O suicídio ainda é uma das principais causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos, responsável por deixar ao menos 40 mortos neste ano na região. Diante dos números e do aumento considerável de casos de depressão entre jovens, a campanha nacional de conscientização lançada em 2015, o Setembro Amarelo, ganhou nova entonação e foi inserida na pauta das escolas.
Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) revelam que a cada três minutos alguém se suicida no mundo, enquanto no Brasil uma pessoa tira a própria vida a cada 45 minutos. Tendo em vista o aumento de ocorrências, a psicóloga Ana Carolina de Arruda alerta que em locais onde há convívio direto com crianças e adolescentes é necessário que todos estejam atentos a sinais que indiquem que algo não vai bem, como tristeza intensa, isolamento e falta de empolgação para exercer as atividades do dia-a-dia.
Queixas como falta de atenção de pais e professores, problemas familiares e uso excessivo de celular são alguns dos gatilhos apontados pela psicóloga. “O ser humano precisa de contato físico e afeto, coisas que não se tem pelo celular”, analisa. Dentro do ambiente escolar, Ana Carolina indica jogos, dinâmicas e rodas de conversa que tenham fundo de conscientização, ações que o Colégio São José, em Santo André, já desenvolve, desde 2018, em diferentes abordagens. Desde a educação infantil, alunos são incentivados a falar sobre sentimentos e, no ensino médio, momento de transformações mais turbulentas, os estudantes têm roda de conversa semanal, com debates sobre depressão, ansiedade, transtorno de escoriação e comportamento de risco, entre outros assuntos.
Para lidar com as questões e conseguir que o aluno se expresse, a escola recorreu ao Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), que ofereceu capacitação à coordenação e direção para replicar aos professores. “O maior retorno tem sido saber o quanto os alunos agora entendem a escola para poder falar, expressar sentimentos e confiar e que há disponibilidade para ouvir e acolher. É a empatia”, resume Iolanda Benedetto, diretora que media as rodas de conversas com a coordenadora do ensino médio, Adriana Pellegrini. “Queremos fazer com que se sintam acolhidos, desconstruir a escola apenas como espaço de conteúdo”, afirma Iolanda, que já fez cursos sobre transtornos de ansiedade e psiquiatria para educação.
No Liceu Monteiro Lobato, também em Santo André, alunos e funcionários se juntam em ações de conscientização que ocorrem entre 9 e 13 de setembro. Crianças da educação infantil ao 9º ano participam de dinâmicas para exaltar particularidades de cada ser humano e estimular o cuidado com o próximo. O destaque da programação vai para o Painel dos Dois Lados, no qual alunos e funcionários depositam palavras e sentimentos bons, que podem ser retirados por pessoas que precisem.
No Liceu Jardim, as atividades foram organizadas pelos próprios alunos. No dia 10 de setembro, no intervalo das aulas, alunos do ensino fundamental II e médio organizam flash mob no pátio com apresentação de música e distribuição de laços amarelos, símbolo da campanha. No dia 12, a escola organiza palestra sobre saúde mental. Com a iniciativa, a expectativa é unir estudantes para que troquem experiências e percebam problemas entre os colegas. (Colaborou Leticia Vasconcelos)
Redes oficiais fazem acolhimento
Na maioria das escolas municipais da região, o tema suicídio não fica restrito apenas ao mês de setembro, mas é abordado constantemente em acolhimentos, grupos e oficinas terapêuticas. Em casos de mudança no comportamento, sinais de ansiedade, depressão e até potencial de suicídio, os professores das escolas de Mauá, Santo André, São Bernardo e São Caetano conversam com os alunos e fornecem acolhimento.
Entre os principais relatos estão problemas de autoaceitação e sexualidade. Em Mauá, além do acolhimento, palestras com psicólogos e painéis com frases que aumentem a autoestima reforçam a ação. São atitudes de conscientização que, na visão do psiquiatra Alceu Giraldi, da clínica Pro Mens Sana, em São Bernardo, fazem a diferença no diagnóstico. “Cerca de quatro pessoas vão parar no pronto-socorro por tentativa de suicídio todo dia. É fundamental a ajuda de quem cerca a pessoa com transtorno para redução dos índices”, afirma.
Nas 19 Emeiefs (escolas municipais de educação infantil e ensino fundamental) de Santo André, onde são atendidos jovens e adultos entre 15 anos e 80 anos, serão desenvolvidas atividades como conversas em sala de aula, palestras e distribuições de fitas e balões.
Estar atento ao clima entre os colegas e zelar pelo bem-estar também são diretrizes do projeto Amigo Anjo, realizado por oito alunos do ensino médio da Escola Estadual Educador Pedro Cia, em Santo André. Na atividade em cada sala de aula, há um aluno que atua como ‘anjo’ e cuida dos demais colegas que passam por dificuldades.
Região registra 40 suicídios e 1.258 tentativas
Somente neste ano, 40 suicídios e outras 1.258 tentativas foram registrados em cinco das sete cidades da região. Em relação a 2018, o número de pessoas que tiraram a própria vida foi relativamente menor, variação de 46,8%, com suicídio de 78 pessoas. Ainda com números altos, o CVV (Centro de Valorização da Vida) trabalha para reduzir as ocorrências.
Por meio do telefone gratuito (188), presencialmente ou site www.cvv.org.br, voluntários atuam na prevenção do suicídio com atendimento anônimo a quem sofre com transtornos mentais. Entre as três unidades onde o CVV atua (Santo André, São Bernardo e São Caetano), são mais de 7 mil contatos ao mês, especialmente na madrugada, período de maior procura. “À noite, as ligações são mais carregadas de sentimentos e podem fazer que com a chamada demore mais, de cinco minutos até duas horas de conversa”, conta Milton Kagohara, coordenador do CVV em Santo André.
Especialmente em setembro, quando há aumento de pelo menos 20% no número de ligações, as unidades reforçam a necessidade de novos voluntários. “Precisamos de ajuda para dar conta de todos os atendimentos”, diz a voluntária do CVV em São Caetano, Carmela Ianoni. Na cidade, de 9 a 12 de setembro, das 19h30 às 22h30, e no dia 14 de setembro, das 9h às 18h, haverá curso para novos voluntários na rua Marechal Deodoro, 70. Quem se interessar em atuar em alguma unidade deve entrar em contato diretamente com o CVV pelo site ou telefone.