Em média, a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida no mundo. Os dados são da Organização Mundial da Saúde e refletem a importância de se falar sobre o suicídio para evitar que novos casos aconteçam. Diálogo para a prevenção é também o que defende Almir Vicentini, especialista em suicídio pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul, USCS, em entrevista exclusiva ao RDtv.
De acordo com o professor, em 2018 o Brasil registrou 11 mil mortes por suicídio, com aumento de 25% de casos entre adolescentes e jovens de 12 a 29 anos. Para o especialista, cobranças diárias por resultados, comparações entre conquistas e o ritmo acelerado da vida contemporânea podem ser algumas das causas que ajudam a compreender o fenômeno. “Quando você vai para as redes sociais, vê todo mundo muito feliz e perfeito e isso, na realidade, não existe”, afirma.
O suicídio, no entanto, é apenas o passo final de uma longa caminhada de autodestruição, que pode ser observada a partir de comportamentos introspectivos, depressivos e de risco, que envolvem isolamento, sofrimento intenso e, na maior parte dos casos, automutilação. Vicentini alerta para a necessidade de família, amigos e comunidade escolar estarem atentos a mudanças de comportamento que podem indicar que algo não vai bem. Entre os sintomas que podem ser observados e indicam alerta estão o comportamento social mais reservado, ligação extrema com vida virtual e uso de roupas que escondam determinadas partes do corpo, como os braços, em dias cujo clima não condiz com a vestimenta.
Ao perceber esse tipo de situação, a abordagem deve ser cuidadosa e respeitosa, para que a criança ou jovem possa se sentir acolhido e se abra para receber ajuda. Cobranças excessivas e declarações que evidenciam que a vítima tem boas condições de vida e que, por esse motivo, não deveria estar deprimida e comentários que diminuam a dor do outro devem ser evitados pois podem agravar a situação. “Não é esse diálogo que vai confortar o jovem em um momento de crise”, alerta Vicentini. O especialista complementa com a recomendação de que os pais escutem de fato os filhos e, em conjunto, tentem encontrar soluções para aquele problema que, para o jovem, parece intransponível. “Você tem que estar sempre junto e dizer para ele ‘vamos buscar soluções juntos. Respeito sua dor, sei que ela é legítima e, portanto, estarei junto com você a cada momento”, recomenda.
As escolas também devem se atentar a comportamentos de risco dos alunos e, se possível, trabalhar com questões socioemocionais como discussão de valores, excesso de cobrança e ansiedade, troca de saberes e empatia. Também é importante que haja intercâmbio com os pais para que seja debatida a forma mais eficaz e menos agressiva de cobrar por bom rendimento, sem fazer com que o aluno fique deprimido e ansioso. A comunidade escolar também deve ser acolhedora para aqueles alunos que já enfrentam problemas e apresentam comportamentos mais agressivos, uma vez que a exclusão não é o melhor caminho. “É muito mais simples tirar essa pessoa do convívio escolar […] Hoje você está acusando o vizinho da esquerda, mas não sabe o que se passa dentro da cabeça de seu filho”, reflete.
O interesse por entender as questões que levam um indivíduo ao suicídio levaram Vicentini a criação da pós-graduação em suicidologia, em setembro deste ano. De acordo com o professor, apesar de ser um tema sensível, a procura foi grande e, em cinco dias, uma turma composta por 70 alunos já havia sido formada. Podem se inscrever para a pós-graduação profissionais de qualquer área que tenham interesse no assunto, desde que já possuam habilitação em algum curso de nível superior. A próxima turma, 4ª do curso, tem previsão de início em abril de 2020. Ao todo, a carga horária é de 420 horas, ministradas uma vez por mês, de forma presencial, em um sábado e um domingo, cada um com dez horas de curso.
Entre os temas abordados estão estudo de casos, prevenção, posvenção e processo de luto, já que, para quem conviveu com alguém que se suicidou, muitas vezes fica o sentimento de culpa. Para se inscrever no curso basta acessar o site www.posuscs.com.br e clicar na aba de psicologia. Mais informações também podem ser obtidas pela plataforma.