Por Susanna Artonov
15 de outubro, Dia do Professor! Profissão tão notável, relevante e fundamental para a constituição da sociedade com que sonhamos. Ser professor implica em olhar o mundo com múltiplas lentes, dentre as quais podemos destacar a visão técnica, política e humana.
Considerando a visão técnica, é necessário que haja formação inicial e continuada de qualidade, que instrumentalize o profissional com conhecimentos teórico-práticos que de fato atendam às necessidades da infância e da juventude na/da contemporaneidade.
O ensino obsoleto não cabe mais aos desejos e às necessidades de nossos educandos. Quantas vezes ouvimos: “Na minha época a escola era muito diferente…” Sim, certamente era diferente, o mundo era diferente. Tínhamos telemedicina, celular 5G e nanotecnologia? Não. Então, a dimensão técnica dos professores precisa acompanhar os avanços da sociedade para formar pessoas capazes de compreender o mundo de maneira crítica e agir nele de forma coerente, ética, solidária e competente (minimamente).
Quanto à dimensão política, destacamos a questão do professor ser exemplo. Exemplo de conduta, movido por atitudes críticas, éticas, responsáveis pela formação cidadã de seus educandos. A formação para a cidadania se desenvolve por meio da vivência de experiências democráticas.
Não estamos formando um futuro cidadão. Ele já é um cidadão. Não formamos para o futuro, portanto. O hoje é que é o tempo e o espaço de exercício concreto dessas aprendizagens. Em sendo assim, faz-se necessário promover a compreensão do mundo no qual estamos inseridos, tratando a cidadania, tanto dos professores quanto dos educandos, como processo de participação política, o que compreende capacidade de reivindicar seus direitos e cumprir seus deveres e agindo conscientemente a favor do bem comum.
E por fim, como alavanca fundamental das outras duas, está a dimensão humana, que abrange a afetividade, fruto do desenvolvimento das relações amorosas, generosas e respeitosas nesse universo tão delicado e especial: o da relação professor-aluno.
Quantos sentimentos, confidências, conflitos perpassam essa relação? O nosso patrono da Educação, professor Paulo Freire, em sua obra Pedagogia da Autonomia, encerra suas reflexões com o seguinte pensamento: “Ensinar exige querer bem aos educandos”. Querer bem, na concepção de Freire, não se limita e não se traduz pela pieguice e complacência, mas, para além, impõe-nos a necessidade do cuidar. Significa e inclui, portanto, o rigor do dizer não, orientar quando percebemos equívocos, significa dialogar de maneira plena e verdadeira, por meio sobretudo da escuta, adotando o paradigma muito conhecido que substitui o “falar para” pelo “falar com”. Não é uma simples troca de palavras; trata-se de uma mudança de concepção!
Professores são gente, e, como tal, também precisam de cuidado! A todas as lutas se somam ainda a da contradição de ora serem os heróis, queridos, respeitados, amados; ora vilões, ignorados, desrespeitados, desprezados. Superá-la é seguir reafirmando em si a escolha de vida que fizeram, seguir na tarefa de educar pela (trans)formação de pessoas que sejam competentes na construção da “felicidadania” para si e para todos.
Susanna Artonov é mestre em Educação e professora de Pedagogia da Universidade São Judas.