Estudo realizado pelas economistas Gisele Yamauchi e Vivian Machado e que integra a 18ª Carta do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) revela que, durante a pandemia o número de empresas criadas no ABC aumentou 38,9% ao passo que a oferta de crédito caiu 10,9%. A constatação é a de que a grande maioria destas empresas que foram criadas durante a crise sanitária não são empresas de fato, mas uma forma que o trabalhador encontrou para continuar no mercado, se constituindo como MEI (Microempreendedor Individual).
“O Brasil passa por uma reestruturação produtiva e em termos de crédito. Temos um aumento expressivo de micro e pequenas empresas ao passo que, no momento em que surgiu a pandemia, enquanto os países ricos aumentaram o aporte de crédito à população, assistindo sobretudo as pequenas médias e grandes empresas, no Brasil, não tivemos o acesso ao crédito. Os bancos privados foram mais exigentes para emprestar o dinheiro”, analisa Gisele. “Além de cobrar mais exigências, eles ainda queriam que fosse compartilhado o risco destes empréstimos. Enquanto não houve um sinal do Banco Central, do Tesouro, de um compartilhamento desse risco, eles seguraram muito esse crédito tanto que mais de 700 mil empresas fecharam no primeiro semestre no país, porque as pequenas não aguentam um mês se não tiverem receita”, completa Vivian.
Ainda de acordo com Vivian Machado metade dos recursos destinados a socorrer as empresa ficaram com as maiores, porque os bancos enxergam menos riscos nelas. As pequenas e médias empresas ficaram com um percentual muito pequeno do total de empréstimos de todo dinheiro que foi disponibilizado para os bancos e isso foi prejudicial para a economia porque elas geram muitos empregos. E vira um ciclo vicioso porque já se tem um desemprego alto e aumenta mais ainda com essas empresas fechando.
Para Gisele Yamauchi o governo demorou bastante para agir. Para ela o foco dos esforços deveria ter sido o socorro às empresas menores que, na somatória, são as maiores empregadoras. “Historicamente já há dificuldades de acesso ao crédito para as micro e pequenas empresas. Elas representam 30% do PIB (Produto Interno Bruto) e 55% da força trabalhadora, ou seja, 55% dos trabalhadores está dentro desse cenário dramático de acesso ao crédito. E todo mundo assistiu esse cenário de fechamento de pequenas e empresas o que é muito triste.
Vivian comentou sobre o crescimento do número de MEIs que chegou a 9 milhões, para ela esses CNPJs não podem ser considerados empresas de fato, é um empreendedorismo de necessidade, como o trabalhador que perdeu o emprego e teve que constituir uma empresa para trabalhar como motorista de aplicativo. “No final do ano passado a gente recebe a notícia de que 3 milhões de empresas foram abertas só que destas 60% eram MEIs, que não é uma empresa efetivamente, a grande maioria, é o empreendedorismo de necessidade, são pessoas que perderam seus empregos e, para voltar a ter uma atividade, precisaram se tornar um PJ (Pessoa Jurídica) para prestar serviço. Ela não é uma empresa, é uma pessoa que está precisando trabalhar e ninguém quer pagar encargos, os benefícios de uma contração CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) então ela tem que se virar. Então isso não é uma melhoria da situação é uma piora do mercado de trabalho, uma deterioração.
A conclusão das pesquisadoras sobre a alta do número de CNPJs e falta de crédito é a de que o apoio não chegou a quem mais precisava. “O crédito da região caiu, o que é impensável em período de pandemia quando tinha que ver os bancos trabalharem no sentido de apoiarem essas empresas. Dava para abrirem mão lá atrás das exigências”, concluiu Vivian Machado.