No próximo dia 14 de novembro a Igreja Católica celebra o Dia Mundial dos Pobres, momento em que será realizada uma reflexão sobre ações solidárias para ajudar os mais necessitados. Com o aumento da pobreza e da fome no Brasil, a data será para refletir sobre os atos dos políticos sobre o tema. Ao RDtv desta segunda-feira (25/10), o bispo diocesano de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini, criticou os gastos supérfluos do governo federal e rebateu as críticas do deputado estadual Frederico D’Avila (PSL) contra a Igreja Católica, ao pedir aos eleitores ligados à religião que votem no parlamentar na próxima disputa eleitoral.

Até o último mês de setembro, a inflação acumulada dos últimos meses chegou a 10,25%, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o que gerou um aumento nos alimentos, por exemplo, o que gerou imagens de pessoas em filas para conseguir comprar ossos para se alimentar. Tal fato chamou a atenção de Dom Pedro, que considera que o País não tem se atentado ao cenário e ao seguir com gastos desnecessários por parte do governo.
O bispo usou exemplo de um economista (não citou o nome), que comparou o Brasil a um pai de família que compra fiado no supermercado, mas mantém gastos em restaurantes caros e viagens para a Europa, ou seja, não consegue alimentar a família, mas gasta com o que não precisa.
“O governo, em vez de cortar os gastos supérfluos, bilhões para campanhas eleitorais, bilhões para projetos que não são urgentes, para contentar o Congresso, os deputados e suas bases. O governo tem dinheiro, mas gasta enormemente em outras coisas e não quer cortar privilégios”, afirmou.
O atual cenário político nacional não anima Dom Pedro que não vislumbra grandes expectativas no curto prazo. “Eu não vejo muita perspectiva de melhora, não há uma vontade política de olhar o povo. Então, você vê ricos cada vez mais ricos, a custa de pobres cada vez mais pobres, pois vai se perdendo os direitos do trabalho, da estabilidade e a fome aumentando. Não está fácil”, seguiu.
Frederico D’Avila
Dom Pedro Cipollini também rebateu os ataques feitos pelo deputado estadual Frederico D’Avila (PSL) contra a Igreja Católica. Em sessão da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no dia 14 de outubro, o parlamentar chamou o papa Francisco, o bispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de “vagabundos”, “safados” e “pedófilos” por não concordar com o discurso de Dom Orlando contra o armamento, pauta defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no qual D’Avila é aliado.
O bispo diocesano de Santo André deixou claro que defende os eleitores católicos não votarem em Frederico nas próximas eleições e que tal fato pode gerar um problema ainda maior de divisão, algo que Dom Pedro critica em relação à polarização política que tomou conta do Brasil nos últimos anos.
“Nós estamos em uma situação social de barbárie, o nosso sistema educacional está falido e as atitudes de violência de divisão da sociedade, infelizmente, são muito profundas hoje. A ideologia divide, tudo é motivo de divisão, famílias divididas, ódio e isso não vai nos levar a construir uma nação feliz e justa. E qual é a missão da Igreja? A missão da Igreja não é política, a missão da Igreja é espiritual, é religiosa, é regar o evangelho”, disse Dom Pedro.
“Esse deputado que fez essa indecência, que desonra o legislativo estadual, porque a pessoa pode discordar do papa, do bispo, mas com educação, com civilidade. O que ele fez foi uma coisa horrorosa, uma falta de educação, uma baixaria total, porque o papa além de ser uma pessoa santa, ele é um chefe de Estado. Um político tem de saber se comportar para se dirigir a um chefe de Estado, então foi uma coisa horrorosa e isso daí para a honra da Assembleia (Legislativa) não deveria ficar no dito pelo não dito”, seguiu o bispo.
Dom Pedro respondeu positivamente à atitude dos deputados estaduais Carla Morando (PSDB) e Luiz Fernando Teixeira (PT), que entraram com processo por quebra de decoro parlamentar contra Frederico e torce para que D’Avila tenha o mandato cassado, algo que não considera como uma atitude de “vingança” por parte da Igreja Católica, mas de “justiça”.
Padre assessor
O bispo diocesano também explicou sobre como está o caso do padre Renato Souto, conhecido como padre Renatinho, que foi empossado há poucos dias como chefe de gabinete do vereador de Santo André, Rodolfo Donetti (Cidadania). Dom Pedro explicou que Souto enviou uma carta pedindo a suspensão de suas atividades como sacerdote, o que apesar dos pedidos para reconsiderar, acabou aceito.
Mas Renato Souto também pediu para que Dom Pedro enviasse uma carta ao papa Francisco para que o rompimento com o sacerdotismo fosse definitivo, o que ainda passará por análise. O bispo deixou claro que, caso Renatinho queira retornar à função de padre, isso passará pelo crivo e poderá ocorrer após um determinado tempo.