Virologista alerta para a necessidade do aumento de testes RT-PCR

No momento em que o ABC retoma gradualmente sua atividade econômica, se faz necessário a testagem em massa da população para mapear e conter a disseminação do novo coronavírus (covid-19). Em entrevista ao RDtv, o diretor do Núcleo de Doenças de vinculação Sanguínea ou Sexual (NDSS) do Centro de Virologia Instituto Adolfo Lutz, Luís Fernando de Macedo Brigido, alerta que para manter os níveis controlados entre as sete cidades, o exame ideal a ser feito em toda população é o RT-PCR, considerado o padrão-ouro no diagnóstico da doença, cuja confirmação é obtida através da detecção do RNA do SARS-CoV-2 na amostra analisada, preferencialmente obtida de raspado de nasofaringe (raspagem no nariz).

Ainda que não seja 100% eficaz, o método traz confirmação de 95 a 98% em novos casos da doença. “Por este método é possível analisar, via teste molecular, o RNA do vírus com um alto grau de especificidade, o que traz mais garantia para o teste diante aos métodos atualmente disponíveis”, explica o virologista ao lembrar que apesar da importância, as cidades não contam com a testagem em larga escala para testagens em massa.

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Para se ter ideia, desde o início da pandemia da covid-19, foram feitas 6.905 testagens de RT-PCR em São Caetano, sendo que destas 1.798 pessoas foram confirmadas com o vírus através deste método, 94,5% de total de 1.902 confirmações na cidade. Já via testagem rápida, das 30.341 pessoas que fizeram o exame, 1.333 foram diagnosticadas com a doença.

Enquanto isso, em São Bernardo foram realizados 37.475 testes no município, sendo 24.581 testes rápidos (sorologia), o que resultou em 4.552 positivados, e outros 12.894 testes de RT-PCR, dos quais 4.009 apresentaram resultado positivo, o que remete a 48% dos casos positivos na cidade. Segundo a Prefeitura, todas as unidades de Saúde possuem kit para a realização de ambos os testes, no entanto, o médico é quem decide qual testagem será realizada, de acordo com relato dos sintomas do paciente, sendo PCR indicado apenas para a fase inicial da doença, com resultado satisfatório do 3º ao 7º dia, a contar do início dos sintomas.

Questionadas, as prefeituras de Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Santo André não responderam sobre o número de testagens feitas na cidade até o fechamento da matéria. Dados das secretarias de saúde revelam que, nestas cidades, foram contabilizados 3.304; 2.218; 463; 202 e 6.548 casos da doença, respectivamente, até a noite desta segunda-feira (29/6).

São Caetano conta com esquema de testagens via drive-thru (Foto: Eric Romero/PMSCS)

Falso negativo

Neste modelo de testagem rápida feita nas sete cidades até mesmo em formato drive-thru, as testagens em massa são imunoensaios (em sua quase totalidade baseado em antígenos e anticorpos), o que, segundo o virologista, pode também apresentar grandes chances de falso negativo, em torno de 50%, além de não terem capacidade suficiente de detectar o vírus a partir do primeiro dia de contágio, o que pode alavancar ainda mais a onda de novos casos da doença.

O mais indicado para a realização, de acordo com o médico e a OMS (Organização Mundial da Saúde) é que os pacientes insistam em fazer o PCR, em casos de infecção do vírus. “Segundo os protocolos até de instituições internacionais, como CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças, Estados Unidos), é importante que se faça o PCR para controlar a doença, é o mais indicado. Aproximadamente 80% das pessoas contaminadas, não apresentam sintomas, mas podem sim disseminar o vírus de forma descontrolada”, alerta.

Para o médico, sem a testagem adequada, a população pode sentir efeito contrário do que se espera com aplicação em massa dos testes rápidos, pois, ao invés de controlar, se dará a percepção de uma “falsa segurança”, o que resultará em uma maior transmissão do vírus, principalmente no momento atual, em que a flexibilização ocorre em uma grande parcela de cidades do País, o que inclui o ABC.

Isolamento social

Após a aparição dos primeiros sintomas, o virologista alerta a necessidade de intensificação do isolamento social para que outras pessoas não sejam contaminadas. “O ideal seria que existisse testagem nas residências ou um espaço para que essas pessoas diagnosticadas pudessem ficar até a recuperação total, se pensarmos que, em sua maioria, as pessoas utilizam transporte coletivo para ir e vir fazer a testagem e o contato com outras pessoas se torna imensurável”, explica.

A recomendação é que, ao ir fazer a testagem, o indivíduo esteja munido de máscara de pano e álcool em gel 70%, além de redobrar o distanciamento social de outras pessoas. “O teste em si não demora pra sair, leva no máximo 48h, mas ainda que não haja a confirmação, é importante adotar as medidas clássicas indicadas pelo Ministério da Saúde”, orienta.

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