Nunca considerei que a postulação presidencial de João Doria pudesse representar qualquer tipo de traição manifesta, principalmente em razão de acreditar que a missão de agremiações, como no caso do PSDB, consiste em zelar pelo aprimoramento dos fundamentos republicanos, oferecendo ao eleitorado candidaturas de envergadura e densidade com maiores chances de vitória, independentemente de acordos entre partes privadas ou baseados nas relações entre criatura e criador.
Também avalio que a controvérsia criada para estabelecer o formato de como será escolhido o representante tucano ao pleito de 2018, seja através de prévias ou de resultados de pesquisas, apequena o debate em torno da construção do perfil ideal do preponente, qual seja: possuir a capacidade necessária para restaurar a harmonia e independência entre os poderes, recuperar a efetividade na representatividade política, aprimorar o funcionamento das instituições públicas e retomar o desenvolvimento econômico e social.
Nesse contexto, Alberto Goldman, personagem que já exerceu as funções de deputado estadual, deputado federal, secretário de estado, ministro, vice-governador e governador de São Paulo, veio a público externar suas percepções contundentes a respeito do desempenho administrativo de João Doria à frente da Prefeitura de São Paulo.
Concretizou assim a manifestação mais pragmática realizada até o momento, em que restaurou o campo do discernimento político em detrimento das vaidades pessoais, dando voz às convicções mais profundas, nas quais Geraldo Alckmin acredita devotamente, porém sem jamais externar ao grande público.
Diante da assertividade do velho comunista, JD errou ao classificá-lo de improdutivo e fracassado, cometendo não apenas um gesto de deselegância para com uma das referências vivas e de grande relevância da história contemporânea brasileira, mas também por não entender que ali estava sendo germinado um novo alinhamento de forças no seio do tucanato, que aproximou os grupos alckmista e serrista. Pois não foi à toa que o senador José Serra, logo após a troca de farpas, posicionou-se como pré-candidato ao governo paulista.
Nesse sentido, as duas alas tradicionais no controle partidário buscam atuar conjuntamente com o objetivo de emparedar JD e suas pretensões de voo para além das adjacências paulistanas. Contudo, se Doria desistir de concorrer ao comando da nação, sua carreira política sofrerá enorme abalo, ao fraturar a credibilidade entre os diversos segmentos sociais e econômicos que manifestam o desejo em apoiá-lo nessa empreitada.
Assim, tudo indica que o Partido da Social Democracia Brasileira recriará para o ano que vem a dobrada ocorrida em 2006, com Geraldo Alckmin candidato à Presidência da República e José Serra ao Governo do Estado de São Paulo.
Por sua vez, JD terá que buscar outra configuração fora do ninho da família Ramphastidae, além de reconstruir a retórica que alicerce o projeto de mudar-se para Brasília sem sucumbir às facilidades das ofensas pessoais, o desmerecimento de biografias ou a pretensa associação indissolúvel com o povo, pois as evidências chegadas de várias partes do mundo apontam para a tendência da negação pelo sufrágio universal de manifestações desprovidas de conteúdo capaz de fazer a diferença.
Alberto Goldman marcou um gol e Milton Flávio não viu a bola balançar a rede. Mas estamos apenas a quinze minutos do primeiro tempo e o jogo prossegue.