Tarcísio: População sempre andou armada, mas armas chegavam de maneira irregular

Candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) defendeu a agenda armamentista do presidente Jair Bolsonaro (PL), nesta terça-feira, 20. O ex-ministro afirmou que a população “sempre andou armada” e deu a entender que as flexibilizações da gestão Bolsonaro ajudaram a melhorar indicadores de segurança pública. Ele voltou a questionar o investimento em câmaras corporais, conhecidas também como bodycams, que, na visão dele, poderia ser “melhor direcionado em prol do próprio policial”.

As declarações foram feitas durante dois eventos de campanha nesta terça. Tarcísio concedeu uma entrevista à Rádio Nova Brasil FM e, depois, participou de sabatina no Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).

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Questionado se achava saudável a defesa do presidente e candidato à reeleição, de quem é aliado, de que os brasileiros se armem, Tarcísio respondeu que “a população sempre andou armada, só que as armas chegavam de maneira irregular”: “É importante você ter o controle, e eu defendo a liberdade. Acho que cada cidadão tem que tomar a decisão que lhe cabe e você tem alguns critérios para que a pessoa possa ter porte ou posse de arma”.

A fala pró-armamento foi justificada ao pontuar que a política de segurança pública é, em grande parte, de dissuasão. ” Quando o bandido não tem a certeza se a pessoa está armada ou não, ele pensa duas vezes.” Ele também deu a entender que flexibilizações proporcionadas por decretos presidenciais, que aumentaram o número de armas em circulação, estão relacionadas à melhora de indicadores como a redução do número de invasão de terras e homicídios.

Para sustentar a tese, por exemplo, Tarcísio disse que “a taxa de homicídios no Brasil é a menor desde 2011?. O dado é do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que mostra que, em 2021, o País registrou 47.503 assassinatos. No entanto, especialistas ouvidos pelo Estadão, em junho, associam a redução a uma estabilização de conflitos entre facções criminosas e a implementação de programas estaduais focalizados em públicos mais jovens; e destacam que o número não é animador, pois o País segue entre os mais violentos do mundo.

Em entrevista, o diretor-presidente do Fórum, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, destacou que o maior número de armas em circulação não significou menos assassinatos. “A tese do governo (federal) seria quanto mais armas, menos crimes. Nos Estados que tiveram maior variação positiva no número de armas em circulação, deveria haver maior queda nos homicídios. E não é isso que acontece, a dispersão é muito grande, não existe um padrão.”

Câmeras corporais

Tarcísio também voltou a criticar o investimento em câmeras corporais, que, segundo ele, é “alto” e poderia ser “melhor direcionado em prol do próprio policial”. A crítica foi feita ao ser questionado sobre como efetuaria aumento salarial das forças policiais do Estado, caso eleito.

Ele aponta que o salário dos policiais em São Paulo é um dos “piores do País”. Porém, a valorização dos agentes de segurança vai além de incrementar a remuneração; para ele, é preciso também aprimorar assistências médica e jurídica.

As câmeras corporais são política amplamente elogiada por especialistas. Elas são apontadas como principal fator para redução da letalidade policial. Dados do Relatório Anual 2021 da Ouvidoria da Polícia, divulgado pela Secretaria de Segurança Pública, mostram que 570 pessoas morreram em decorrência de intervenção policial no Estado, no ano passado. Em relação aos últimos dois anos, houve queda de mais de 34% – em 2019, o número era 867.

Jovem aprendiz

No CIEE, Tarcísio citou a implementação do projeto do Jovem Aprendiz Paulista também nas micro e pequenas empresas, com capacitação subsidiada pelo Estado, que está em seu plano de governo. A expansão do programa, defendeu, é permitir ao jovem entrar mais cedo no mercado de trabalho, pois, muitas vezes, portas se fecham por “falta de experiência” e também para ele melhor entender a importância do que é ensinado na escola.

Confrontado sobre as remunerações defasadas, o ex-ministro disse que a “chave” para o problema está na capacitação e, para isso, seria preciso combater a evasão escolar. Nesse sentido, prometeu ampliar políticas de transferência de renda para que o estudante fique na escola.

“Hoje, eu tenho 300 mil alunos atendidos pela Bolsa do Povo. Quando cursando o ensino médio, recebem R$ 100 durante dez meses ao longo do ano. A gente deve estender isso para um 1,2 de alunos – ou seja, toda a rede de ensino médio -, passar isso para R$ 120 e manter o pagamento nos doze meses do ano”, prometeu.

Ele também afirmou que vai triplicar o número de escolas integrais e transformá-las em “em grandes centros de formação profissional”. “Vamos bater 3,3 mil escolas de tempo integral. Todas elas tendo o quinto itinerário formativo disponível, que é o itinerário formativo profissionalizante, e inserir esses alunos no programa Jovem Aprendiz Paulista.”

Milícias

Ao ser questionado sobre falas dos adversários, que dizem que, se Tarcísio vencer, São Paulo se tornaria “cabide de empregos do bolsonarismo” e “paraíso das milícias”, o candidato classificou as declarações como preconceituosas e reforçou o caráter técnico de quem chamará para trabalhar com ele – um discurso semelhante ao de Jair Bolsonaro.

“Não sei tudo, tem muita gente que sabe muito mais do que eu em cada uma das áreas. Eu trabalhei 25 anos na infraestrutura para virar ministro da infraestrutura. E descobri que eu não sabia nada de infraestrutura e eu montei um grande time e trabalhei ouvindo pessoas, ouvindo o mercado”, declarou.

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