
São Bernardo (Foto: Gabriel Inamine)
Ocupação, protestos, acordos e críticas. Após 230 dias, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) deixou o terreno de 78 mil m² no bairro Planalto, em São Bernardo. Enquanto o grupo celebra a saída com acordo junto ao governo do Estado, o prefeito Orlando Morando (PSDB) vê a saída dos manifestantes como uma “vitória” por não ter feito acordo com os invasores. O tucano defendeu o plano habitacional da gestão.
Morando vistoriou o local na quarta-feira (11), um dia após o fim do prazo acordado na Justiça, em dezembro. “Vim aqui para uma vistoria e, com a mesma transparência, de que tratamos este assunto desconfortável para a cidade. Reforço mais uma vez que a Prefeitura não era parte envolvida no processo, mas, em nenhum momento, não foi aceita negociação com o movimento que se mostrou claramente de política do que de luta por moradias”, afirmou.
A empresa MZM, dona do terreno ocupado, será a responsável pela retirada dos barracos deixados no local. A Prefeitura enviou efetivo da GCM (Guarda Civil Municipal), além de equipes da Zoonoses e da Vigilância Sanitária para averiguação de medidas emergenciais, a fim de coibir a proliferação de alguma doença.
Enquanto medidas são tomadas de um lado, o MTST comemora a saída do local com o acordo feito com o comando do Palácio dos Bandeirantes para que quatro terrenos no ABC sejam cedidos para que as 8,1 mil famílias que ocuparam o local durante os últimos meses possam construir as moradias.
A resolução entre as partes gerou certo incômodo nas pessoas que consideram que tal movimento continha mais pessoas de outros municípios do que de São Bernardo, fato que poderia “furar a fila” daqueles que necessitam dos programas habitacionais da cidade, em parceria com o governo do Estado ou o governo federal.
Histórico
O MTST ocupou o terreno no início de setembro de 2017. Ao longo das primeiras semanas, o movimento cresceu e chegou a ter 60 mil pessoas, segundo os organizadores, número que transformou o local (denominado de Ocupação Povo Sem Medo de São Bernardo) na maior ocupação da América Latina.
Políticos e artistas ligados a movimentos de esquerda visitaram o local e tentaram abrir diálogo com a Prefeitura. O cantor e compositor Caetano Veloso chegou a anunciar um show no local, mas o evento foi cancelado por decisão judicial. Mesmo assim, o músico e outros defensores dos manifestantes realizaram uma série de eventos.
Em dezembro, um acordo foi feito no Gaorp (Grupo de Apoio às Ordens Judiciais de Reintegração de Posse), assim o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto passou a ter 120 dias para desocupar o local. Desde então, outros protestos foram realizados, inclusive com a invasão da sede da Secretaria Estadual de Habitação, em São Paulo. Nos últimos dias, 250 pessoas ainda estavam no local. Com o fim do prazo de desocupação, o foco acabou ficando na defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso após condenação oriunda da operação Lava Jato.