
Levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e divulgado nesta quinta-feira (08/11) aponta para a queda da Taxa de Sindicalização no país. O estudo, feito com base em dados de 2017, mostra que apenas 14,4% dos trabalhadores brasileiros são sindicalizados, a menor taxa desde 2012, e que representa uma queda de 3,2% em relação a 2016. O mesmo estudo do IBGE também apontou que, enquanto a quantidade de sindicalizados diminuiu, o número dos que trabalham como pessoa jurídica, aumentou quatro pontos percentuais no período. Pressionados, os sindicatos buscam formas diferentes de atuação. O ramo da Construção Civil, por exemplo, vai cobrar taxa de negociação dos trabalhadores não associados.
Na opinião de sindicalistas e também de empresários, os números estão relacionados à crise econômica, que aumentou o índice de desemprego e também a mudanças na legislação. Para o empresário e presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Claudio Barberini Júnior, essa movimentação vai fortalecer os sindicatos que realizam um trabalho forte com as categorias e eliminar os menos representativos. “Esse movimento tende a aumentar, porque com o fim da contribuição sindical obrigatória – em junho deste ano – só vão ficar os sindicatos atuantes. Estamos num ano de transição, onde os bons sindicatos vão sobreviver”, disse o empresário que dirige a Alumbra, produtos elétricos. “Eu mesmo acabei de sair de uma negociação com o sindicato que foi muito amigável”, comenta Barberini Júnior que considera o sindicato de trabalhadores importante, pois “equilibra as forças” no mercado de trabalho.
O Sindicato dos Químicos do ABC é um exemplo de entidade com grande categoria na região e que foi pouco afetada no último ano. Para o presidente da entidade, Raimundo Suzart, a queda da sindicalização está diretamente ligada à queda dos postos de trabalho. “Claro que os sindicatos menores vão ter mais dificuldades de subsistência, mas não são menores porque não têm trabalho, mas porque representam uma categoria menos numérica e com salários mais baixos”, avalia. Segundo o sindicalista só no ramo químico a redução de postos de trabalho foi de 25%, passando de 40 mil para 30 mil postos de trabalho. “No nosso caso tivemos uma redução de cerca de 5% da taxa de sindicalização, mas ainda mantivemos um bom patamar porque o ABC tem o Polo Petroquímico, as indústrias de tintas e de plásticos. Além disso, passamos por uma crise muito grande, mesmo assim acabamos de renovar a nova Convenção Coletiva de Trabalho por dois anos e sem nenhuma perda de direitos”, exemplificou.
Para professor, doutor em sociologia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Fernando Luiz Monteiro de Souza, os números apresentados pelo IBGE já representam reflexos da Reforma Trabalhista. “Isso é oriundo do pensamento neoliberal que tenta promover o máximo de desregulação do mercado de trabalho, ou seja, retirar grande parte dos mecanismos de proteção social dos trabalhadores que foram resultado da luta dos trabalhadores que, com o fortalecimento das entidades sindicais, permitiram que parte de sua agenda fosse incorporada no estado de proteção social. O que a gente observa é que esses sindicatos também precisam criar novas formas de instituir a sua representação política e a mobilização dos trabalhadores. A gente vive num momento onde o trabalhador se questiona sobre a representatividade e esses conflitos vão precisar ser reorganizados”, analisa
O SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), foi procurado pela reportagem para comentar o assunto e o presidente Wagner Santana, o Wagnão, disse, através de sua assessoria, que ainda vai analisar a pesquisa, para emitir uma opinião.
Para atrair filiados, Construção Civil não terá convenção coletiva
O ramo da Construção Civil, que emprega hoje cerca de 9 mil trabalhadores em todo ABC, menos de 3 mil destes sindicalizados, definiu na quinta-feira (08/11) que não vai mais negociar com o Sinduscon (Sindicato das Indústrias da Construção Civil) um acordo coletivo de trabalho. A estratégia, firmada entre os três sindicatos de trabalhadores da região, visa fazer as negociações individualmente em cada empresa e assim cobrar dos trabalhadores não sindicalizados uma taxa de negociação.

Para o presidente do Sintracon (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário) de São Bernardo e Diadema, Admilson Lúcio de Oliveira, a intenção é mostrar para o trabalhador que é mais seguro e econômico se filiar ao sindicato, que oferece, além da representação na negociação salarial, benefícios como assistência médica mais barata, colônia de férias, entre outros. “Estive reunido na quinta-feira com o Sindicato de Santo André e de São Caetano, e definimos que não faremos negociação coletiva e sim por empresa. Trabalhador não sindicalizado vai ter que pagar taxa negocial, afinal vai ser beneficiado também”, anunciou.
Oliveira disse que só o sindicato de São Bernardo e Diadema, perdeu 50% de filiados, de 2015 para cá, por conta de demissões; e dentre os que estão trabalhando, 30% pediram desfiliação. “Estamos nos refazendo agora, criando outras formas de trabalho essa negociação por empresa é uma das formas para fazer voltar a subir o número de filiados”, resume.