
O mercado imobiliário continua aquecido de tal forma que já é um dos poucos setores com contratação de mão de obra. Nem mesmo a tecnologia e o avanço dos negócios, celebrados pela internet, reduziram o contingente de pessoal nas imobiliárias. O movimento de vendas continua a seguir a tendência apresentada pela Acigabc (Associação das Construtoras e Imobiliárias do Grande ABC) no balanço do primeiro trimestre deste ano. Embora os números do semestre ainda não estejam fechados, o apontamento é de alta das vendas, com página virada da crise imobiliária dos últimos quatro anos, agravada pela pandemia.
Segundo Nílson Ferreira, sócio proprietário da Guaíra Imóveis, com escritórios em Santo André e São Bernardo, os resultados de vendas neste ano são tão bons que a empresa está permanentemente em busca de pessoal qualificado. “Estou no ramo há 34 anos e nunca vi um movimento como esse. Contratamos bastante, apesar dos processos hoje serem todos digitais, com menos papel. A gente precisa, por conta do volume de imóveis em carteira, ter mais corretores e mais pessoal administrativo”, diz. Somente nos últimos dois anos, Ferreira aumentou o quadro de pessoal em 25%. “Só de corretores temos 180 e todos com trabalho de casa, exceto quando têm que mostrar algum imóvel”, explica.
Preferência por casa térrea
Ferreira diz que alguns fatores favoreceram o crescimento. “Acredito que é uma combinação de fatores, são as taxas juros menores e a pandemia que trouxe a necessidade das pessoas adequarem suas moradia para o home-office”, analisa. O empresário conta que o perfil dos imóveis mais procurados tem mudado. “Hoje a procura grande é por casas e aquelas com quintal. Se as pessoas buscavam o apartamento pela segurança, hoje já abrem mão um pouco disso para terem um pouco mais de conforto e espaço”, comenta.
Os imóveis mais vendidos, segundo Ferreira, estão na faixa dos R$ 450 mil, e estas vendas ajudam também outros segmentos. “Em geral o cidadão vende um de R$ 250 mil e compra um de R$ 450 mil, e o que vendeu o de R$ 450 mil vai comprar outro mais caro. Essa cadeia tem favorecido até os imóveis de alto padrão”, diz. Na Guaíra os bairros mais procurados, em São Bernardo, estão no Centro e Rudge Ramos e, em Santo André, nos bairros Jardim, Bela Vista e Valparaíso.
João Rodrigues de Camargo Júnior, proprietário da ACamargo, imobiliária com sede em Mauá, concorda com a média de valores apontada. Os imóveis de R$ 200 mil até R$ 400 mil são os mais vendidos. “Eu achei que 2020 ia ser ruim, e no começo até foi, mas depois foi melhorando e passou a ser até melhor que 2019. Já 2021 já superou 2019”, compara. A preferência dos clientes, diz, é por casa térrea e com quintal, ou apartamento com sacada. “Esse movimento veio por conta da pandemia e pela facilidade de crédito, há muito crédito com taxas baixas, os bancos estão abrindo as portas”, comemora.
Na carteira, Camargo conta com mais de mil unidades em todo o ABC, Capital e Interior do Estado. Com o volume também enfrenta falta de pessoal para atender. “Tenho dificuldade para encontrar bons corretores, qualificados. Mudamos toda a nossa estrutura para o on-line, não tem outro jeito, tem que se modernizar e quem não fez isso vai ficar para trás. Mesmo assim precisa de gente, tem hora que tem que ser cara a cara”, diz o empresário, que tem fechado mais negócios no Parque São Vicente, em Mauá.

Locações
Os aluguéis não subiram, pois a pandemia forçou negociação com os proprietários que tiveram de reduzir os preços para manter os imóveis ocupados. Na carteira, Camargo tem mais de 200 imóveis e na pandemia negociou todos. Mesmo assim, com o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) alto, muitos proprietários perderam os inquilinos. “Portanto, sugerimos a negociação; quem não aceitou negociar perdeu o inquilino, que foi atrás de um aluguel mais barato”, afirma.
Milton Bigucci Júnior confirma o otimismo no setor. Afirma que o mercado está favorável desde o segundo semestre de 2020, que surpreendentemente foi muito bom. E o ritmo de melhora continua em 2021. “Apesar de uma leve alta nos juros ainda está muito favorável, eu vejo que o pessoal gostou de ficar em casa então teve um movimento de saída de um apartamento menor para outro maior. Tem ainda uma demanda reprimida, porque tivemos quatro anos de crise e aí 2019 terminou bom, 2020 começou bom, veio um baque com a pandemia, mas depois melhorou, então essa demanda reprimida vem muito forte”, compara.

O dirigente diz que com o avanço da vacinação e o retorno das atividades, o mercado ficará ainda mais animado. Acredita que alguns setores que não foram muito bem vão começar a se recuperar e, ainda, o investidor. Este, vendo que é um bom negócio comprar imóveis, porque o preço tende a subir pela alta demanda e pela alta dos materiais de construção, vai investir. “Além disso, os investidores também compram porque o aluguel residencial passou a ser um bom negócio, o que não era; o bom negócio era o aluguel comercial, mas com a pandemia isso mudou então os investidores compram para alugar e vieram forte para o mercado imobiliário, por isso todas as construtoras estão com lançamentos, nós da MBigucci íamos lançar cinco empreendimentos este ano, já lançamos quatro e estamos programando mais cinco até o fim do ano”, completa.