A discussão em torno da construção de um aeroporto no ABC já dura sete anos, neste período ainda não se fez um projeto inicial, mas desde que, em 2017, o assunto ganhou estudos mais objetivos conduzidos pelo professor Volney Gouveia, titular da disciplina de Ciências Aeronáuticas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), a situação mudou de figura; debates e workshops já foram realizados com a participação acadêmica, governamental e privada visando avançar as tratativas. Já se tem uma área em vista e uma estimativa de custos que demonstram a viabilidade econômica de um empreendimento do tipo, mas o mais importante é que, com o sítio aeronáutico, a região possa revitalizar o seu parque industrial, fomentar a economia como um todo além do enorme potencial de geração de empregos.
Tudo que envolve a construção de um aeroporto está ligado a números grandes. O aeroporto de Congonhas, por exemplo, tem 1,6 Km². A área em vista para a construção no ABC, entre as rodovias Anchieta e Imigrantes, em São Bernardo, tem dez vezes este tamanho. Todo o projeto de construção, custaria R$ 1,1 bilhão, mas o retorno seria de R$1,8 bilhão, segundo cálculos do professor da USCS.
“É possível pensarmos no projeto de aeroporto para o ABC principalmente num contexto de muitas transformações econômicas pelas quais a região vem passando. Nós temos assistido um processo de desindustrialização e uma reconfiguração da atividade industrial e econômica das sete cidades e nós da USCS temos nos debruçado sobre os desafios do desenvolvimento regional. Então recuperamos essa agenda do aeroporto oferecendo uma alternativa para novos caminhos de desenvolvimento local. A região tem todas as condições; se pensa no aeroporto como uma infraestrutura de embarque e desembarque, mas ele extrapola essa função básica é um vetor de desenvolvimento perene, que mobiliza um conjunto de fatores e que mexe com a dinâmica de uma região”, diz Volney Gouveia.
Para o professor o aeroporto do ABC atenderia a demanda crescente do mercado aéreo por nova infraestrutura de transportes diante da limitação dos aeroportos da Grande São Paulo que é o caso de Congonhas e Guarulhos. O perfil do aeroporto que se pensa para a região também já foi definido. “Seria um aeroporto nos moldes de Congonhas objetivamente, com operações domésticas, voos regionais com passageiros e movimentação de carga também. Hoje em dia é praxe no mundo, todas as empresas aéreas comerciais explorarem o segmento de carga porque elas não conseguem usar toda a capacidade de peso disponível só com passageiros”.
Gouveia rebate críticas de quem considera inviável a proposta por conta da proximidade da região com Congonhas. “Vou dar o exemplo de Londres que tem 40% da população de São Paulo, cerca de 8 milhões de habitantes e tem seis aeroportos, todos eles equidistantes, em pontos estratégicos. O projeto do aeroporto do ABC vai fazer parte deste círculo, não para competir com Congonhas ou Guarulhos, mas para complementar os que já existem, atenderia toda a baixada santista, o interior de São Paulo e além da própria região, desafogando Congonhas”, analisa.
Impacto
A construção de um aeroporto principalmente na área proposta, que é de mananciais, terá que passar por um longo processo de licenciamento ambiental, o que para o professor é natural e não será impeditivo para o projeto. “Uma obra como essa pressupõe a realização de um estudo prévio de impacto ambiental e de análise de solo. Nas discussões que temos feito com colegas de engenharia e arquitetura isso é plenamente factível. Os estudos de impacto são importantes, mas que não impedem a realização deste empreendimento. Num segundo estudo em que vamos avançar é avaliar qual é o perfil de solo da região”.

Os setores beneficiados com o empreendimentos são inúmeros, o primeiro e um dos principais é o da construção civil. “Temos uma vantagem competitiva importante na construção civil, depois vem o setor petroquímico já que um aeroporto usa muito combustível e temos no ABC uma indústria consolidada. Os setores de serviços como locadoras de carros, rede hoteleira, restaurantes vem em seguida. Outro segmento bastante importante é o da própria indústria aeronáutica, um aeroporto vai atrair empresas desta cadeia e seria uma tentativa de contribuirmos para uma reindustrialização do ABC”, prevê Gouveia. “Já temos uma discussão importante no Consórcio Intermunicipal, o que precisamos é de uma participação mais ativa das prefeituras, das associações comerciais da região e até de pessoal da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) nos próximos debates”, finaliza.