O Governo do Estado anunciou na última quarta-feira (27/5) um plano de prorrogação da quarentena obrigatória com flexibilização gradual a partir desta segunda-feira (1/6). Entretanto, a medida que prevê cinco etapas de liberação – divididas por cores nas regiões do estado – vai contra o princípio do isolamento social com meta de achatar a curva de casos do novo coronavírus (covid-19) no Estado, o que foi defendido por grande parcela dos especialistas na área de Saúde.
Em entrevista ao RDtv, o presidente da Associação Paulista de Medicina (APM) de São Bernardo, João Eduardo Charles defende que do ponto de vista da ciência, não é hora de flexibilizar a quarentena, uma vez que o número de casos confirmados da doença continua a subir no Estado. “Do ponto de vista médico/científico a decisão é clara. Uma doença que se prolifera tão rapidamente como o coronavírus, merece atenção e o esforço para que as pessoas fiquem em casa”, defende.
Na contrapartida, o especialista relata que na questão econômica, é de se pensar uma flexibilização ainda que parcial para que as pessoas não sofram fortemente com os impactos ocasionados pela retração econômica e isolamento social. “Sabemos que enquanto estão em casa, as pessoas sofrem também sem a renda e com a instabilidade financeira, fatores que pedem uma discussão a respeito da quarentena”, diz.
A capital paulista foi classificada como em fase de controle da pandemia (laranja), ou seja, o município está em fase de atenção para eventuais liberações, ainda com algumas restrições a partir do dia 1º de junho. Nessa linha, devem ser parcialmente liberadas as atividades imobiliárias, escritórios, concessionárias, comércio e shopping center.
“A liberação deve acontecer quando há uma estabilidade ou diminuição de casos que chegue pelo menos a 50% da população, o que ainda não aconteceu. Caso contrário, a orientação é de que apenas as atividades essenciais ou casos isolados voltem a atuação neste período”, defende o especialista ao lembrar dos mais de 95 mil casos confirmados da doença no Estado.
Já o professor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Juvencio Furtado, defende que é necessário que as pessoas mudem os hábitos de higienização antes mesmo que haja uma flexibilização do isolamento social. “Evidentemente que permanecer em casa seria o ideal neste momento, mas, se forem flexibilizar e afrouxar a quarentena, a população deve manter a higiene em dia para que não haja um colapso na saúde pública”, afirma.
Para o educador, a doença ainda não chegou em seu pior estágio, o que pode vir a piorar nos próximos dias com a liberação parcial. “Aparentemente ainda não chegamos no pico da doença, e não sabemos como será com essa liberação. É necessário tomar as decisões com cautela para que a questão não impacte negativamente nos números”, alerta.
Ainda para que a liberação parcial ocorra sem riscos para a população, Furtado defende que haja maior investimento em testagens, aparelhos e monitores, suprimentos essenciais no tratamento da covid-19. “Ainda sofremos com a falta de testes para a população sintomática e assintomática. Se houver de fato uma liberação total, é essencial que todos os municípios estejam munidos de suprimentos básicos nos hospitais para dar conta da demanda”, completa.
Até o momento, o ABC, a Grande São Paulo e Baixada Santista, foram classificadas como na fase vermelha, em que nenhuma medida de flexibilização é permitida. Neste sábado (30/5) os prefeitos da região se uniram e pediram ao Governo do Estado uma revisão da medida para que o ABC seja incluso na flexibilização parcial a partir do dia 1º de junho, no entanto, o resultado deve sair somente na próxima quarta-feira (3/6).