Começamos o ano assistindo estarrecidos e de corações partidos o resgate de corpos e mais corpos vítimas da negligência. Por trás de cada nome divulgado no noticiário existia uma vida toda de sonhos que foi bruscamente interrompida. Pessoas e histórias que tocavam seus afazeres sem nem imaginar o perigo que as rondava. A Barragem de Brumadinho rompeu por uma série de eventos que somados resultaram no mar de lama que colocou um ponto de interrogação na cabeça de todos. De quem é a culpa de tudo isso? Alguns dizem que os laudos foram forjados, outros que as sirenes não funcionaram.
A tecnologia da barragem era a apropriada? Faltou fiscalização dos órgãos públicos ou leis mais severas? Mas acima de encontrarmos respostas para essas perguntas, precisamos entender o porquê após dois anos da tragédia de Mariana nada foi tomado como lição e como foi permitido que tudo acontecesse novamente? Ainda com as chagas abertas e bombeiros trabalhando para amenizar a dor das famílias que até o momento não tiveram os corpos dos seus familiares localizados em Brumadinho, amanhecemos na última sexta-feira atônitos ao ver o ferro retorcido no CT do Flamengo, no Rio de Janeiro. Aquele incêndio tirou mais do que dez possíveis promessas do futebol brasileiro, levou dez filhos dedicados que venceram peneiras e mais peneiras para então encher de esperança e orgulho suas famílias.
Aqueles meninos mal sabiam que estavam entrando para o lugar que tiraria suas vidas em mais uma tragédia anunciada. Foram dezenas de autos de infração, lacração e processos. Faz um puxadinho aqui, estica mais um pouco ali e no fim dezenas de garotos dormiam em containers de metal sem as devidas condições de segurança. O incêndio do “ninho do urubu” traz a memória dúvidas não respondidas em outra terrível tragédia ocorrida há alguns anos na Boate Kiss em Santa Maria no Rio Grande do Sul. Considero que nada acontece por acaso. Acreditar em fatalidade diante destas e de outras tantas tristes histórias é simplificar ao extremo uma série de problemas que batem às nossas portas diariamente e muitas vezes nem nos damos conta. Em São Caetano do Sul a quase totalidade das escolas públicas e os clubes esportivos não tem o Atestado de Vistoria do Corpo de Bombeiros, o chamado AVBC. O mesmo laudo que faltava no CT do Flamengo.
São aproximadamente 20 mil crianças estudando em espaços sem garantias de que estão seguros e preparados para qualquer imprevisto que a vida nos reserve. Mais umas centenas de pessoas que utilizam as piscinas dos clubes e os salões em bailes e eventos todas as semanas. Deste modo, sem ser alarmista, é preciso dizer que convivemos ao lado do eminente risco em nossa cidade. Aliás, quem não se lembra que há alguns anos atrás vimos o fogo consumir o arquivo, o refeitório e a garagem municipal, na Avenida Presidente Kennedy. O discurso que as providências sempre estão sendo tomadas é corriqueiro. Assim como a contínua situação de ilegalidade que esses espaços permanecem funcionando. A atenção dos órgãos de fiscalização deve ser constante, ininterrupta e rigorosa. Até quando ficaremos esperando solenemente a próxima tragédia? Que Deus ilumine e conforte cada um dos familiares e amigos dos vitimados por esta sequência de tragédias nacionais. E que nossas orações e preces nos protejam para que não sejamos os próximos a chorar a perda de um familiar querido.