Três cidades do ABC decidem liberar buffets, salões de baile e outros tipos de eventos sociais para funcionar. A primeira a permitir o funcionamento deste tipo de evento foi a prefeitura de Diadema em decreto publicado no dia 2 de setembro; Santo André publicou decreto autorizando o funcionamento a partir desta quinta-feira (10/09) e São Bernardo deve publicar nesta sexta-feira (11/09) a autorização. Infectologista ouvido pelo RD considera o momento errado para a permissão de funcionamento.
Em reunião no Teatro Elis Regina, em São Bernardo, o prefeito Orlando Morando (PSDB) assinou a autorização para o funcionamento dos buffets e outros espaços de eventos. A medida foi considerada uma vitória do setor que havia seis meses estava sem faturamento. O advogado do Sinhores (Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares) de São Bernardo, Humberto Gerônimo Rocha, avaliou que a reabertura é muito importante para o setor. “A abertura não é plena ainda é para eventos de no máximo 150 pessoas ou 40% da capacidade que consta do ABCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), mas o pior seria permanecer fechado por mais tempo. Da mesma forma que abriram os bares e restaurantes e os números da covid-19 não aumentaram, a gente entende foram seguidos protocolos e os buffets também vão seguir, pois se não tiver segurança o cliente não vem e, se piorarem os números, regredir seria mais duro ainda”, analisa.
Segundo o advogado do Sinhores, só São Bernardo tem aproximadamente mil estabelecimentos comerciais no segmento, e 20% deles são de grande porte. “É um avanço (o decreto que permite o funcionamento), mas os desafios são enormes. Tudo foi discutido com a administração municipal por meses”, disse Rocha. Na cidade os buffets infantis não poderão colocar os brinquedos em funcionamento.
Já o decreto de Santo André permite o funcionamento dos brinquedos. A empresária Adriana Faveri, dona de dois buffets infantis na cidade disse que os brinquedos serão restritos a poucas crianças por vez. “Se cabem dez, vão apenas 4 e vamos higienizar a cada utilização”, comenta. Para ela a autorização para funcionamento foi um grande alento, apesar de ter claro que os negócios não vão voltar ao normal tão logo. “A retomada é gradual e não vai ser do dia para a noite que vamos encher a agenda. Tem muita coisa a ser conquistada. Durante os eventos vai ter que ser mantido o distanciamento social, as únicas pessoas em pé serão os funcionários e crianças. Os nossos funcionários vão trocar de máscara a cada duas horas; compramos máscaras brancas e pretas para o cliente ver que ela foi trocada”, lista a empresária sobre os cuidados.
Adriana considerou que houve sensibilidade do poder público que aceitou o pedido do setor. “Ficou limitado em 40% da capacidade, mas atende bem os buffets, principalmente os infantis. Estamos há seis meses sem faturamento, estamos na pandemia ainda, mas não podemos deixar de celebrar a vida”, completa.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Santo André, Evandro Banzato, destacou que o decreto andreense não estipulou os buffets, mas falou em eventos sociais, justamente porque segundo ele há uma demanda muito grande para a volta desses setores. “O desenvolvimento econômico e social suporta a saúde, que suporta a vida, por isso entendemos que esse é o momento oportuno. Não colocamos apenas os buffets porque são tantas as especificidades, como por exemplo os salões de baile que fazem os eventos para a terceira idade, mas tem também os promotores de eventos, os Djs, quem trabalha produzindo doces e salgados, enfim essa foi uma decisão tomada com muita responsabilidade e pé no chão”, disse.
Banzato também salienta que é preciso uma parceria com a população para que denuncie os abusos para que a fiscalização possa agir. “A pessoas devem denunciar os locais que não estão respeitando todas as normas e poderemos punir com multa e até cassação do alvará de funcionamento, mas saliento que essa deve ser a última medida a ser tomada porque o setor já sofreu demais”, analisa. Segundo o secretário a prefeitura está monitorando os números da covid-19 e admite que, se houver um aumento do número de casos e de mortes, a prefeitura poderá “corrigir o curso”. “Percebemos que com a volta dos bares e restaurantes os números da doença continuaram em decréscimo. Por isso frisamos aos empresários e promotores de eventos que evitem aglomeração, conscientizando os clientes também sobre o uso de máscaras”.
O Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC) considera um avanço a publicação de decreto em Santo André permitindo a abertura de buffets. “Somos gratos ao poder público municipal, que se mostrou sensibilizado com a situação dos empresários desse setor e também acompanhou a luta para a reabertura, tão necessária depois de tanto tempo que permaneceram fechados”, afirma Wilson Bianchi, presidente em exercício da entidade. O Sehal disparou uma série de ações contra prefeituras e contra o Estado, e seguirá insistindo até conseguir o funcionamento de todos os estabelecimentos que representa. No último dia 4 de setembro, o Sehal ingressou com mais um mandado de segurança contra Estado de São Paulo, desta vez para permitir a abertura de buffets em toda a região. “Todos os recursos jurídicos necessários para viabilizar o tratamento igualitário entre os estabelecimentos serão usados”, explicam os advogados do Sehal, João Manoel Pinto Neto e Denize Tonelotto.
Médico
O médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC, Juvencio Furtado, avalia que este não seria o momento para a permissão de eventos sociais. “Óbvio que, com as pessoas em casa, o vírus não circularia, mas é impossível manter as pessoas presas por 6 ou 7 meses, é muito tempo, mas como fazer a abertura? Cada local tem que seguir um critério de acordo com o tamanho, mas como evitar em um evento social que as pessoas se aglomerem? Num evento que tem música como evitar que todos fiquem juntos? Uma festa por si só já é uma aglomeração. Eu acho que poderia ser postergado (a liberação para eventos sociais). Não consigo enxergar a necessidade de abertura o que cria um risco maior. O restaurante é uma coisa, pois as pessoas ficam restritas à sua mesa, mas numa festa é impossível manter o distanciamento social, é como dizer ‘ok se aglomerem’, pois a confraternização é o objetivo do evento”, avalia o médico.
Para o Furtado a volta dos buffets e outros eventos sociais deveria ser a última a ser permitida. “A liberação para os eventos sociais deveria ser no último momento, agora não seria recomendado pois no momento em que finalmente o estado tem o decréscimo de mortes é que devemos ser muito mais cautelosos”, analisou.
Prefeituras
As prefeituras de Ribeirão Pires, Mauá e São Caetano, ainda não definiram quando vão voltar, mas informam que a questão é analisada. Rio Grande da Serra não respondeu ao RD, mas até a noite desta quinta-feira (10/09) não havia novo decreto publicado nos atos oficiais.
“Informamos que houve uma reunião com os proprietários de buffets discutindo, entre outra coisas, o retorno e também os protocolos de higienização. Estamos balizando com o Plano São Paulo para editar um decreto, definindo a data para reabertura”, sustentou a assessoria de imprensa da prefeitura de Mauá, em nota. Ribeirão Pires disse que está “avaliando os protocolos específicos para a retomada gradual deste tipo de atividade, seguindo as diretrizes do Plano SP e regras rigorosas contra a covid-19”. Da mesma forma São Caetano informou que vai permitir a realização, mas ainda não tem uma data definida.