O comércio reagiu contra as novas medidas do Plano São Paulo de combate à covid-19 anunciadas nesta sexta-feira (22/01) pelo governador João Doria (PSDB). De acordo com o anúncio, a partir de segunda-feira (25/01) a maior parte do Estado – que inclui a capital e a Grande São Paulo – entra na fase laranja em que os bares não poderão atender presencialmente durante duas semanas e os restaurantes poderão funcionar até as 20h.
Nos finais de semana as medidas são ainda mais drásticas, pois o Estado inteiro entra na fase Vermelha, a mais restritiva do plano, com apenas os serviços essenciais, como farmácias, padarias, postos de gasolina e supermercados autorizados a funcionar. As medidas valem até o dia 7 de fevereiro.
São Caetano
Outra mudança do Plano São Paulo é que durante a semana, depois das 20h e até as 6h, todo o Estado entra na Fase Vermelha em que todo o comércio não essencial deve estar fechado. Alessandro Leone, presidente da Aciscs (Associação Comercial e Industrial de São Caetano do Sul) defendeu exatamente o contrário. “Não seria mais inteligente ampliar isso (horário)? Em vez de limitar em oito horas porque não ampliar para 24h? Se tem menos horas acaba concentrando mais pessoas nesse horário. Essas regras não ajudam o empresário no seu dia-a-dia. Qual o papel do governo municipal, estadual e federal na ajuda aos comerciantes? Em 2020 tivemos uma ajuda do governo federal, mas e agora como fica a segurança jurídica dos contratos?”, indaga o empresário que prevê o agravamento da situação dos comerciantes.
Leone disse que a diretoria da Aciscs vai se reunir para tentar um remédio jurídico para que os comércios da cidade possam abrir, porém ele acredita que uma decisão judicial favorável ao comércio seja muito difícil. “Vamos conversar com a diretoria, mas o que temos de concreto é repassar as informações conforme elas foram anunciadas, não vejo um instrumento jurídico para que as pessoas possam trabalhar. Tentamos uma liminar para funcionar no Natal o Ano Novo e não conseguimos. Vamos tentar organizar o setor, para que, de uma forma cooperada, possamos passa por mais esse desafio”.
Restaurante
O empresário e chef de cozinha Melchior Neto relata o quanto a situação é dramática no setor. Neto tinha três restaurantes em Santo André, mas um deles teve que ser fechado em meio à pandemia. “Medidas mais drásticas deveriam ser aplicadas lá atrás, na minha opinião. Além disso elas vêm castigando meu setor de forma devastadora. Estamos fazendo a nossa parte desde sempre. Agora fechar nos dias em que estávamos conseguindo sobreviver, sinceramente eu não sei mais o que será de nós. Sem o auxílio do governo piorou ainda mais. Nessa pandemia fechei umas das três casas e de 50 passei a ter 36 funcionários. Todos registrados”, descreveu.
Para Roberto Moreira, presidente do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), o anúncio foi mais um ato de perseguição com o setor desde o início da pandemia. “Parece que todo o mal reside nos bares e restaurantes. Entendo que os números da doença são altos, mas se o Estado tivesse fiscalizado mais durante as festas de fim de ano teríamos menos problemas. Faltou a mão firme do governo nas praias, por exemplo, onde os prefeitos resolveram não cumprir a orientação e ficou tudo lotado. Nós pedidos na Justiça a liberação para o funcionamento dos restaurantes até a 1h da manhã no Natal e no Ano Novo e nos negaram”, argumenta.
Segundo Moreira, cálculos do Sehal mostram que 30% dos estabelecimentos do ramo de bares e restaurantes devem fechar até o final de fevereiro. A estimativa é que a região tenha cerca de 12 mil estabelecimentos oficialmente registrados. “Se calcularmos uma média de 6,5 funcionários em cada um vamos ter aproximadamente 23 mil demissões só no ABC”, calcula.

