Cinco meses após a entrega da nova balsa que faz a travessia João Basso, no Riacho Grande, em São Bernardo, o RD esteve no bairro e conversou com moradores sobre a nova embarcação, que teve a capacidade dobrada para veículos e passageiros e foi entregue em 16 de outubro. Os moradores foram unânimes quanto a melhorias na travessia e também falaram das alegrias e também dificuldades de morar em uma das áreas mais isoladas do ABC.
Arlindo Fernandes conversou com a reportagem enquanto aguardava no carro o embarque. A conversa foi breve, em menos de 5 minutos a fila andou. Fernandes aprovou o serviço feito pela EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) na ampliação e modernização da travessia. “O tempo caiu pela metade, por causa da capacidade da balsa, antes, no final de semana se esperava de duas a três horas a travessia, agora no máximo em uma hora”, disse o morador que vive no pós-balsa há sete anos.
O RD chegou à travessia às 10h20 desta quarta-feira (27), em menos de 5 minutos a reportagem já estava a bordo da balsa, que levou 3 minutos e 46 segundos para atracar do outro lado da Billings, no bairro Taquacetuba. Durante a travessia dona Maria Aparecida Pessoa de Oliveira contou que antes da reforma, o serviço era muito demorado. “A fila era grande e a balsa demorava a sair”, conta a mulher que não mora no pós-balsa, mas vai frequentemente ao bairro para visitar familiares.
O eletricista José Antônio da Silva, de 64 anos, 40 deles vividos no pós-balsa, diz que o serviço está melhor, mas aumentou o movimento de usuários e gerou mais necessidades ao bairro Taquacetuba. “Agora tem muita gente nova, antes a gente se conhecia pelo nome, agora não conheço a maioria”, afirma.
Enquanto a travessia João Basso recebe aprovação por parte dos moradores, a segunda balsa, a RE 8443, que liga a estrada Taquacetuba ao Grajaú, na Capital, tem uma realidade completamente diferente. A capacidade para veículos é pequena, cerca de 10 carros. A EMAE informa que não há previsão de reforma da segunda balsa, porque a demanda naquela travessia é pequena.
Habitantes revelam paixão pela região do Pós-Balsa
Apesar do isolamento, das dificuldades de transporte e acesso a alguns serviços públicos, os moradores da região do Pós-Balsa gostam do lugar, principalmente por causa do sossego. Exemplo é a família do eletricista José Antônio da Silva, de 64 anos, que vive há 40 no bairro. Silva conheceu o Taquacetuba quando veio fazer um serviço e se apaixonou imediatamente pelo local. “Eu comprei um ponto comercial antes da balsa e foi aqui que conheci a minha esposa, que morava logo depois da travessia. Ela nasceu aqui e nunca morou em outro lugar. Nos casamos, tivemos três filhos e já são três netos, e eu nem penso em sair daqui”, conta o eletricista que adora o clima. “Trabalho em São Paulo, ando o dia todo e não vejo a hora de voltar para casa”.
Outro apaixonado pelo bairro é o frentista José Cláudio, conhecido por Pelezinho. Ele conversou com a reportagem enquanto manejava uma enxada para abrir uma vala ao lado da estrada Taquacetuba, e escoar a água que acumula em frente à residência. Apesar da dificuldade o frentista não pensa em deixar o lugar, que escolheu para viver há 36 anos. “Aqui é bom demais de morar, o sossego é bom demais”, revela.
Taquacetuba aguarda melhorias
A falta de infraestrutura é enorme para quem mora no Pós-Balsa. Ocupações irregulares, ruas não pavimentadas, falta de serviços básicos como água, luz e esgoto, e atendimento de urgência e emergência não acessível a todos encabeçam a lista. O frentista José Cláudio Santos, o Pelezinho, diz que os tratores da Prefeitura precisam passar mais vezes na estrada Taquacetuba. “Está muito ruim”, comenta.
Carlile Serra da Silva, que mora há 15 anos na rua Alice Pereira de Souza, quer a regularização de seu lote e melhorias. Por conta da erosão do terreno, os ônibus escolares riscaram a rua do roteiro e com isso crianças estão sem frequentar as aulas. Carlile mora com seis filhos e um neto na casa, e conta que as ligações de água e luz são irregulares, mas não consegue resolver o problema. “Eu quero pagar água, luz e IPTU; queremos ter um endereço aqui”, diz a moradora que organizou um abaixo-assinado.
Segundo Carlile os ônibus escolares não passam mais na rua por conta das valas abertas pela enxurrada. “A gente quer pagar tudo certinho, vou lutar, quero pagar água, luz e IPTU para regularizar essa área aqui”. Enquanto o RD esteve na rua, presenciou um ônibus escolar deixando crianças no início da rua e fazendo a volta. Os alunos subiram a rua a pé. Vizinha de Carlile, Madalena Alencar, tem água de uma nascente e a luz é puxada das casas vizinhas. “A declaração da associação dos moradores até serve para abrir conta no banco, mas o INSS não aceita. Aqui ninguém tem comprovante de endereço”, comenta a mulher.
Solução
Em nota a Prefeitura informou que as obras de desobstrução da estrada do Rio Acima estão sendo feitas aos poucos. “Equipes trabalham no local, e a via é desobstruída de forma parcial, até que o solo se estabilize e o material possa ser retirado por completo das encostas e levado a um terreno próximo, sem prejuízo ao local, por se tratar de uma área de manancial”. Sobre o transporte escolar informa que a situação foi normalizada nesta semana. “Quanto às ligações oficiais de água e esgoto, por se tratar de Área de Proteção e Recuperação de Mananciais da represa Billings, os interessados devem contatar a Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal para solicitar abertura de processo referente à regularização, com autorização da Sabesp e ENEL”, detalha.
Sobre o pedido de uma UPA a administração diz que “na região pós-balsa existe a Unidade de Saúde da Família Núcleo Santa Cruz, com funcionamento até as 19h, com base do SAMU, equipe 24 horas e uma sala de estabilização. Os casos de urgência são atendidos por esta equipe e removidos para a UPA mais próxima, no Riacho Grande”.