A pandemia trouxe impactos em diversos setores como economia, trabalho, socialização, além do ensino. E no ABC, análise realizada pelo Observatório da Educação da USCS (Universidade de São Caetano) sobre o resultado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em 2020, demonstra que alunos da região que concluíram o ensino médio, neste período, apresentam deficiência educacional e encerraram o ciclo escolar com conhecimentos equivalentes ao 1º ano do ensino médio, como aponta o professor Paulo Sérgio Garcia, coordenador do Observatório da universidade, em entrevista ao RDtv, desta quinta-feira (28).
A análise faz parte de uma pesquisa realizada pela iniciativa da USCS, que segue em andamento. “Com os dados desse Enem, realizado no meio da pandemia, já podemos perceber que tivemos grandes perdas aos alunos da região, principalmente aos estudantes de ensino estadual. Já pudemos observar que houve queda de até dez pontos. Analisamos português e matemática, seguimos analisando outras modalidades”, explica Garcia.
Para o coordenador, o resultado é atribuído ao período de isolamento social, que gerou a necessidade de aulas à distância. “A pandemia é o fator que explica essa queda acentuada, nunca antes verificada. Ela deixou alunos fora da escola, sem meios para acompanhar as aulas, muitos se desinteressaram pelos estudos. Todos esses fatores explicam esses resultados”, afirma Garcia.
A pesquisa ainda analisará tópicos como raça, idade, nível socioeconômico, religião, entre outros fatores. “Mas já é possível identificar que os piores resultados estão ligados àqueles com nível social, renda e escolaridade dos pais mais baixos e profissão dos pais que são ligadas aos afazeres”, comenta.
Segundo Garcia, os conhecimentos adquiridos nos anos escolares, principalmente no ensino médio, são requisitos para que o estudante ingresse no ensino superior e a falta destes conhecimentos dificulta a continuidade da educação. “Parte da solução é criar projetos, programas ou monitoramentos que auxiliem o aluno e o ajudem a suprir o que faltou. Algumas universidades já se mobilizam para oferecer um reforço e ajudar o estudante a acompanhar a vida acadêmica”, diz.
Já para o ensino fundamental e básico, Garcia alerta a necessidade dos municípios em realizarem dignósticos dos seus alunos. “As cidades ainda não analisaram de fato o que e quanto perdemos, e qual é o ponto de partida para trabalhar essas perdas educacionais”, afirma. Os municípios possuem realidades, dados demográficos e problemas diferentes, por isso aprofundar o diagnótico escolar facilita a organização de políticas e projetos mais acertivos para atender as deficiências apresentadas por cada aluno.
A falta de um diagnótico faz com que a escola trate os estudantes com a mesma métrica, o que pode favorecer a desigualdade e distanciar ainda mais o aluno prejudicado, salienta o professor.