rejeitar acusações de que recebeu dinheiro de Moscou. Recentemente, o líder da Lega duvidou da sabedoria de sanções à Rússia, que segundo ele prejudicam a Itália mais do que o governo de Putin.

Futuro

Analistas acreditam que a resolução dessas tensões internas sobre a Rússia dentro da coalizão de Meloni serão um fator-chave no sucesso do apoio europeu à Ucrânia. Se Meloni vacilar, especialmente na aplicação de sanções ao Kremlin, a unidade europeia contra a guerra pode se desfazer. Mas a votação discreta de Salvini e Berlusconi, ambos abaixo dos 10%, pode dar margem de manobra à líder da coalizão. “Duvido muito de que Meloni mudará de posição sobre a Rússia. A posição dela sobre isso é muito firme”, diz Natalia Tocci, diretora do Instituto de Assuntos Internacionais de Roma. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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