
O tema reciclagem de resíduos não é elencado como prioridade pelas prefeituras com o mesmo peso de questões, como saúde e segurança, mas o fato é ele que custa milhões de reais para as prefeituras ao depositarem os resíduos nos aterros sanitários. Algumas cidades não são transparentes quanto ao percentual de reciclagem de todo o seu lixo. Parte delas revela índices abaixo de 5%, quando 95% desse material poderia ser reciclado. Apesar dos investimentos na coleta seletiva, as iniciativas ainda são muito tímidas, na análise dos especialistas.
Para a bióloga, ambientalista e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes, todo o material que uma cidade produz, exceto o lixo infectante, pode ser reciclado. “Se isso fosse feito o mínimo iria para o aterro. Mas faltam ações de educação para a população; as pessoas precisam saber que não existe a fada madrinha do lixo, que não é só agitar uma varinha de condão que o lixo desaparece. Os municípios deveriam investir muito mais nessa questão da educação, com informação precisa sobre a destinação do lixo”, analisa.
Santo André
Em 2020, Santo André recolheu 11.396,91 toneladas de material reciclável e no ano passado 8.387,39 toneladas. Do total de material reciclável, só 60% é vendido para a indústria e o restante é rejeito. A queda no volume de recicláveis de um ano para o outro é atribuída à pandemia, que provocou desaceleração econômica e culminou na diminuição do volume de resíduos. Em nota, diz que, ainda, em consequência da pandemia, verificou que houve aumento no número de catadores informais, nas ruas da cidade e que também fazem recolha deste tipo de resíduo, como fonte de renda.
A nota do Semasa (Serviço de Saneamento Ambiental de Santo André) ainda programas que são mantidos pela autarquia como o projeto Meu Condomínio Recicla, que atende mais de 200 edifícios. No projeto, o edifício recebe a instalação de PEVs (Postos de Entrega Voluntária), equipamentos com saco de ráfia especialmente preparados para receber resíduos secos, e uma caixa de reciclagem para cada unidade condominial. Além deste há o Programa Moeda Verde, que troca resíduos recicláveis por alimentos do tipo hortifrúti, que está presente em 19 comunidades carentes. O Semasa também informa que vai construir mais 10 Estações de Coleta este ano, além das 20 existentes, e que mantém programas educacionais. A coleta seletiva atende 100% do município.
São Bernardo
São Bernardo informa que recolheu 12.051,25 toneladas de recicláveis em 2021 e 11.234,63 toneladas em 2020. Essas quantidades correspondem ao material reciclado coletado pela Prefeitura nos pontos de entrega voluntária, nos Ecopontos e no módulo porta a porta. A cidade conta com coleta seletiva porta a porta em 100% dos bairros e atualmente mantém parcerias com duas cooperativas para destinação dos resíduos recicláveis.
Em 2020, São Caetano recolheu 63.906 toneladas de resíduos sólidos e 1.580 toneladas de recicláveis, o que representa 3,53% do total. No ano passado coletou 57.428 toneladas de sólidos e 1.580 toneladas de recicláveis, 2,75% do total. O Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental) realiza a coleta seletiva com a distribuição de sacos amarelos para as residências e big bags para os condomínios com mais de 30 apartamentos. O material recolhido é direcionado para o Centro de Triagem da Coleta Seletiva, no bairro Prosperidade. Essa coleta atende 100% do município e passa uma vez por semana em todas as ruas da cidade.
Diadema
Diadema também não especifica quanto recicla do lixo. Informa apenas que 25,8 toneladas de material reciclável foram arrecadadas no ano de 2021 (9 de agosto a 31 de dezembro), a partir de um programa que atende experimentalmente apenas dois bairros da cidade com coleta seletiva de porta em porta, Centro e Piraporinha. Juntamente com quatro cooperativas de catadores, diz que vai ampliar a coleta para todo município, mas não informa a data. Em nota, a Prefeitura conta que desenvolve ações educativas. “Quando o Recicla Diadema for estendido para a cidade toda, a empresa contratada irá realizar a coleta e levar até os postos dos cooperados, para triagem e comercialização do material. As cooperativas são assistidas pela Casa da Economia Solidária, do município, que oferece assessoria administrativa, além de auxiliar em processos de formação desses grupos”.
Rio Grande da Serra não tem coleta seletiva, mas a Prefeitura adianta que se organiza para isso. “Trata-se de um projeto intersecretarial, no qual irá contar com a Secretaria de Verde e Meio Ambiente, Educação e Cultura, Saúde, Cidadania e Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico e Turístico, para a implantação de ações para o desenvolvimento do programa de coleta seletiva na cidade”, diz a prefeitura, que não informa prazo para início da coleta seletiva.
Já em Ribeirão Pires a porcentagem média de material comercializado pela cooperativa de catadores da cidade em 2020 foi de 1,08% e de 1,4% no ano passado. Segundo a Prefeitura, houve uma média de 24,73 toneladas de lixo por mês em 2020 e 31,06 toneladas mensais em 2021. A cidade monta uma estrutura para dar a destinação aos recicláveis. “Estamos em fase de instalação do primeiro ecoponto da cidade, além da coleta porta a porta que é realizada por dois caminhões, um da Cooperpires e um da Prefeitura. Essa coleta seletiva funciona todos os dias e atende 15 mil habitantes.
Aterros sanitários
Reportagem publicada pelo RD, no dia 27 de março, (https://www.reporterdiario.com.br/noticia/3079961/lixo-demanda-cada-vez-mais-espaco-e-no-abc-ja-ocupa-quase-500-mil-m%C2%B2-dos-dois-aterros/), mostra que o ABC tem 289 mil m² ocupados por aterros dois aterros sanitários, um particular, da Lara Ambiental, que fica em Mauá e que recebe lixo de várias cidades da região metropolitana, e outro que fica sob gestão do Semasa e só recebe o lixo da própria cidade. Os dois aterros receberam autorização recente da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) para ampliar suas áreas em mais 189 mil m², total de quase 500 mil m², um aumento de 65,4%.
Para o advogado especialista em Direito Ambiental e fundador do MDV (Movimento em Defesa da Vida do ABC), Virgílio Alcides Farias, a ampliação dos aterros sanitários demonstra a falta de investimento em ações de educação ambiental e de estímulo à reciclagem. Falta, segundo o especialista, a aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê que os aterros recebam apenas rejeitos. “O rejeito é apenas 5% de todo o resíduo que é produzido, o restante pode ser reciclado. Praticamente tudo que uma casa gera de lixo pode ser reciclado, mas é isso que os municípios não fazem e preferem pagar por tonelada para depositar nos aterros. Somente Santo André não paga porque tem aterro próprio, mas paga para transportar”, aponta.
Para Marta Marcondes ideias não faltam para que os municípios apliquem. Quanto ao lixo úmido, composto por restos de alimentos e cascas de frutas, as composteiras coletivas poderiam dar bom resultado. “Cada um leva o seu baldinho e deposita lá o seu material. E isso pode ser feito em qualquer terreno”. Quanto ao resíduo sólido é preciso uma postura para reduzir o material que vai para o aterro. “As prefeituras deixariam de gastar com aterro e sobraria mais para educação e para fomentar as cooperativas, e criar os agentes ambientais que passam de casa em casa explicando sobre o resíduo; é um processo educativo”, aponta. A professora da USCS diz que os municípios poderiam contribuir bastante com o tema criando benefícios fiscais para as empresas que investissem na logística reversa.