As festas de rua, as chamadas pancadões ou bailes funk, continuam a ser realizadas em diversos pontos da região, já conhecidos pelas autoridades, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus (covid-9). Embora com menos frequentadores, centenas de pessoas, maioria jovens, participam dos encontros. Agora, além do incômodo à vizinhança, a venda de bebidas alcoólicas para menores e de drogas, há o aumento do risco de contaminação do vírus.
Quem mais sofre com a prática é Diadema, apesar dos mais de 500 casos confirmados e dezenas de mortos pela doença. Em nota, a Prefeitura informa que tem registro de 58 denúncias de pancadão entre 17 de março e 4 de maio. Houve apreensões de veículos por emissão de som alto e infração ao CTB (Código de Trânsito Brasileiro, além de flagrante de tráfico de drogas. O Paço diz que monitora os pontos conhecidos e os grupos responsáveis. “A Secretaria da Defesa Social coordena as ações que tem a GCM (Guarda Civil Municipal) como órgão que atua na fiscalização de veículos com som alto e inibição da realização dos pancadões. A fiscalização de bares realiza o controle do funcionamento destes estabelecimentos. As ações são feitas em dias alternados entres os órgãos de segurança”, informa.
Diadema tem bailes funk também no Morro do Samba, Núcleo 18 de Agosto e Vila Socialista. Um dos pancadões mais famosos é o Baile do Pombal, realizado todos os fins de semana, no bairro Serraria, em meio a edifícios de moradias populares. Um morador do local, que pediu para não ser identificado, convive com pancadões há muito tempo. Morador há 34 anos do lugar ele conta que os quem vive lá não tem direito ao sossego nos fins de semana, não conseguem entrar ou sair de seus apartamentos entre a noite de sexta-feira e a madrugada de segunda-feira. “Acho que esse é um dos maiores bailes funk do estado, aqui chega a reunir mais de 10 mil pessoas. Durante a pandemia diminuiu, mas continua acontecendo, pelo menos umas mil pessoas continuam se reunindo desrespeitando o isolamento social”, relata o morador.
No Baile do Pombal veículos com aparelhagem de som potente animam a festa e barracas clandestinas vendem bebidas alcóolicas durante a madrugada – vale ressaltar que está em vigor em Diadema a Lei Seca, que proíbe a venda de bebidas entre 23h e as 6h, e a regra só não vale para estabelecimentos autorizados. A venda de drogas, prostituição e a participação de menores nestas festas são rotina. “Aqui é um verdadeiro inferno, minha mãe tem 76 anos e tenho uma filha de 9, ninguém dorme, no dia seguinte tenho de trabalhar estressado e com sono. Se precisar socorrer alguém de madrugada, esquece, ambulância não entra e a gente não consegue sair. Já perdemos para o crime organizado”, lamenta o morador.
Migratórias
O tenente Alexandre Guedes, da Comunicação Social da Polícia Militar, explica que há grande dificuldade em combater essas festas de rua, porque a comunicação entre os organizadores é muito rápida. Quando a PM age em um lugar, as festas já estão em outro. “A festa é migratória, ao saberem que a gente tomou um local, eles vão para outro”, explica. Para se adiantar, a polícia faz monitoramento das redes sociais. No caso do Baile do Pombal os organizadores divulgaram no Facebook e no Instagram que as festas estão suspensas por conta da covid-19, mas os jovens continuam a se reunir no local.
Para Guedes, quando o baile já está estabelecido a ação é diferente. “A polícia evita o confronto, porque, na verdade são jovens que estão ali para se divertir por falta de outra opção de lazer. A PM fica ao redor e só age se tiver alguma denúncia de ocorrência da festa”, diz o tenente ao lembrar do episódio que aconteceu na favela de Paraisópolis, na Capital, em dezembro, durante o chamado Baile da 17. A PM chegou para dispersar o baile e houve confusão, correria e o saldo foram 9 mortos. “Aquela situação está sendo apurada na Justiça. O que aconteceu lá foi exceção. Importante é que não é só a PM que tem de atuar, é necessário um debate público, com a criação de novos espaços de lazer e a fiscalização dos bares”, afirma.
Na cidade, as denúncias sobre pancadões podem ser feitas para o telefone 190, da Polícia Militar, e os canais da Prefeitura, telefones 153, 4043-6330, 4075-8029 e 4053-7300.
Pontos viciados
Por meio de nota, Ribeirão Pires informa que não registra pancadões há dois anos, mas que mantém fiscalização. São Caetano diz que não possui o tipo de manifestação na cidade e Rio Grande da Serra não respondeu.
Em Mauá, ao menos quatro pancadões foram registrados após as medidas de restrição e isolamento social, segundo a Prefeitura. “Relata que todos foram demovidos pela GCM, com apreensões. Mas a cidade tem pontos viciados, que já são monitorados. “Nosso modo de ação é atuar com inteligência, monitorando mídias sociais, grupos de WhatsApp e com informações de pessoas que colaboram com a GCM, no intuito de chegar antes dos eventos começarem”, conta a Prefeitura, que tem apoio da PM. Também realiza campanhas para coibir a prática. O número para denúncia é o 153, da própria GCM.
Santo André teve 125 reclamações por excesso de ruído. Do total, 20% foram de festas em via pública, o restante eram festas em residências ou estabelecimentos comerciais. “Com o termo “pancadão”, foram ao todo 24 reclamações sobre perturbação em vias públicas, desde o início da pandemia. A cidade tem quatro pontos em que houve recorrência, monitorados pela Prefeitura. A Polícia Militar auxilia quando convocada. Com a pandemia, todos os esforços da GCM são na prevenção da criminalidade e redução de riscos à população. Apesar de a corporação trabalhar para realizar monitoramento de grupos ou indivíduos que promovem tais eventos, é de suma importância que a população participe com denúncias que podem ser feitas pelos telefones 153 (GCM) e 190 (Polícia Militar)”, informa.
São Bernardo mantém a operação Noite Tranquila, comandada pela GCM, com apoio da PM e de outras secretarias municipais. Foi criada em 2017 para combater festas irregulares enquadradas como perturbação do sossego público. “Atualmente, a cidade não conta com pontos viciados. Houve, ainda, ocorrências de perturbação ao sossego em bares no Areião e Rudge Ramos”, informa a Prefeitura. Para denunciar o morador pode ligar no 153 ou usar o aplicativo SBC na Palma da Mão.