
A próxima reunião de negociação entre a direção da Mercedes-Benz e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC acontece na quarta-feira (21/09), para discutir o anúncio que a empresa fez no dia 06/09 de demitir 3,6 mil trabalhadores de cinco áreas diferentes da empresa. Não há um estudo que aponte o impacto que essas demissões podem trazer à economia da região, porém, se ocorrer a terceirização destes postos de trabalho como anuncia a empresa, só com isso já haverá forte impacto na massa salarial.
A Mercedes-Benz anunciou que pretende demitir 2,2 mil trabalhadores das áreas de logística, manutenção, ferramentaria, laboratórios, fabricação de eixos e transmissões de caminhões médios, e 1,4 mil trabalhadores com contratos temporários. A empresa diz ainda que parte dos postos de trabalho serão terceirizados.
Para o economista Sandro Maskio, da Universidade Metodista, não há como saber o quanto as demissões e a terceirização das áreas, anunciadas pela Mercedes-Benz, vão impactar na economia da região, mas certamente vai impactar na renda, uma vez que a massa salarial deve ser impactada com salários menores pagos aos trabalhadores terceirizados. “Isso reduz o consumo em várias áreas, da alimentação a setores como o da educação e da saúde. O impacto imediato que podemos esperar é na renda dos trabalhadores”, analisa.
“Os salários variam muito de setor para setor. O que sabemos é que são cargos que exigem certa qualificação, mesmo que sejam postos de trabalho terceirizados”, disse. Para Sandro Maskio o município, no caso São Bernardo, e a região deveriam se preocupar com o efeito dessas demissões. “Desde os anos 90 que a produção industrial do ABC vem caindo, e desde essa época que se discute o tema. O Fórum da Indústria (criado pela Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC) é uma oportunidade para se discutir isso, mas até quando vamos ficar discutindo? Faltam iniciativas práticas, como por exemplo, trazer o Estado para a discussão, o mesmo Estado que leva indústrias para o interior”, diz o economista.
De acordo com Maskio, uma questão importante a ser considerada nestes anúncios de demissões é que eles podem estar contaminados pelo processo de negociação entre a empresa e o sindicato pelo reajuste salarial. “A primeira coisa a ser analisada é a parte estratégica, pois isso pode fazer parte da negociação. Há dois anos cogitaram demitir 1,5 mil trabalhadores e depois da negociação isso não aconteceu. Da mesma forma a General Motors de São Caetano chegou a anunciar que poderia fechar a fábrica de São Caetano a depender dos lucros no ano de 2019. Em negociação ficou estabelecido que não haveria dissídio por dois anos e a empresa ficou”.
“A Mercedes-Benz não demonstra sinais de que vai reduzir a produção, ao contrário”, analisa Maskio. “A empresa fez um investimento muito grande visando a automação e isso é um sinal de que aposta na planta de São Bernardo. Tem 20 mil caminhões para entregar até o final do ano e provavelmente não vai conseguir cumprir o prazo, então ela precisa aumentar a produção e o anúncio pode fazer parte desta negociação”.
O professor de economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e delegado do Corecon (Conselho Regional de Economia) em São Caetano, Vinícius Oliveira Silva, fez uma conta com números aproximados e, pelo seu raciocínio, a perda se aproxima da arrecadação anual de um município como Rio Grande da Serra. “Considerando que um trabalhador da Mercedes ganhe três salários mínimos, isso numa visão bem conservadora, pois tem diferentes salários na montadora e alguns muito superiores a esse, essas demissões dariam R$ 13 milhões que deixariam de entrar todo mês na economia da região e, em torno de R$ 170 milhões por ano, isso aí é maior do que orçamento de Rio Grande da Serra, então é um impacto considerável. Esses trabalhadores são consumidores e os setores que eles consomem geram emprego e renda, então isso vai se desdobrando, se multiplicando. Além de tudo isso que vai deixar de vir para a região e que vai deixar de ser consumido, alguns serviços públicos vão passar a serem demandados. Se eu pagava a educação para o meu filho, se o município puder providenciar isso para mim, já vai ser um custo que vou cortar porque vou perder o meu emprego. Aquela arrecadação que o município teria com aquele emprego que existia, não vai ter, então a consequência será um gasto maior para todos os municípios”.
O professor da USCS considera que há também um aspecto positivo, à longo prazo, se os municípios fizerem ações imediatas para amparar esses trabalhadores que perderem os empregos. “Os municípios deveriam se preparar no sentido de despertar o empreendedorismo nas pessoas. Os municípios e o sindicato poderiam promover o acúmulo de conhecimento, o interesse nesses trabalhadores de investirem em negócios próprios, de terem ideias, de colocarem o seu conhecimento em funcionamento. Muitos estão lá há muitos anos, conhecem muito de determinada atividade e pode ser que eles possam desenvolver isso em outra atividade e com isso gerar emprego e renda. Destaco Santo André, que é um dos 20 municípios mais empreendedores do país, mas que também os outros municípios tenham estrutura para absorver esse funcionário que vai perder o emprego. São mais de 2 mil são funcionários registrados que terão seus direitos trabalhistas e vão fazer o quê com esse dineiro? É importante que tenham alguma educação financeira para não saírem investindo em qualquer negócio, de qualquer jeito, em ofertas mirabolantes, em oportunidades que na verdade vão fazer ele perder dinheiro. Se o poder público conseguir se mover para levar conhecimento para essas pessoas, isso, com o passar dos anos pode ter um impacto positivo para a região, pensando que o pequeno e médio negócio dão mais emprego é um caminho muito interessante para a nossa região”, conclui.