O projeto IPH (Índices de Poluentes Hídricos) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), em parceria com o Coletivo Voz dos Rios, realizou uma expedição para coleta de amostras da água do rio Embu-Mirim. A atividade, com três dias de duração, foi realizada no fim de novembro e passou por 13 pontos de coleta ao longo do rio, nas cidades Itapecerica da Serra e Embu das Artes, da foz à nascente.
A análise parcial das amostras aponta que a qualidade das águas coletadas está de ruim a péssima. Além de bactérias, protozoários e vermes encontrados em esgoto doméstico não tratado (causadores de doenças, como gastroenterite e dermatites), as águas do rio Embu-Mirim também estão contaminadas com substâncias químicas ,como amônia, manganês, fósforo, fosfato, ferro e há indícios de fármacos micropoluentes (antibióticos, analgésicos, hormônios, entre outros).
Os micro-organismos são eliminados ao passar pelo tratamento das estações de captação de água, que abastecem as torneiras de diversas cidades. Mas, para pessoas que utilizam de forma direta as águas do reservatório da Guarapiranga, por exemplo, para atividades recreativas, o risco de contrair doenças é muito grande. Já as substâncias químicas encontradas não são eliminadas pelo processo de tratamento, e chegam às torneiras dos consumidores.
A professora Marta Marcondes, pesquisadora e coordenadora do IPH, afirma que o apelo para a redução de poluentes nos rios visa a garantia de saúde da população e do meio ambiente, além de evitar impactos na economia. “Ao poluir essas águas, o tratamento para que ela seja própria para consumo se torna mais caro, pois reflete nas taxas pagas por toda comunidade”, explica a pesquisadora em entrevista ao RDtv.
O Embu-Mirim é um dos braços da represa de Guarapiranga, que recebe parte da água da Represa Billings, formada no ABC. O reservatório Guarapiranga é responsável pelo abastecimento de cerca de 4 milhões de pessoas em todo Estado. E o local foi um dos pontos com água em nível péssimo de qualidade.
A expedição permitiu aos pesquisadores, além da coleta, o trabalho de escuta das necessidades do rio e debate com a comunidade que vive no entorno. Um dos momentos destacado pela equipe aconteceu em Embu das Artes. “Naquele ponto o rio está muito poluído, em estado de putrefação mesmo. Olhamos ao redor e percebemos que naquele ponto é possível ver instituições públicas, como a Cetesb, Delegacia Regional de Meio Ambiente e a Câmara de Embu. Foi ali que nos doeu ver o descaso com o assunto”, conta Ubimara Ding, gestora pública e membro do Coletivo Voz dos Rios.
O momento foi marcado pela comoção e reflexão dos pesquisadores. “Eu senti muita dor com aquela situação. O rio pede socorro, é um ser em sofrimento e as autoridades não dão atenção”, conta.
A nascente do Embu-Mirim, localizada em Itapecerica, foi o único ponto não poluído. As análises mostraram apenas a presença de bactérias ligadas à própria natureza. O local é protegido pela vegetação nativa, o que garante a qualidade da água. “Sentimos uma emoção muito grande ao chegar em uma nascente, pois esses locais são fontes de vida e provam para nós que a vida pode ser cuidada, preservada e amada”, diz Ubimara.
Após o fechamento da análise das amostras, o projeto IPH encaminhará relatório à Cetesb, Sabesp, prefeituras de Embu das Artes, Itapecerica e São Paulo, bem como Associação Guarapiranga e Preserve Itapecerica. Após a divulgação dos resultados, o IPH e o Coletivo Voz dos Rios abrirão debate junto ao poder público, a fim de encontrar soluções rápidas para a recuperação da saúde do rio Embu-Mirim.