
A cultura e o lazer, em geral, caminham juntos, mas se os estabelecimentos, como bares e restaurantes já operam com menos restrições do Plano SP de combate à covid-19 – público até 80% e funcionamento das 6h à 0h, desde o dia 1° de agosto –, prontos para recuperar os prejuízos de um ano e cinco meses de pandemia, o setor de cultura não pode dizer o mesmo. Apesar de liberado para funcionar, com menos público, as bilheterias não cobrem os custos. Mas o segmento avalia positivamente o recomeço das atividades.
“Precisava recomeçar de alguma forma, senão as pessoas vão demorar mais para retomar o hábito de ir aos teatros”, diz Maximiliana Reis, que atua como produtora cultural e hoje é administradora do Teatro Gazeta, que fica no corredor cultural mais efervescente da Capital, a avenida Paulista. Para a atriz de São Bernardo, os espetáculos ainda não conseguem cobrir todas as despesas, porque sem poder receber a totalidade de público a bilheteria não garante a verba suficiente. Os espetáculos do Gazeta não contam com patrocínio como ocorre em outros espaços privados.
Maximiliana diz que é difícil se manter com as restrições e capacidade reduzida, pois os custos aumentaram com pessoal para o controle de entrada e a higienização. Exemplo é que alguns teatros continuam fechados, porque ainda não compensa abrir. “Já nós aceitamos voltar, mais para um aquecimento e com os protocolos sanitários. Nos últimos dias o público aumentou bastante, as pessoas sabem que a cultura é necessária”, avalia Maximiliana.
O Teatro Gazeta (http://www.teatrogazeta.com.br/) tem uma programação extensa para os próximos meses, vários destes espetáculos são infantis, além de apresentações de stand-up. Por ter pouco elenco e exigir menos pessoal técnico e de palco, é uma solução para evitar aglomeração atrás das cortinas. A modalidade é também a opção de Sônia Kavantan, andreense que tem produzido espetáculos por todo Estado. Sônia diz que as recentes medidas de abertura ainda não refletiram no segmento. “Vai ser uma volta lenta e vai demorar para chegar a um patamar de bilheteria razoável. As famílias também tiveram seu orçamento prejudicado, embora queiram sair, mas a cultura não é prioridade agora. Temos público, mas o potencial de bilheteria só irá se recompor em 2022”, prevê.
Sônia Kavantan considera que os estabelecimentos e os profissionais da cultura precisam retomar. “É hora de voltar sim, com todos os cuidados, até porque os patrocinadores não querem ver sua marca associada a aglomerações”, diz a produtora, que estreou sábado (7/8) o infantil A Casa Estranha. A peça fala de medo, mas não da pandemia, medo de crianças em torno de uma casa assombrada. Dirigido por Leonardo Cortez, o espetáculo já recebeu prêmio na Capital e tem recursos da Lei Aldir Blanc. Somente este espetáculo trouxe trabalho para 32 pessoas diretamente”, comenta a produtora. A peça pode ser assistida gratuitamente em: https://bit.ly/casaestranha
Sônia quer retomar os projetos de espetáculos itinerantes, como o Quem Prospera Sempre Alcança, que percorreu várias cidades do Estado, como São Bernardo, Santo André e Diadema no ano passado. A produtora aposta em stand-up. “Tem custo menor e é menos arriscado”, completa.
On-line
Os espetáculos on-line, nas fases anteriores do plano de prevenção à covid-19, garantiram ajuda financeira para o setor. O Proac (Programa de Ação Cultural) no Estado, através da lei Aldir Blanc, garantiu mais uma verba. Para Sônia, foi um paliativo, a cultura de verdade é o clima do teatro, a música, a expectativa de começar o espetáculo. Em casa tem o conforto, mas não é a mesma coisa, a emoção é outra. “É como comparar um jogo de futebol ao vivo e assistir pela televisão. Esse período está sendo difícil para os artistas e produtores. Muitos colegas entraram em depressão ou ainda estão ‘sem chão’. Eu, por exemplo, sou produtora do espetáculo Monólogos da Vagina, mas que não compensa colocar no palco porque só o que eu pago de direitos, não tiro da bilheteria”, comenta Maximiliana Reis. “As pessoas precisam sair, se encontrar”, diz Sônia Kavantan.
O que pode funcionar
Cinemas, museus, teatros e shows podem funcionar desde o dia 1° de agosto com público limitado a 80% da capacidade total e horário até 23h, com tolerância até a 0h, segundo a última alteração do Plano SP.

Na região, no entanto, as prefeituras, podem seguir exatamente o plano estadual ou serem mais restritivas. Em São Bernardo, o público máximo permitido é 60% da capacidade. Em nota, a administração municipal explica que estão mantidas as regras previstas no decreto 21.638/2021, que trata da Fase de Transição do Plano São Paulo. Pelo dispositivo, as atividades culturais, como cinemas, teatros, museus, parques e praças, públicos e privados, estão autorizadas a funcionar das 6h às 22h, com tolerância de uma hora, ou seja, até as 23h, e capacidade máxima de ocupação de 60%. O atendimento deve ser exclusivamente com agendamento. Eventos que provoquem aglomerações seguem proibidos na cidade. Já as apresentações de música ao vivo em restaurantes e bares estão liberadas desde abril, desde que com público sentado, assim como, observada as limitações de horário e público”, diz o informe. Foram lançados 19 editais através da lei Aldir Blanc que contemplaram 536 profissionais do setor cultural.
Santo André
Santo André recebeu R$ 4.305.000,00 da Lei Aldir Blanc e destinou R$ 4.072.779,77 aos artistas. Há sobra de 232.220,23, que será reprogramada para uso em 2021, assim que o governo federal regulamentar. Foram contempladas 381 propostas, sendo 51 espaços, 75 projetos e 255 prêmios. Além do recurso federal, o município aportou verba do tesouro em projetos culturais para manter o setor. O município abriu dois editais para contemplar artistas com recursos municipais. O primeiro contemplou 153 artistas (valor de R$ 200 mil) e o segundo 306 artistas (valor de R$ 400 mil). A cidade segue as regras do Plano SP, com limitação de no máximo 80% de público. O Teatro Municipal está fechado para reformas, já o Cine Teatro Carlos Gomes ainda está em obras.
Em Diadema, as atividades culturais são liberadas gradualmente. Podem funcionar espetáculos de música, mas somente com público sentado e capacidade de 80% do estabelecimento. Os estabelecimentos também estão sujeitos a lei municipal do barulho. O atendimento é entre 6h e 24h; limite de ocupação: 80%; acesso ao estabelecimento, só até as 23h, mas com atendimento permitido até meia-noite. A expectativa é reabrir, a partir da segunda quinzena de setembro, os eventos promovidos pela Prefeitura.
Quanto a lei Aldir Blanc, foram 400 beneficiados até agora. Diadema recebeu R$ 2.621.000,00 e cadastrou cerca de 400 artistas, produtores e espaços culturais, dos quais 230 foram contemplados em 2020 com os recursos transferidos ao município. Do montante, foram utilizados R$ 2 milhões em transferências para espaços, artistas, produtores e prêmios culturais. Com a alteração da Lei Aldir Blanc, que prorrogou o prazo de utilização dos recursos até o final de 2021, os recursos remanescentes, que totalizam R$ 665 mil, serão utilizados em um edital de projetos culturais, que deverá ser publicado ainda em agosto.