
Em visita ao Consórcio Intermunicipal do ABC nesta sexta-feira (10/09) o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) sugeriu que as sete cidades da região estudem a interligação da com a Capital através da represa Billings, numa rede de transporte hídrica. A notícia surpreendeu aos presentes pois não estava na agenda que integrava principalmente o ingresso do município de São Paulo no Consórcio como membro consultivo, e a discussão de pautas que interessam mutuamente a região e os paulistanos como o Piscinão Jaboticabal e o a linha de ônibus BRT que interliga as sete cidades ao Metrô.
O transporte hídrico é uma bandeira que Nunes sustenta desde quando era vereador. Em 2013 ele apresentou um projeto de lei na Câmara paulistana, que acabou sancionado pelo então prefeito Fernando Haddad (PT) no ano seguinte, criando o Sistema de Transporte Público Hidroviário de São Paulo integrado com o sistema de transporte de passageiros da metrópole. De acordo com o projeto o sistema seria implantado em leitos navegáveis de represas e rios da cidade, ligando terminais de ônibus e estações do Metrô. A proposta da medida é propiciar opção de meio de transporte alternativo seguro, econômico e rápido, além de melhorar e reduzir o trânsito na malha viária. O projeto ficou parado deste sua aprovação, mas com a sua ascensão a chefe do Executivo este ano, Nunes resolveu tirá-lo da gaveta e a proposta de discutir o tema regionalmente pode até criar um sistema de transporte não apenas entre bairros da Capital como também um transporte intermunicipal ligando o município às cidades de Diadema, São Bernardo e Ribeirão Pires, através da represa Billings.
A proposta foi colocada para estudo na reunião do colegiado de prefeitos e Nunes comentou apenas que seria “uma extensão do transporte hídrico da Capital para o ABC”. O prefeito de Santo André e presidente do Consórcio, Paulo Serra (PSDB) diz que essa é uma alternativa para o transporte dos 500 mil passageiros que se deslocam todo dia na região e para os 50 mil veículos que circulam entre o ABC e a Capital, somente pela avenida do Estado.

Para o professor de economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Volney Gouveia, que estuda desde 2018 uma alternativa de transporte aeroviário com a construção de um aeroporto no ABC, a proposta de uma hidrovia entre a Capital e a região é viável, mas terá que passar por um longo período de estudos quanto a sua viabilidade e, principalmente, quanto a minimização dos danos ambientais que poderia causar na região de mananciais. “Eu me surpreendi com essa proposta, mas ao se falar em transporte hidroviário tem que se ter certo cuidado; é preciso avaliar quais os impactos, entender qual o modelo será utilizado e como vai funcionar. Temos uma riqueza hídrica que poderia ser melhor aproveitada com os devidos cuidados. É um caminho a ser seguido sim, não me parece nenhuma sandice”, avalia.
Gouveia aponta que, da mesma forma que a proposta do aeroporto, muitos estudos e consultas a órgãos de regulamentação precisam ser feitos previamente. “É preciso estabelecer qual o tipo de embarcação, onde seriam as estações, qual a distância a ser percorrida e qual o tipo de energia, quem sabe usar energia solar, por exemplo, que é 100% limpa. Toda a alternativa, agora é benvinda pois em termos de modais de transporte alternativos estamos atrasados”, completa.