Boletim econômico mostra que mulher ganha 77% do salário do homem no ABC

A terceira edição do Boletim de Conjuntura Econômica do ABCDMRR organizado pelo Corecon (Conselho Regional de Economia) trouxe uma dura realidade para a região que é a diferenciação de salários entre homens em mulheres. Segundo o estudo, que é baseado na Rais (Relação Anual de Informações Sociais), as mulheres ganham menos que os homens em praticamente todos os setores; no geral elas ganham 77% do salário pago aos homens.

De acordo com o estudo, na indústria é onde a mulher ganha menos em comparação com os homens, nesta área a mulher ganha em média 65% do salário do homem; no comércio essa relação é de 79% e em serviços 83%. Na administração pública onde o percentual de mulheres atuando é 70%, os salários estão mais perto da igualdade; 87%. Na construção civil os a relação do salário de homens e mulheres é de 97%, índice maior, mas que se explica pelos salários mais baixos pagos nessa área de uma forma geral. A base de dados é de 2020.

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Disparidade

Para o delegado regional do Corecon e professor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e da Fundação Santo André; Antônio Fernando Gomes Alves, o estudo mostra que há desigualdade no mercado de trabalho. “Isso nos mostra a disparidade e o avanço que temos que fazer ainda em relação ao mercado de trabalho”, disse em entrevista ao RDTv desta quarta-feira (25/05) que também teve como convidado Luis Paulo Bresciani, que é coordenador da subseção Dieese no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, professor da USCS e da Fundação Getúlio Vargas. Ambos comentaram os resultados do boletim do Corecon e os resultados do seminário sobre o Futuro da Indústria no ABC, organizado este mês pela Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC.

“Quanto à desigualdade é importante destacar duas questões, o artigo mostra o quanto nós ainda temos de caminho para equilíbrio em relação ao salários percebidos para homens e mulheres, assim como temos essa mesma clivagem no que diz respeito a raça e cor com trabalhadores negros e pardos ganhando muito menos que trabalhadores brancos. O texto que eu abro esse boletim é justamente apontando para o movimento sindical no ABC ao longo da sua história e o protagonismo que ele tem numa luta que não é apenas por direitos, mas por desenvolvimento regional”, disse Bresciani.

Diferenças

O coordenador no sindicato também falou sobre as diferenças salariais em diferentes segmentos. “Na administração pública esse ‘gap’ salarial é menor, na construção civil ele também é menor, mas eu acredito que seja menor porque os salários sejam baixos nessa área em todas das condições, enquanto que na administração pública as estruturas formais, independentemente da condição de gênero ou de raça, são aplicadas para qualquer pessoa. Então estruturas de cargos e salários que sejam obedecidas independentemente da condição são muito relevantes e para isso é preciso negociação coletiva, isso não se faz com negociação individual. Se no ABC temos uma maior ou menor diferença salarial entre homens e mulheres acho o boletim atual não consegue medir, mas eu diria que em função de uma organização maior das principais categorias como metalúrgicos, químicos e bancários, eu acredito que a diferença seja menor do que o que a gente tem no restante do país”.

O delegado regional do Corecon também concorda com Bresciani sobre a organização sindical. “Eu acredito que a organização dos trabalhadores é o caminho. Nós precisamos também que as entidades representativas, passando pelos sindicatos e os órgãos de classe, tenham uma política que precisa ser construída conjuntamente. Não é à toa que a Agência (de Desenvolvimento Econômico do ABC) tem mobilizado os atores para discutir políticas públicas e políticas setoriais de forma integrativa. O que o boletim aponta é essa desigualdade que em alguns setores ainda permanece”, diz Alves.

Rentabilidade

O professor Antônio Fernando Gomes Alves, diz que a importância não está só na questão principal; a igualdade de gênero e tratamento e salários iguais para todos, mas também está na questão econômica. “Sabemos que o valor agregado e o adicional na área de serviços é menor do que em setores da indústria. Precisamos ainda elevar o valor adicionado na rentabilidade do trabalho, pensando naquilo que a gente pode mexer e criar renda para todos. Não é só pensar em crescimento, nós temos que pensar desenvolvimento e essa pauta precisa ser discutida por todos. Na mesa de negociação, em que se coloca essa pauta diante do cenário, nós precisamos entender que, se houver uma melhor distribuição todos ganham. Rentabilidade perfaz fluxo de bens e de serviços na região e desenvolvimento é pautado nisso. Essa rigidez distributiva nos ocasiona problemas crônicos, como inflação e aumento de preços, portanto não é somente pensar em avanço dos direitos, não dá para fazer uma discussão sobre desenvolvimento sem passar por uma melhor distribuição de renda”, diz o professor e delegado do Corecon.

Sobre o resultado do seminário da Agência de Desenvolvimento que foi a formação do Fórum da Indústria do ABC, Bresciani e Alves também concordam que esse é o caminho para a retomada do desenvolvimento e a recuperação do espaço que o setor industrial perdeu nos últimos anos. “Eu penso que sentarmos à mesa todos é sempre um bom caminho, a ideia de um pacto em torno do desenvolvimento econômico regional, relacionado com a relevância da atividade industrial, já que continuamos sendo o segundo pólo industrial do Brasil em termos de geração de emprego, com 175 mil postos de trabalho, esse é sim um caminho para desenhar soluções, que não é importante só para o ABC, é importante para o Brasil. A queda que sofremos no ABC na atividade industrial aconteceu em todas as regiões do país, que correspondem também a uma elevação da importação industrial. O nosso déficit na balança comercial chega a 50 bilhões de dólares por ano, que é o que deixamos de produzir, e nós podemos produzir . Então a ideia de ter um debate sobre o setor industrial, que não pode estar descolado do Estado de São Paulo e do Brasil, é fundamental para que a gente encontre soluções para a retomada do crescimento”, disse Bresciani.

“Acredito que temos que formar um banco de dados público em que possam ser inseridas informações das universidades e dos órgãos estatísticos. O ABC foi protagonista nos anos 50 como um marco estratégico e recuperar esse marco é chamar para o ABC a responsabilidade também. A gente tem que pensar que todo mundo olha para o ABC que é conhecido nacional e internacionalmente. A gente não pode mais só pensar local sem essa co-responsabilidade de uma política nacional”, disse Antônio Fernando Gomes Alves.

Para o próximo boletim, que será lançado em junho, o Corecon vai mirar a inadimplência e o endividamento das famílias e no segundo semestre serão abordados temas relacionados à polícia econômica para importação e exportação. “Para o mês de junho queremos trazer a questão da inadimplência e do endividamento. Isso é muito sensível, com essa inflação alta, com aumento dos preços e dos commodities. O boletim é um instrumento que as pessoas utilizem, mas o que a gente espera é que os nossos interlocutores produzam informação e queiram veicular conosco. No segundo semestre tentamos fazer o recorte dessa regionalidade que conversa com o internacional, entender a dinâmica do investimento, entender essa dinâmica da importação e qual o impacto disso dentro das nossas indústrias. A gente olha para o nacional com muita propriedade, mas olhar para o internacional requer uma análise mais cuidadosa para entender como isso se desenha”, conclui o delegado do Corecon.

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