Quinze dias depois da morte do ambientalista Adolfo de Souza Duarte, de 41 anos, o Ferrugem, o RDTv desta terça-feira (16/08) ouviu duas pessoas muito próximas a ele; o sócio dele na empresa que realiza passeios de barco nas represas Guarapiranga e Billings, Adrian Meusburger, e a professora, bióloga e coordenadora do IPH-USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Angela Marcondes, que falaram sobre o legado que Ferrugem deixa para o projeto Meninos da Billings, e para a preservação dos mananciais. Ferrugem era marinheiro e no último dia 1° de agosto conduzia um barco pela represa juntamente com quatro pessoas que pagaram pelo passeio, mas o barco retornou à margem apenas com as quatro pessoas e sem o tripulante. Segundo depoimentos colhidos pela polícia ele caiu na água com uma das passageiras, ela foi resgatada e ele desapareceu. O corpo foi encontrado cinco dias depois.
“É uma perda irreparável, além de conhecer bem toda a área da represa ele tinha ainda o projeto Meninos da Billings, um trabalho importante para mostrar para as pessoas como o reservatório é maravilhoso e repleto de histórias. Temos pescadores, comunidades tradicionais e os indígenas. É uma história de mais de 100 anos, e o Ferrugem trazia muito isso, era um professor de história que falava sobre o reservatório, além do trabalho importante no Grajaú e Cantinho do Céu”, disse Marta Marcondes sobre as comunidades atendidas pela ONG, através do projeto Remada na Quebrada, do qual Ferrugem era instrutor.
O sócio diretor das empresas Vivant e SampaBoat, Adrian Meusburger também concorda que o legado de Ferrugem será o de preservação dos mananciais. “É um legado bem grande. O Ferrugem era pessoa ímpar, super conhecido na região onde começou esse trabalho há 10 anos. O trabalho dele tem que ser continuado só assim a gente pode garantir a preservação dessa dádiva que nós temos, os reservatórios que são fundamentais para as cidades. Só o Bioma da Guarapiranga tem 305 espécies de aves catalogadas e na Billings deve ter o mesmo tanto. Ele mostrava aos pequenos que tem que cuidar dessa dádiva. O legado que ele deixa é o de passar essa paixão que tinha pela natureza para os pequenos. Tem que fazer um trabalho com escolas públicas e particulares, pegar essas crianças e mostrar a represa, que é a água que bebem que gera energia”, disse o empresário.
Manifestação
Marta falou sobre ato realizado na manhã da terça-feira (16/08) no Rio Pinheiros. O ato contou com uma enorme capivara inflável, mas uma capivara diferente, com algumas verrugas, três olhos e outras mutações. A intenção era chamar a atenção para os poluentes perigosos no Pinheiros. “Foi uma instalação artística pra mostrar quanto dos perigos que temos nas águas”, explicou. Mas como ambientalista, recebe críticas e enfrenta situações em que sente que há pessoas tentando impedir o trabalho. “Quem está querendo calar as vozes de quem está lutando pela questão ambiental?”, indaga a professora. “Felizmente nós não vamos desistir. Nossa luta por todos nós. Queremos que todo mundo tenha direito a um ambiente saudável, isso inclusive está no artigo 225 da Constituição, que todos temos direito a um ambiente equilibrado, é dever proteger para essa e para as futuras gerações”, continua.

O movimento Volta Pinheiros vai preparar uma carta que será entregue aos candidatos o governo do Estado, em que vai pedir o compromisso da continuidade das obras de despoluição do Rio Pinheiros. O IPH-USCS vai apoiar o movimento nesta iniciativa. “Faremos movimento com os candidatos para que se comprometam com os nossos mananciais. Precisamos de monitoramento, equipamentos e instrumentalizar as pessoas que trabalham nos departamentos como a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) e outras. Hoje se sai um barco, se consegue rastrear, mas não temos essa mobilidade para quem faz a fiscalização dos mananciais, isso é impensável”, disse Marta.
Adrian Meusburger concorda que há muita falta de fiscalização nos mananciais. “Em São Paulo quem faz a fiscalização é a GCM (Guarda Civil Municipal). Na Billings não tem atuação nenhuma, não tem fiscalização porque é muito grande e envolve muitas cidades. Só que fiscaliza é a Polícia Militar Ambiental e só com uma embarcação”. Para o empresário, falta ao Estado enxergar o potencial turístico das duas represas e para que isso de desenvolva é preciso fiscalizar e evitar o despejo de esgoto e lixo nos mananciais.
Marta diz que há até recursos específicos para investimento na fiscalização que vêm através do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos). “Na sexta-feira e ficamos andando a manhã inteira no reservatório e não vimos um barco de fiscalização. Mas vimos redes d pesca e irregular que está aumentando. São 120 quilômetros quadrados de espelho d´água. Braço do Rio Grande fornece água para o ABC e para o Alto Tietê, o braço do Taquacetuba se interliga com a Guarapiranga. Como se tem um reservatório com essa importância e não tem um monitoramento? Hoje tem drones para monitorar sem enfrentamento, precisamos nos modernizar e exigir que essas coisas sejam feitas. Temos as leis específicas da Billings e da Guarapiranga, a lei de proteção aos mananciais, a nossa constituição estadual, a federal, o código florestal, então lei não falta, precisa de fiscalização”.
Para quem quer conhecer mais sobre as represas e fazer passeios monitorados é fácil. Segundo Adrian Meusburger. “A Guarapiranga tem sete parques públicos o mais próximo é o da Estação Socorro da CPTM Linha nove Esmeralda; tem o parque da Barragem, de acesso livre onde se pode ir lá só contemplar o lindo espelho d´água que é a represa. Os passeios de barco a gente faz sob agendamento e não tem nenhuma restrição de idade”, finaliza.
Marta falou ainda sobre os projetos em andamento. O IPH USCS está fazendo parcerias importantes, com a Faculdade de Saúde Pública e o Instituto de Medicina Tropical da USP, por exemplo, para sequenciamento genético de parasitas. “Vamos fazer o sequenciamento genético da Guarapiranga, assim como nós fizemos da Billings. Emenda parlamentar garantiu a compra de reagentes para o início desse trabalho. Já aqui na USCS, a nossa ideia é trabalhar com micropoluentes, aqui mesmo na universidade. Para a gente tratar os rios doentes a gente precisa de um diagnóstico mais preciso, então a gente procura fazer o melhor diagnóstico possível para que nós possamos sugerir as melhores práticas para que esses rios saiam da UTI e voltem a sua vida total. Somos a voz desses corpos d´água do ABC”, completa.