Pesquisa da UFABC usa análise do esgoto para monitorar covid-19

A UFABC (Universidade Federal do ABC) monitora os esgotos da região para estabelecer mapa da presença do vírus da covid-19. A coleta e a análise já são realizadas e a próxima fase do projeto é publicar os dados de forma georreferenciada, o que vai a rastrear o vírus e estabelecer políticas públicas, como circulação ou não de pessoas em determinadas áreas.

O trabalho é realizado também em outros estados do País, como Minas Gerais e Pernambuco. O professor da UFABC, Rodrigo Bueno, que coordena o trabalho em São Paulo, explicou como a pesquisa é feita durante entrevista ao canal RDTv. Bueno é biólogo e mestre em saúde pública. “O esgoto pode servir para marcadores patógenos. Podemos encontrar parte do RNA do coronavírus no esgoto e identificar os surtos virais. O primeiro trabalho aconteceu na Holanda onde acharam o RNA do vírus no esgoto e isso despertou pesquisadores no mundo inteiro, inclusive aqui na UFABC”, explica o professor.

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O RNA é uma parte do vírus e que vai parar nos esgotos com as fezes dos doentes, mas, segundo Bueno, não há estudos que comprovem que a covid-19 pode ser transmitida no contato com água de esgoto contaminada. “Mas como é tudo muito novo pode sair um estudo sobre essa contaminação o que seria muito preocupante para o Brasil, já que 46% do esgoto não é coletado nem tratado, isso pode trazer um grande agravo para a saúde pública do País”, diz.  Os estudos mostram que o vírus está inteiro dentro das fezes, já foi confirmado que pessoas foram contaminadas com o contato com as fezes do doente. O esgoto acaba por destruir o vírus, por causa dos detergentes e abrasivos, o que libera o RNA, que não passa a doença, mas é importante como um marcador.

Material é coletado para análise em um dos 10 pontos da região. (Foto: Divulgação)

Segundo Rodrigo Bueno, várias áreas do ABC já são monitoradas. Foram estabelecidos 10 pontos onde são colhidas amostras do esgoto para análise semanalmente. Dois dos pontos ficam nos campus da UFABC de Santo André e São Bernardo, o restante está distribuído entre Santo André, Mauá e Rio Grande da Serra. “Se a gente coletar e detectar, quer dizer que aquela comunidade pode ter algum assintomático, ou que ainda não percebeu os sintomas, mas está com o vírus, aí se pode tomar medidas de intervenção. Quanto mais pontos de coleta, mais alcance de medidas, e ações rápidas, o que traz vantagem econômica, em vez de testar todos”, explica.

O resultado do estudo, aplicado aos mapas da região poderá orientar medidas de restrição de circulação de pessoas e também flexibilizar quarentenas. “Monitorar  pode ajudar em ações de emergências, classificar regiões entre baixo, médio e alto risco e usar essa estratégia para liberação da movimentação de pessoas” diz.

A UFABC, em parceria com a Sabesp, determinou os pontos de coleta de acordo com os critérios da bacia onde se encontram, regiões mais vulneráveis, de baixa renda, de maior concentração de pessoas e onde se situam hospitais. De acordo com os primeiros dados na Estação de Tratamento do Parque Andreense e na ETE Mauá, nada foi encontrado, mas na Estação de Tratamento de Esgotos do ABC, que recebe grande parte dos dejetos da região, foi encontrado o RNA do vírus. Segundo o professor, como o volume é muito grande de esgoto, é difícil mapear de onde vem o vírus. “O projeto tem o viés científico, mas tem uma preocupação de informar a sociedade para a tomada de decisões, fazer boletins informativos georreferenciados”, afirma o coordenador da pesquisa, que faz coletas semanais com resultados. A próxima etapa é consolidação para a divulgação em mapas, disponibilizado no site da universidade.

 

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