
Os candidatos ao governo do Estado sabem o que deve ser feito quando se trata de mobilidade no ABC. Os 10 candidatos foram procurados pelo RD para falar do assunto, mas poucos responderam. Dois deles, Fernando Haddad (PT) e o atual governador que tenta reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), em visita à região já em campanha, pincelaram o tema, ao mostrar que entendem as carências da região e que essa é uma questão urgente.
Para o professor e gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) Enio Moro Júnior, a Região Metropolitana de São Paulo já está em fase de transformação para a Macrometrópole Paulista. Resumidamente, diz, será a breve conurbação com outras regiões metropolitanas próximas, como Campinas, Jundiaí e Piracicaba. E metrópole só funciona bem se tiver boas soluções de mobilidade. “Assim, deve-se prever a mobilidade ativa de pedestres e bicicletas, com ciclovias, ciclofaixas e calçadas acessíveis e permeáveis; redução do tempo de viagens; implantação de VLTs (veículos leves sobre trilhos), que é o modal com capacidade intermediária entre os BRTs e Metrô; novas tecnologias por meio da inteligência artificial e aplicativos; modais sustentáveis; expansão do metrô; organização dos carros de aplicativos; modais coletivos por demanda; e integração regional de trens para passageiros e carga”, lista.
Segundo o urbanista, o BRT que está projetado para ligar a região ao Terminal Sacomã, já nasce com a capacidade no limite. “Por isso, ele deve ter infraestrutura que permita breve migração para VLT (que transporta até 400 pessoas por viagem)”, comenta ao listar outras demandas necessárias para a região, como ciclovia regional, modernização das estações de trem, novas tecnologias (em especial teleféricos nas áreas favelizadas), modernização dos pontos e paradas de ônibus, bilhete único regional e integrado e migração da frota de ônibus a diesel para frota elétrica.
Haddad
Em passagem por Mauá, no dia 18 de agosto, Haddad defendeu o bilhete único metropolitano como forma de integrar região metropolitana. “Nós precisamos começar gradualmente a integrar atividades da Capital com as cidades ao redor. Não tem cabimento uma pessoa de Carapicuíba, de Ferraz de Vasconcelos, ter de pagar duas, três passagens para procurar emprego ou ir trabalhar em São Paulo”, disse o candidato.

A assessoria do candidato destaca trechos do plano de governo do petista, que cita a criação do plano cicloviário estadual, as redes de caminhabilidade e articulação entre os modais urbanos, com metas ambientais e sociais. Também cita a revogação da extinção da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e criação de uma agência de regulação dos transportes metropolitanos, com fiscalização dos contratos de concessão, e criação de uma governança regional de transporte. O plano fala ainda da criação de uma rede ferroviária intermunicipal de passageiros, que integraria as cidades da Macrometrópole. Dentre diversas ações pontuais, o plano cita também iniciar as obras da linha 20 para o ABC.
Garcia

Também no dia 18 o ABC recebeu o candidato tucano, que falou sobre BRT e Metrô. Rodrigo Garcia defendeu o investimento no projeto da linha 20-Rosa, do Metrô para a região e a instalação do BRT. “Nós já contratamos o projeto funcional da linha 20, do Metrô, com a emenda da (deputada estadual) Carla Morando (PSDB). Esse projeto já está em andamento e é a linha 20, do Metrô, que vai chegar ao ABC. Antes disso estamos construindo o BRT, um transporte que vai dar muita qualidade, vai ligar o ABC com o Terminal Sacomã. Vamos estar no final do ano que vem com o BRT funcionando”, disse Garcia após a segunda agenda. A linha 20 ligaria inicialmente os bairros da Lapa e Moema, na Capital, e na segunda fase chegaria a São Bernardo, mas novo projeto visa unificar as duas fases e ampliar o trajeto para chegar ao centro de Santo André.
Poit
O candidato Vinicius Poit (Novo) respondeu ao RD por email. Segundo o candidato, o Estado precisa ter fôlego para investir em obras paradas pelo Estado. Para o ABC, o candidato considera que precisa urgente de nova ligação com a Capital. “Os governos tucanos prometem isso há mais de 20 anos e a gente não vê nada sair do papel. Então, é preciso enxugar a máquina, cortar custos e privilégios para poder ter fôlego e retomar as obras paradas em nosso Estado”, diz.

Segundo Poit, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que é a principal ligação do ABC com a Capital, não oferece serviço de qualidade. “Apresenta atrasos constantes e superlotações. Faz quantos anos que os governos tucanos prometem o metrô para o ABC? Todo ano de eleição vem uma promessa diferente. Tínhamos algo encaminhado, com contrato assinado, a linha 18 do metrô, por monotrilho, que o governo Doria enterrou. Se era ou não a melhor solução, o corpo técnico é que precisa dizer. Agora, temos um contrato em vigor para construção de um BRT, ligar São Bernardo a Capital, com corridas expressas. Mas isso precisa sair do papel. Tem também o projeto da linha 20 do Metrô, embrionário, mas atenderia o ABC a longo prazo. É outra obra que precisa ter a devida atenção para não ir para o mesmo caminho da linha 18, uma eterna promessa que acabou enterrada. Resumindo, é inegável que a melhoria da mobilidade urbana do ABC passa por investimentos em transporte coletivo e conclusão de projetos que estão travados”, afirma.
O candidato do Novo também destacou a realização de um plano para a eletrificação veicular, que irá apoiar a mobilidade elétrica. Para Poit, é fundamental que todos os setores relevantes da sociedade estejam envolvidos no processo de planejamento, de forma similar a como é feita em planos diretores. “O investimento deve ser priorizado no desenvolvimento de frotas de veículos de transporte coletivo públicos e elétricos, com com retorno mais eficiente dos investimentos”, diz.
Os candidatos Altino de Melo Prazeres Júnior (PSTU), Antonio Jorge Filho (DC), Carol Vigliar (UP), Edson Dorta (PCO); Elvis Leonardo Cezar (PDT), Gabriel Colombo (PCB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) não responderam.