Por conta do próprio trâmite dos processos e porque, durante a pandemia da covid-19, a Central de Penas parou de funcionar, as ocorrências de violência doméstica registradas nos dois anos de pandemia começaram a chegar somente agora ao programa de E Agora José?. O programa oferece tratamento psicológico e socioeducativo aos homens suspeitos das agressões. O atendimento é gratuito e funciona em parceria com o Poder Judiciário e a ONG Entre Nós.
Dados estatísticos divulgados nesta sexta-feira (25/02) mostram que nos 38 municípios da Grande São Paulo (menos a Capital) foram registrados em janeiro deste ano três feminicídios, 836 lesões corporais em mulheres e 631 ocorrências e ameaça tendo a mulher como vítima. No mesmo período do ano passado um caso foi registrado como feminicídio, mesmo total de janeiro de 2020. Os casos em que as vítimas foram mortas só porque eram mulheres podem ser mais numerosos, pois a qualificação como feminicídio depende de fatores que nem sempre a polícia dispõe no momento do registro.
O atendimento do programa E Agora José? não parou durante a pandemia, apenas as reuniões passaram a acontecer de forma online, porém, com os homens que já estavam inscritos nos grupos antes da pandemia. Segundo o psicólogo e coordenador do programa, Flávio Urra, a demanda das situações ocorridas na pandemia já é atendida. “No ano passado conversamos com a juíza, que passou a nos encaminhar os casos diretamente, sem passar pela Central de Penas, que agora também já está voltando a funcionar. O homem recebe a intimação e já vai junto o nosso telefone, para ele agendar com a gente. No caso de medida protetiva, ele é convidado a participar, mas no caso de condenação ele é obrigado, pois faz parte da pena dele”, explica.
Urra conta que atualmente são sete grupos que o programa atende. São três grupos de apenados, com 10 homens cada, tem também um grupo que só faz reuniões pelo Whatsapp por dificuldade dos participantes aos aplicativos de videoconferência, tem ainda um grupo espontâneo, que é composto por profissionais de várias áreas interessadas em conhecer sobre o assunto, e tem até um grupo só de mulheres. Esse último foi formado diante do número de mulheres que procuravam o programa em busca de informações.
Há ainda um grupo só de pessoas da cidade do Rio de Janeiro, fruto de uma parceria com o judiciário de lá. “É um grupo só para o pessoal do Rio, porque o contexto de violência que eles vivem lá é diferente de São Paulo. Lá eles são de comunidades muito violentas e essa violência faz mais parte da vida deles. Lá a violência é maior, mas o machismo é o mesmo”, detalha Urra.
De acordo com o psicólogo, a pandemia trouxe novas nuances ao machismo e à violência contra a mulher. Segundo ele o tempo maior de convívio dentro de casa, pelo desemprego ou pelo isolamento social, favoreceram as situações de violência. “Alguns dos casos aconteceram mesmo por conta de muito tempo de convívio em casa. Mas a mulher é que tem que dar o limite, ela tem que escolher romper com futuras violências, muitas não têm consciência que estão em uma relação abusiva. A pandemia também não pode ser um pretexto para o homem impor sua vontade sobre mulher, como por exemplo, impedi-la de sair, usando como argumento que vão mexer com ela na rua”, comenta Urra.
Multiplicadores
O programa também tem um curso de formação de multiplicadores que está com inscrições abertas. Trata-se do 8° Curso Gênero e Masculinidades do Programa E Agora, José? que será realizado em 26 aulas, aos sábados das 8h30 às 12h30, com início em abril e que será realizado on-line.
Diferente dos grupos, este curso de formação de multiplicadores é pago, como uma forma de manter o funcionamento da ONG. O valor do curso é de R$ 1.050 que pode ser parcelado. O Programa “E Agora, José? Pelo fim da violência contra a mulher” realiza o curso desde 2015. São três edições no Consórcio Intermunicipal, uma edição em Itaquaquecetuba, região do alto Tietê, uma edição no Pátio do Colégio, Centro de São Paulo, as últimas duas versões foram on-line e aberta a mulheres e homens. Inscrição pode ser feita no formulário: https://forms.gle/rs853t968Wsv1rJZ9 .