ABC - quinta-feira , 16 de maio de 2024

A difícil escolha na hora do resgate

Um idoso, uma criança, uma gestante ou um doente? Como escolher quem mais precisa de ajuda em uma enchente? É com um controle emocional e treinamento técnico que Natália Giovanini, primeiro-tenente do Comando de Aviação da Polícia Militar de São Paulo, conseguiu resgatar, em um procedimento considerado “cirúrgico”, a garota Ana Clara, de 4 anos, que ficou presa na Ponte da Freguesia do Ó, na zona norte da capital paulista, por causa dos alagamentos que aconteceram na segunda-feira desta semana.

“Foi um dia bem difícil na cidade, com vários pontos de alagamento. E quem conseguiu chegar ao comando já foi assumindo as aeronaves”, disse ela. Moradora do bairro de Santana, Natália optou por fazer o caminho até o Campo de Marte de bicicleta. Por causa do contato com a água da chuva, ela recebeu a orientação para tomar um antibiótico. Ao chegar ao aeroporto, encontrou o hangar alagado. “Então, algumas empresas ofereceram um espaço para que nossas aeronaves fizessem os pousos para reabastecer e continuar o trabalho de resgate”, contou.

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“Recebi um chamado referente a uma menina que estava ilhada na Ponte da Freguesia do Ó e estava precisando ir para o Hospital Samaritano fazer hemodiálise. Ela não conseguiria chegar naquele dia”, lembra a tenente, que pilota o helicóptero Águia da PM há seis anos.

A hemodiálise é um procedimento feito com uma máquina que limpa e filtra o sangue do paciente, ou seja, faz parte do trabalho que o rim doente não pode fazer. É indicado para pessoas com doença renal grave.

“Com ajuda de um agente dos bombeiros conseguimos pousar na ponte e colocamos a garotinha na aeronave. Como piloto, tento descontrair, né? Ana Clara ficou bem sorridente. Ela e a mãe, acredito, ficaram aliviadas quando decolamos”, descreveu a tenente Natália.

De acordo com registro do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o volume de chuvas que atingiu a capital paulista nos primeiros 11 dias de fevereiro em São Paulo já é o maior desde 1999. Foram 342,7 mm de chuva, superando em 37% o esperado para o mês inteiro.

A PM trabalhou com três aeronaves naquele dia e sete pessoas foram resgatadas, quatro com a ajuda de um cesto anexado ao helicóptero. “Tem de observar a segurança. Não adianta colocar todo mundo e a aeronave não conseguir subir”, explica a tenente Natália, que participou de outros casos, como o de Brumadinho, em Minas.

Reforço

Assim como ela, Missael da Silva, terceiro-sargento do 4.º Batalhão da Polícia Militar Metropolitana (BPMM), atuou como um reforço da equipe de bombeiros de São Paulo. No período da tarde, o sargento foi abordado por uma senhora na Rua 12 de Outubro, próximo da Avenida Marquês de São Vicente. A irmã dela, o cunhado e a filha de apenas 2 anos estavam no andar de cima de um sobrado. A cozinha, com todos os alimentos, foi tomada pelas águas e a criança estava sem comer há horas.

“Essa senhora disse que ligou para os bombeiros, pediu socorro, mas disseram que a prioridade era para quem estava com risco de vida. Não tinha mais viatura. Eu tenho uma filha de 5 anos e um bebê de 7 meses. E aquilo me tocou muito. Pensei em entrar na água, ir nadando e pegar a menina pelo ombro”, relatou o sargento. Nesse momento, Missael se deparou com uma viatura do Corpo de Bombeiros, que ofereceu um bote para chegar até a casa da família. Mais cedo, o sargento e a sua equipe participaram do salvamento de 30 pessoas que ficaram ilhadas em um ônibus em uma das pistas da Marginal do Tietê.

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