O ano de 2020 terá como um de seus marcos os protestos antirracistas pelo mundo. Os pedidos para uma maior inclusão do negro na sociedade estão aumentando e não é diferente na política. No levantamento realizado pelo RD com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o número de candidatos afrodescendentes no pleito de outubro na região é de 12,82% – um pouco maior do que em 2016. A representação nas candidaturas a prefeito e vice quase dobrou por causa da colocação de mulheres negras na disputa eleitoral.
Há quatro anos o número de candidatos a prefeito, vice e vereador no ABC era de 3.293. Destes 66,4% (2.187) eram brancos, 23,6% (777) se declararam pardos, 9,94% (311) apontaram sua cor como negra. 0,5% (16) eram de origem asiática e 0,06% (dois) confirmaram sua origem indígena.
Neste ano, dos 3.828 nomes colocados na região 61,96% são brancos (2.372), outros 24,24% (928) declararam ser da cor parda, 12,82% (491) negros, 0,53% (20) asiáticos, 0,13% (5) indígenas e outros 0,32 (12) não apontaram qualquer informação sobre sua cor.
A alta da representação negra também é vista na disputa pelas prefeituras. Há quatro anos o número de negros como candidatos a prefeito e vice era de 5% dos 100 postulantes. 82% eram brancos, 11% eram pardos e 2% eram de origem asiática.
Em 2020, entre os 112 candidatos a cargos no Executivo, 11 são negros (9,8% do total), sendo destes cinco mulheres (quatro vices e uma candidata a prefeita). 76,8% (86) são brancos, 12,5% (14) são pardos) e apenas uma candidatura é de origem asiática. Não tem na lista postulantes de origem indígena.
O aumento da participação negra na eleição acontece na mesma época em que o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou que as verbas do fundo partidário e do tempo de televisão e rádio devem ser divididas igualmente entre os candidatos negros e brancos. A princípio tal regra já aprovada em agosto valeria para as eleições gerais de 2022, mas na última sexta-feira (2/10), os ministros aprovaram que a regra já valesse para este pleito.
A tentativa de melhorar a representação de afrodescendentes na política segue uma linha parecida com a que ocorreu em 2016 quando houve uma série de inserções comerciais nos veículos de comunicação falando sobre a importância da participação feminina nas eleições. Na época as mulheres já tinham a maioria das eleitoras no Brasil (51%), mas só 10% dos cargos públicos eram ocupados por elas.
Em relação aos negros no ABC, em 2016 foram eleitos 13 vereadores entre os 142 possíveis. No caso das mulheres foram apenas cinco eleitas pelo voto direto, sendo uma negra.
A tentativa de uma maior participação dos negros na política está chamando a atenção de alguns setores que aguardam essa representação. Em entrevista sobre o afroempreendedorismo no RDtv, o pesquisador convidado do Conjuscs (Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano), Sérgio Ricardo Gaspar, falou sobre a importância de uma maior inclusão na política para destravar medidas para os negros.
“Precisamos colocar o Estado como um elemento organizador da sociedade e o elemento organizador da sociedade sempre foi pautado pelo racismo estrutural. Vamos pensar que no município de São Paulo, pelo que eu me lembre, apenas teve um prefeito (negro) que foi o Celso Pitta. Isso na maior cidade do país. Agora se colocarmos o racismo estrutural dentro do Estado, então ele é o operador do racismo, ele que bloqueia em parte a própria legislação (para o afroempreededorismo)”, explicou.