Condomínio particular é invadido em Santo André

Ocupante segue em direção ao American Park, no Parque Capuava.
(Foto: Pedro Diogo)

O Edifício American Park, imóvel particular com 80 apartamentos, localizado na avenida dos Estados, 8.575, no bairro Parque Capuava, em Santo André, foi invadido por aproximadamente 200 pessoas. O imóvel não havia sido entregue aos proprietários. Os ocupantes usaram de violência para entrar no local, armados com pedras e paus, e ameaçaram o caseiro (zelador) e o vigilante.

A invasão gerou registro de BO (Boletim de Ocorrência) no 2º Distrito Policial de Santo André. A polícia autuou, em flagrante delito, três pessoas, dois homens e uma mulher, que foram indiciadas e encaminhadas ao CDP (Centro de Detenção Provisória) da cidade. Um quarto investigado, identificado como pastor Daniel, está desaparecido.

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Segundo o boletim de ocorrência, há “suspeita de que os indiciados ocupem função de liderança na organização criminosa”. Os acusados foram enquadrados nos crimes de esbulho possessório, ameaça, lesão corporal, dano e associação criminosa.

A ocupação do edifício ocorreu na madrugada do dia 9 de junho. “Um grupo, que invadiu pelos fundos, me rendeu e pediu para que prendesse o cachorro, enquanto empurravam a mim e a minha esposa. Um outro arrombou o portão da frente para que pudesse entrar com os carros”, contou o caseiro Rinaldo Luiz da Rocha, 45 anos, que trabalha no local há 14 anos.

Ainda de acordo com o registro policial, o vigilante, “contratado por um dos cooperados”, cuidava da parte dos fundos, quando ouviu o barulho da invasão. O funcionário, que relatou na delegacia, teve a casa depredada, inclusive com furto de quantia em dinheiro do salário mensal.

Entrada principal possui portão de aço e cão de guarda
(Foto: Pedro Diogo)

O RD esteve no local segunda-feira (18/6) pela manhã, quando constatou que os 20 andares estavam ocupados. Os integrantes do movimento garantem que não tem bandeira partidária e estão unidos devido a interesses em comum. “Estamos aqui porque não temos para onde ir. Para nós esse é o condomínio esperança. Ninguém quer morar de graça. Só queremos um teto digno”, disse o motoboy Rony Oliveira, 31 anos, um dos invasores do residencial.

A ocupação foi organizada por grupo no WhatsApp, segundo Oliveira. Outros relatos apontam que o pastor Daniel, citado no boletim de ocorrência e pelos ocupantes como uma das lideranças do movimento, fez anúncio dos apartamentos pelas redes sociais e cobrava R$ 500 por unidade. Procurado pela reportagem, o pastor não atendeu as chamadas.

Condomínio foi da Carnevalli e Uniteto

O condomínio, originalmente projetado para construção de quatro torres em área total de 10 mil m², é um antigo empreendimento da Construtora Carnevalli, de São Caetano, em parceria com a Cooperativa Habitacional Uniteto, com sede em Santo André. O imbróglio começou em 1997, logo quando a construção começou.

Diante das dificuldades financeiras, as obras foram paralisadas e o prédio, inacabado, não tinha a documentação necessária, como o Habite-se (hoje, Certificado de Conclusão de Obra).

Em 2007, os cooperados moveram ação judicial para a emissão de posse, além do pedido de continuidade da obra. Na época, um investidor, que não quis ser identificado para reportagem, mas consta citado no boletim de ocorrência, se tornou responsável pelo término da construção.

Segundo o investidor, mesmo com mais de 90% da obra finalizada, a documentação ainda estava pendente. “Faz anos que estou brigando pelo direito da escritura. Quando estávamos perto de solucionar a situação, esse grupo invadiu o empreendimento”, disse. A advogada do responsável pelo residencial foi procurada por telefone, mas não retornou às ligações do RD.

A Uniteto e o investidor entraram com ações de reintegração de posse no Fórum de Santo André – até o momento (19 de junho), sem decisões da Justiça.

O que diz a Prefeitura

A Prefeitura informou, em nota, que “está ciente da invasão e solicitou aos responsáveis informações sobre as medidas tomadas para solução”. A Defesa Civil esteve no local nesta semana e constatou que “as condições hoje são precárias e há riscos previsíveis na continuidade de ocupação em face à infraestrutura utilizada, principalmente ligações elétricas clandestinas e equipamentos”.

Desde a última sexta-feira (15) até esta terça-feira (19) o RD procurou falar com a direção da Construtora Carnevalli, por telefone e e-mail, porém nenhum representante da empresa retornou. A reportagem não localizou os representantes da Uniteto.

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