ABC - sexta-feira , 17 de maio de 2024

‘Nico, 1988’ revela o ser humano fascinante por trás da estrela

Uma garotinha alemã vê, ao longe, uma imensa fogueira, uma nuvem de fumaça, mas, mais importante, ouve um som. Berlim queimando em 1945 é a primeira imagem de Nico, 1988, filme que conta os dois últimos anos de vida de Christa Päffgen, a modelo e cantora mais conhecida pelo álbum The Velvet Underground & Nico, de 1967.

Mas o filme da diretora italiana Susanna Nicchiarelli se dedica justamente ao outro lado de Nico: sua carreira depois disso teve 20 anos de investidas criativas num campo em que ela reinou, gerando e influenciando o gothic rock avant-garde que sempre esteve na cabeça de gente tão distinta quanto Patti Smith, Siouxsie and the Banshees, Morrisey e Elliot Smith.

Newsletter RD

São ainda três chances de ver o filme na 41.ª Mostra: sábado, 28, às 17h30, no Espaço Itaú Frei Caneca; segunda-feira, 30, às 20h10 no Cinearte; terça-feira, 31, às 18h20, no Cinesesc.

O filme levou o prêmio da Seção Horizontes do Festival de Veneza em agosto, e segundo a diretora, além da música, foi essa parte mais obscura da vida de Nico que a atraiu ao projeto.

“Ela se importava tão pouco com o fato de ser menos conhecida, menos famosa do que antes”, disse Nicchiarelli à Variety. “Talvez essa seja a principal razão para que eu tenha me apaixonado pelo que Nico se tornou nos anos 1980: essa mulher de 40 anos que eu vi nas entrevistas, tão irônica e tão forte, sem se importar nem um pouco com a superstar que ela tinha sido, sobre a beleza lendária que ela tinha parado de carregar. Tão longe do clichê da estrela em decadência, ou da quarentona frágil sentindo falta de sua juventude.”

A diretora entrevistou, entre várias outras pessoas que trabalharam com Nico, o filho que a cantora teve com Alain Delon (note-se, duas das pessoas mais bonitas que já passaram pela Terra). O personagem do filho, Christian Aaron Boulogne, também ocupa um papel central no filme (o pai o abandonou na vida real). As interpretações musicais apaixonadas da atriz Trine Dyrholm, ela mesma cantora e compositora, completam o tripé que sustenta a produção.

Depois da cena inicial em flashback, o tempo avança até 1986, e Nico mora em Manchester. O personagem fictício Richard, interpretado por John Gordon Sinclair (absolutamente distante de qualquer clichê de agente do rock), então a leva em turnê pela Europa, passando para o lado de lá da Cortina de Ferro. A turnê é o espaço em que Nico luta para resolver dois conflitos: o vício em heroína e, mais importante, a relação conturbada com o filho, jovem artista, que passou um tempo internado numa clínica psiquiátrica.

Nico é sempre associada ao Velvet Underground, a Andy Warhol, e à lista de homens que se apaixonaram quase que de maneira mística por ela no fim dos anos 1960 (de Leonard Cohen a Iggy Pop). O filme, mesmo com momentos ficcionais, tira o véu da fantasia para mostrar que ali havia, muito mais, um ser humano fascinante.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes