
Quem comprou título remido, aquele em que não se paga mensalidade, para usar o clube do Grêmio Mauaense, vai ter que recorrer à Justiça para ter de volta o dinheiro que pagou. Com aprovação, em dezembro, de projeto de lei de autoria do prefeito Atila Jacomussi, o time de futebol devolveu para a prefeitura a administração do espaço que ocupava no Parque São Vicente desde 1986, rompendo o período de concessão de 50 anos. O motivo da devolução foi a falta de recursos para manter as atividades. O clube acumula dívidas que chegam a R$ 600 mil, segundo o presidente do grêmio, Marco Antonio Capuano, o Quinho.
De acordo com o dirigente esportivo em 1986 quando recebeu da prefeitura a concessão do espaço muitas melhorias foram feitas como a construção de dois ginásios e as piscinas, e por isso o local era muito procurado, mas ao longo dos anos a clientela foi diminuindo e o time de futebol que administrava o espaço ficou sem dinheiro para manter a estrutura. “Em 86 o grêmio bombava, tinha dia de sol que vinham mil pessoas para usar as piscinas, mas aí a cidade passou a ter outros atrativos, shopping, novos condomínios com piscina e o movimento foi caindo muito, chegando ao ponto da gente não conseguir pagar nem a conta de luz, que gira em torno de R$ 7 mil por mês”, comentou Quinho.
Para ele o retorno do clube para a prefeitura será bom para a comunidade do Parque São Vicente. “Quem ganha é o bairro, ainda mais que a prefeitura vai entrar com uma grande intervenção lá”, comentou o presidente do clube. A prefeitura tem projeto de transformar o espaço em uma Fiec (Fábrica Integrada Educacional e Cultural). Segundo Capuano os trâmites legais já foram concluídos e a prefeitura já está de posse das chaves do espaço. “Agora vai ser muito melhor aproveitado”, comenta.
A entrega do clube fechou a torneira de uma conta que não pára de aumentar. Segundo Quinho o Grêmio Mauaense conta atualmente com aproximadamente R$ 600 mil em dívidas que englobam débitos trabalhistas e dívidas fiscais. “A gente vem pagando, cheguei até a fazer um refinanciamento de uma dívida com as contas, mas a situação ficou difícil e não conseguimos pagar”, lamentou. Mas o presidente considera que a dívida não é muito alta e é possível de ser paga. “É só trabalhar na formação de atletas e vender, assim a gente vai pagando”.
Porém as dívidas do clube podem ser bem maiores do que contabiliza Capuano. Os donos de títulos do clube estão de posse agora de um documento que não tem valor, pois terão tanto direito de frequentar o clube quanto qualquer outro morador da cidade. Alguns querem o dinheiro de volta. É o caso de um caminhoneiro – preferiu que seu nome não fosse revelado – que investiu R$ 2 mil na compra de um título remido há cerca de três anos. “Acho que a prefeitura assumir vai ser até bom. Tivemos uma reunião na sexta-feira (14/02) com o prefeito, que nos disse que teríamos preferência no uso. Eu nem acho que devemos ter alguma prioridade, se é público tem que ser todo mundo tratado igual, porém o sentimento que fica é o de que fomos enganados, nos venderam um título quando o clube já estava ruim das pernas”, comentou. O sócio disse ainda que usava as instalações do clube e pretendia deixar o título para a filha. “Dois mil reais não é lá muita coisa, mas para nós que trabalhamos duro, faz muita falta”, comentou.
Capuano não se esquivou de falar sobre os sócios, mas disse que não tem uma solução imediata. “Não sei se pode (entrar na justiça para receber de volta o valor do título), mas acho que quem realmente gosta do clube vai ficar contente com as mudanças que a prefeitura vai fazer. Se alguém, porventura, entrar na justiça vai ter que ser contra a prefeitura”, avalia. Mas ele mesmo admite que não tem ainda uma fórmula para resolver a questão. Ele contabiliza que o clube deixou 2,8 mil sócios remidos.
Em publicação em sua rede social, em novembro do ano passado, pouco mais de um mês antes do entendimento com a prefeitura para a devolução do imóvel, o Grêmio Mauaense ainda vendia planos individuais, a R$ 149,90 mais R$ 29,90 de taxa de manutenção, e familiares a R$ 199,90 para o casal e R$ 59,90 a manutenção, além de R$ 9,90 por dependente. A mesma postagem contava com comentários de pessoas que reclamaram que o clube já estava em estado de abandono e com piscinas sem manutenção.