Diadema
O presidente da ACE (Associação Comercial e Empresarial) de Diadema, José Roberto Malheiro, disse que o comércio já estava em dificuldades desde as duras medidas adotadas no ano passado e ele prevê que agora a crise será agravada. “A atividade noturna de bares e restaurantes será muito prejudicada. No final de semana é que eles faturam mais. Um comerciante me disse que o sábado é o dia que salva a semana dele, agora vai prejudicar muito mais”, disse o empresário. Malheiro combate a argumentação do governo de que as medidas vão frear o avanço da covid-19. “Não vejo o que isso vai ajudar, essa é a pior coisa a fazer e ainda vai prejudicar quem já estava cambaleante”, opina.
Mauá
Crítico ácido às medidas de restrição ao comércio desde o início da pandemia, José Eduardo Zago, presidente da Aciam (Associação Comercial e Industrial de Mauá) disse que sua opinião continua a mesma; é contrário a qualquer restrição ao funcionamento do comércio. “Infelizmente não temos nada a fazer, qualquer manifesto que organizar por aqui já nasce morto. Essas medidas não duras, mas não temos como ir contra o poder da caneta do governador, portanto orientamos os associados a cumprir, porque pode ter multa”, disse. O empresário tem uma reunião marcada na prefeitura com técnicos do governo na segunda-feira (25/01). A pauta era a reforma do Marco Zero da cidade, a mudança dos camelôs para o Boulevard e a segurança no entorno do Shoppinho, mas agora as medidas do governo se somam à pauta.
Shoppings
A Abrasce (Associação Brasileira dos Shoppings Centers) também divulgou nota de repúdio à medida do governo paulista. Os shoppings também serão afetados com funcionamento até as 20h durante a semana e não poderão abrir aos sábados e domingos.
Na nota a associação que reúne os 577 shoppings do país diz que a falha do governo em coibir as festas de fim de ano está agora penalizando o comércio. “É hora de assumir a responsabilidade. A Abrasce vê com indignação o impacto gerado por setores irresponsáveis, festas clandestinas e com aglomerações que não seguiram os protocolos sanitários e as normas públicas, o que ocasionou o descontrole da pandemia e o retrocesso econômico. Desde o início, os shoppings se uniram a instituições de saúde, assumiram a responsabilidade de cuidar do público e seguem como ambientes seguros”, diz a nota.
A Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo) também divulgou nota em que se posiciona contra as medidas. “O fechamento do comércio durante os dias pós Natal e pós Ano Novo mostraram que a medida em nada contribuiu para o objetivo visado, mas teve um impacto negativo muito significativo para as empresas atingidas, que já vinham fragilizadas pelo longo período de isolamento anterior. Impor novas restrições poderá implicar no fechamento definitivo de muitas empresas, com o consequente desemprego”, diz a nota.
O comunicado da Facesp, assinado pelo seu presidente Alfredo Cotait Neto, diz que o governo estadual prejudica a economia paulista de forma generalizada com as medidas impostas nesta sexta-feira (22/01). “O fechamento do comércio durante os dias pós Natal e pós Ano Novo mostraram que a medida em nada contribuiu para o objetivo visado, mas teve um impacto negativo muito significativo para as empresas atingidas, que já vinham fragilizadas pelo longo período de isolamento anterior. Impor novas restrições poderá implicar no fechamento definitivo de muitas empresas, com o consequente desemprego”, disse Neto.
Consórcio
Em nota, o Consórcio Intermunicipal do ABC informou que os prefeitos das sete cidades vão seguir as medidas. “Os prefeitos do ABC se reuniram, em assembleia extraordinária e decidiram que vão seguir as medidas propostas pelo Governo do Estado. Em relação às igrejas, o funcionamento será permitido com 50% capacidade e com 1,5 metro de distância entre as pessoas, respeitando todas as medidas de segurança e com uso de máscaras e álcool em gel. As prefeituras reiteram que a população deve continuar colaborando com o isolamento social e seguindo os protocolos de higiene, com o objetivo de reduzir a contaminação pelo novo coronavírus e evitar a sobrecarga no sistema de saúde nos municípios”, informou o colegiado de prefeitos.