A poda de árvores pau-brasil realizada na praça Pompeia, na vila Gilda, em Santo André, preocupa Antonio Freire, 65, técnico agrícola e morador do bairro. De acordo com Freire, os cortes dos galhos da maneira como foram feitos estão irregulares e podem comprometer o desenvolvimento dos exemplares da espécie que enfeitam a praça.
No local, percebe-se que as árvores foram podadas recentemente. As bifurcações feitas pelos galhos foram removidas e as feridas nos troncos ainda não estão totalmente secas. Outras árvores no local, de diferentes espécies, também foram podadas e algumas estão com aparência seca e morta.
Freire, que trabalhou com implantação e distribuição de mudas de pau-brasil nas décadas de 1980 e 1990, lamenta o estado das árvores e reforça que, dessa maneira, o risco de morte da espécie no local é muito alto. “O pau-brasil não rebrota. Onde quebrou seca, não cresce mais e não dá copa. A árvore perde a função de árvore”, diz.
O morador afirma também que, em 2018, fez reclamação sobre esse tipo de poda junto à Prefeitura, via telefone, mas não obteve nenhum tipo de resposta. “É uma judiação. Essa árvore não pode ser cortada, nem destruída. Faz parte da nossa história e deve ser preservada cada vez mais”, declara.
A professora e pesquisadora de biologia da Universidade Municipal de São Caetano (USCS), Marta Marcondes, afirma que a poda dos galhos laterais não é a mais indicada. De acordo com a educadora, o ideal é podar o galho principal da árvore, chamado de gema apical, para que os hormônios de crescimento da planta sejam melhor distribuídos. No caso de poda lateral, deve-se cortar apenas as pontas dos galhos. “Podas radicais são erros técnicos que causam demora no crescimento das gemas laterais das plantas”, afirma.
Marta reforça, ainda, a importância do pau-brasil enquanto símbolo nacional e a necessidade de preservação das árvores restantes da espécie. “Temos de pesar a fragilidade dessa planta, o que representa para nossa história, e cuidar dela”, completa. O pau-brasil foi muito explorado no País durante a colonização portuguesa e, desde 2004, está na lista de espécies ameaçadas de extinção. Para preservação da árvore, considerada nacional desde dezembro de 1978 (Lei 6.607), o Ministério do Meio Ambiente instituiu em setembro de 2012 o Programa Nacional de Conservação do Pau Brasil.
Por meio de nota, a Prefeitura informa que “as podas foram realizadas no dia 2 de agosto e, diferentemente do apontado pelo morador, o serviço foi realizado corretamente. As cinco árvores da espécie pau-brasil receberam a chamada ‘poda de levantamento’, que não prejudica o desenvolvimento e favorece o crescimento saudável”. A Prefeitura destaca que “não é possível determinar a idade das árvores, pois para isso seria necessária sua perfuração, o que não compensaria o dano causado apenas para mensurar sua idade”.