Tanto no meio acadêmico quanto na representatividade do comércio a expectativa quanto aos efeitos do aumento no combustível é de início de uma inflação galopante e de redução do consumo. Para falar sobre o assunto o RDTv desta segunda-feira (14/03) trouxe Antônio Fernando Gomes Alves, delegado regional do Corecon (Conselho Regional de Economia) e professor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e da Fundação Santo André; e Alexandre Damasio, presidente da CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) de São Caetano e diretor da FCDLESP (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de São Paulo).
Ambos destacam um cenário muito negativo para a economia nos próximos meses. “O consumidor já sente na bomba e, em cascata, virão os efeitos de uma inflação. A gasolina e o diesel, além de terem efeito direto são insumos para outros produtos. O impacto é imediato e de médio e longo prazo. Infelizmente temos essa projeção de uma inflação nos patamares que já estão elevados. A paridade de preços é uma situação muito importante porque não somos autossuficientes na produção de gasolina, somos sim de petróleo bruto, mas precisamos da importação. Quando se atrela o preço da gasolina à variação da taxa de câmbio nós estamos vendo aí o preço aumentar na bomba por uma determinação monetária do governo”, analisa o delegado do Corecon.
Alexandre Damasio, da CDL, aponta um fator muito importante que é o aumento de preços por conta de uma sensação de inflação. “Tem um fato muito danoso da economia, as sensações, nós temos uma política econômica que é muito pouco transparente, ela é muito onerosa para o varejo e para quem produz então o aumento do combustível escalona uma mentalidade inflacionária, e essa mentalidade é um bichinho muito danoso. Significa dizer que todo mundo tem seus reflexos anteriores e sabe o que vai acontecer quando aumenta combustível, diesel e modais energéticos, como o botijão de gás. Ele tem um efeito muito danoso no sentido da horizontalidade, todo mundo é pego, do pequeno ao grande restaurante; de que vende sapato a quem trabalha com moda; de quem vende hortifruti até quem oferece um trabalho mais tecnológico. É um clique para que o varejo e os outros setores da economia trabalhem com uma expectativa negativa e isso gera inflação. Esse é o nosso DNA de alta inflação no Brasil e isso já está acontecendo”, analisa.
O professor de economia lembra que a Petrobras é uma empresa de economia mista e tem garantido a rentabilidade dos investidores com a paridade do preço dos combustíveis com os do barril do petróleo no mercado internacional. É uma faca na jugular da Petrobras que tem que dar retorno aos investidores, esse é um fato. O segundo fator é o preço de paridade do petróleo é calçado numa esfera internacional. A taxa de cambio flutuante ela não consegue manter os preços estáveis para baixo e em real há uma desvalorização. Nós temos um governo que tem lucrado com a exportação de commodities então, além de não termos internamente combustível suficiente para a aguentar a distribuição, temos ainda uma balança superavitária em exportação de commodities”.
Para Alves a situação de alta nos preços do mercado já traz para os consumidores mais velhos a memoria da inflação galopante. “Resgatar esse elemento da memória inflacionária é danoso demais para o varejo, para o atacado, para a indústria, para serviços e aí a gente não consegue lidar com isso. Não estamos vivendo um momento de crise, estamos num momento de policrises. Para o pequeno empresário, aumentar preço significa voltar a uma inflação galopante como tivemos em décadas passadas”, salienta.
Para Damasio o varejo vai sofrer e reduzir a atividade econômica. “O combustível impacta sobremaneira a circulação de pessoas. Um eixo grande de varejo é feito de atendimentos de serviços ainda dependentes de pessoas. O varejo vive um momento de arrefecimento de vontade, um desânimo, que faz com que você não invista, o medo de não faturar faz com que mande pessoal embora, que não invista em novos produtos e novas vitrines. O consumidor vai deixar de fazer aquela viagem de carro entre 200 e 250 quilômetros de sua casa. Nos shoppings, que cobram estacionamento, a conta de gastos será mais racionalizada, porque o consumidor vai colocar na conta o gasto de combustível, o estacionamento e vai pensar se vale a pena ir ao shopping. Na compra online, quando nos deparamos com o valor do frete, vamos nos desestimular quanto à compra”, analisa.
Damasio e Alves criticam o governo quando a falta de transparência e previsibilidade, que prejudicam o mercado. “O governo, como órgão controlador de política monetária nacional, tem que cuidar dessa segurança. Essa instabilidade gerada, é um efeito onda que repercute no nível macro, no nível das cadeias produtivas, mas repercute também no consumidor”, diz o economista. “Não existe uma economia forte sem que as regras sejam previsíveis, tudo que se fala em flutuação é incerto, não tem previsibilidade, que se constrói com preço, e é um algorítimo objetivo. É impossível alegar que a Petrobras não tenha estudado um plano de aumento de combustível e se entrar no site da Petrobras esse plano não está disponível, então são surpresas as quais o mercado não consegue suportar”, conclui Damasio.