No mês em que se celebra mundialmente a luta contra a discriminação, a comunidade LGBTQIA+ ainda sofre a falta de políticas públicas na região. O Dia Internacional do Orgulho Gay e Lésbico (28 de junho) levanta bandeira para a resistência mas, acima de tudo, conscientizar a população sobre a importância do combate à homofobia, construção de sociedade livre e igualitária e que ‘abrace’ a todos.
Marcelo Gil, presidente e fundador da Ong ABCD’S (Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual), diz que a data é lembrada, principalmente, pela luta ao ‘grito da liberdade’. Para Gil, as batalhas travadas atualmente são para que exista comunicação entre os direitos da população LGBT com os movimentos sociais e o poder público. “Precisamos dar voz à população LGBT, garantir espaço dentro das prefeituras e ampliar o diálogo”, defende.
Marcelo Gil afirma que, entre as sete prefeituras da região, foi possível conseguir espaço somente em Santo André e Mauá nos últimos anos, no desenvolvimento de projetos. “Em meados de 2004 não podíamos sequer fazer uma reunião dentro da Prefeitura. Hoje, abrem as portas das secretarias para que possamos fazer shows da diversidade, Parada do Orgulho LGBT, uma parceria com a gestão municipal que vem desde 2012 e tem função muito importante”, diz.
Em Ribeirão Pires há o trabalho da coordenadoria de diversidade sexual, mas Gil frisa que há pontos falhos. “Colocaram um homem heterossexual na coordenação, ele não fala por nós, não representa a população LGBT “, diz ao contar que nas demais cidades sequer existe algum trabalho desenvolvido pelos municípios. Outra reclamação é sobre o Consórcio Intermunicipal Grande ABC. “Somos invisíveis para eles, a começar pelo GT, que não é composto por pessoas LGBT e que não desenvolve ação para nós”, diz.
Prefeituras celebram o mês
Para celebrar o mês da diversidade, Ribeirão Pires pintou, em maio, uma faixa simbólica nas cores do arco-íris, que representam o movimento LGBTQ+. Todo o material para a pintura foi financiado por doações arrecadadas pelo próprio Conselho de Atenção à Diversidade Sexual. Além disso, faz a entrega de preservativos em pontos de vacinação e reforça exames sigilosos de HIV, Sífilis e Hepatites virais (B e C).
Em Santo André, a programação para celebrar o mês será virtual. Dentre as ações, será realizado o 1º webinário voltado para profissionais de saúde, profissionais da educação e também para o público em geral. No dia 28, às 14h, acontece uma ação web com o tema Ser LGBTQIA+ e viver com HIV – Desconstruindo Estigmas. Para acompanhar, basta acessar o link meet.google.com/bbk-sjyc-wzf.
Já no dia 25, das 11h às 17h, equipes do Consultório na Rua e de Prevenção em IST/HIV/Aids farão ação com dicas e tira dúvidas, na esquina da avenida Industrial com a rua Sumaré. Na ocasião, serão realizados testes para HIV, distribuídos preservativos e outros itens de prevenção, tudo respeitando os protocolos sanitários e de segurança contra a covid-19.
Em nenhuma cidade da região há serviço de acolhimento para o público LGBT. Questionadas, as prefeituras reconheceram a necessidade de implementar uma linha de cuidado de acordo com as necessidades da população. Em nota, Santo André diz que foi criado um GT para “otimizar recursos já existentes para atendimento e, caso necessário, criará novas possibilidades de cuidado.
O presidente da Ong ABCD’s diz reprovar as atividades desenvolvidas pelas prefeituras, uma vez que são insuficientes para o público LGBT. “As ações no ABC para o público LGBT são um verdadeiro fracasso. Palestras eventuais e trabalhos de prevenção são ações mínimas. Não podemos associar o público LGBT a doenças como a AIDS, somos mais do que isso e precisamos garantir nossos direitos humanos”, defende. “As prefeituras precisam desenvolver ações de verdade, com políticas públicas para a população LGBT”, sustenta.
Casa Neon Cunha luta por espaço em São Bernardo
No mês da diversidade, diversos sindicatos da região decidiram se somar à data e lançar a campanha de arrecadação para Casa Neon Cunha, espaço de acolhimento a pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade em São Bernardo. O objetivo da Casa Neon é acolher jovens que foram expulsos de casa. “Os sindicatos sempre foram os primeiros a abrir as portas para atividades da casa, mas agora precisamos de mais. Já arrecadamos muito e estamos prestes a conseguir abrir as portas do nosso espaço para promover acolhimento e qualidade de vida para quem precisa”, diz Paulo Araújo, presidente da ONG.
Sindicatos como bancários, metalúrgicos e de servidores públicos de São Bernardo fizeram campanhas, na primeira quinzena de junho para doações da população. A campanha sindical se soma à movimentação recente de artistas, como as cantoras Daniela Mercury, Zélia Duncan, Linn da Quebrada, Liniker, Jup do Bairro e Urias, a atriz Claudia Raia, a ativista Jurema Werneck e o estilista Isaac Silva que já gravaram vídeos de apoio à ONG.
Sem espaço físico, a Casa Neon Cunha já tem atuação na região. No ano passado, a pandemia impôs a necessidade de remanejar esforços de captação de recursos para a montagem da casa e cuidado emergencial da população LGBTQIA+, que ficou ainda mais vulnerável. A ONG cadastrou cerca de 200 pessoas para prestar atendimento psicológico e jurídico e entregou 2.720 cestas básicas e kits de higiene ao longo de 2020. O trabalho foi possível com a colaboração de voluntários e parceiros.
Symmy Larrat, coordenadora da Casa Neon, diz que todos os dias se deparam com demandas de pessoas rejeitadas por suas famílias e abandonadas pelo Estado. “Por causa desde a mudança do nome até assistência social e de saúde, passando pela necessidade de um teto para retomar sua vida com dignidade”, diz Larrat, que também é presidenta da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos), maior organização pelos direitos LBGTIs da América Latina.
A Casa Neon Cunha pretende ser um espaço de acolhimento à comunidade LGBTQIA+, com oferta abrigo de passagem, além de atuação de rede para o resgate da autonomia e dignidade. Para isso, a casa irá oferecer serviços de orientação psicológica, social, jurídica, redução de danos e educação social, além de parcerias para promover a empregabilidade dessa população.
A Neon Cunha homenageia tem o nome inspirado em Neon, mulher, negra, ameríndia e transgênera. Uma das mais reconhecidas vozes da despatologização das identidades trans no Brasil e primeira mulher trans a denunciar violências na Organização dos Estados Americanos (OEA).
Campanha de doação
Para abrir a casa, a meta de arrecadação é de R$ 100 mil. A doações podem ser feitas por meio da plataforma Abacashi ou direto na conta da ONG:
Banco do Bradesco
Agência: 1844 – conta corrente: 71301-5
CNPJ: 37.211.131/0001-28
O PIX é o CNPJ: 37.211.131/0001-28