Maior doadora de Auricchio está internada desde janeiro de 2016

Responsável pela maior doação na conta eleitoral do prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), no valor de R$ 350 mil em outubro de 2016, Maria Alzira Garcia Correia Abrantes, de 90 anos, está internada por problemas de saúde desde janeiro do ano passado. A doadora é avó do sócio-administrador da empresa Globo Contábil, Eduardo Abrantes, contratada pelo tucano na última eleição municipal. Por sua vez, a defesa de empresário assegura a legalidade dos depósitos.

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Conforme apuração do RD, Maria Alzira foi vítima de um AVC (acidente vascular cerebral) e deu entrada no Hospital Nove de Julho, na região central de São Paulo, em 22 de janeiro de 2016. Em seguida, ela foi transferida ao Hospital Retaguarda Premier, na zona oeste da Capital. Ambas as unidades hospitalares não passaram o período das internações, alegando sigilo da paciente.

Essa é a segunda ligação do escritório Globo Contábil com as doações destinadas a Auricchio. Em julho, o RD visitou a casa de Ana Maria Comparini Silva, 85 anos, no bairro Fazenda Grande, em Jundiaí. Nos registros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ela tem em seu nome a segunda maior transferência, em R$ 293 mil, à conta eleitoral de Auricchio. A responsável pelos repasses é mãe de Rita de Cássia Silva, funcionária da empresa.

De acordo com dados do Ministério da Fazenda, Eduardo Abrantes é um dos sócios da empresa Globo Contábil, cujo capital é de R$ 120 mil e sua sede está localizada no bairro Aclimação, na região central de São Paulo. O escritório foi contratado por Auricchio pelo valor de R$ 20 mil em agosto de 2016, durante a eleição municipal, a qual foi conduzido ao terceiro mandato como prefeito.

O artigo 21 da resolução nº 23.463/2015 do TSE prevê que a soma de doações de pessoas físicas é limitada a 10% dos rendimentos brutos declarados no Imposto de Renda do ano anterior ao período eleitoral. Portanto, como Maria Alzira repassou R$ 350 mil à conta eleitoral de Auricchio e do vice-prefeito Beto Vidoski (PSDB), então deveria registrar recebimentos que totalizam R$ 3,5 milhões em 2015.

Para esclarecer essa situação, o RD foi até a residência da família de Maria Alzira, no bairro São João Clímaco, zona sul de São Paulo e próxima à divisa de São Caetano, na tarde de segunda-feira (21). No local, a filha Maria Eliana Abrantes disse que a mãe está internada desde o começo do ano passado e não sabia da existência dos repasses. Em seguida, ela pediu para reportagem entrar em contato com o sobrinho, Eduardo Abrantes, para tratar sobre as finanças da doadora.

A reportagem foi até a sede da empresa, na manhã de terça-feira (22), com intuito de entrevistar Eduardo Abrantes. Após a identificação pelo interfone, uma funcionária foi até o portão, cerca de três minutos depois, e comunicou que o sócio não se encontrava no local. Em seguida, ela recebeu um cartão do RD para retorno por telefone.

No dia seguinte, o advogado Fernando Gardinali, na condição de representante de Eduardo Abrantes, entrou em contato com o RD e assegurou que a doação em nome de Maria Alzira a Auricchio é legal. “O estado de saúde (dela) não interfere na condição legal da doação. O que importa para Justiça Eleitoral é a regularidade da transferência e podemos comprovar”, garante o jurista.

A Prefeitura de São Caetano também foi procurada por esclarecimentos de Auricchio sobre a situação da Maria Alzira e da ligação dela com a empresa Globo Contábil. No entanto, o governo não se pronunciou até o fechamento desta matéria.

Quebra de sigilo

O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) confirmou que já investiga a doação de Maria Alzira a Auricchio. O promotor Newton José de Oliveira Dantas pediu a quebra do sigilo bancário dela, a exemplo do que fez com Ana Maria ao TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo), autorizada pelo juiz Luiz Guilherme da Costa Wagner.

Residência de Maria Alzira, maior doadora de Auricchio (Foto: Pedro Diogo)

Violência é a queixa em São João Clímaco, na Capital

A violência é a maior crítica dos moradores do bairro São João Clímaco, zona sul de São Paulo, onde está registrada a casa de Maria Alzira Garcia Correia Abrantes, de 90 anos. Ela foi a maior doadora eleitoral do prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), no valor de R$ 350 mil, depositados em outubro de 2016. Os residentes, porém, ficaram surpresos ao constar que alguém – não houve citação do nome da moradora – seria capaz de realizar tal transferência, a um candidato a cargo eletivo, nas redondezas.

Pelo bairro, não é difícil achar placas de “vende” nas casas e o maior culpado pelas mudanças é a forte ocorrência de assaltos e, consequentemente, a sensação de insegurança. “É um bairro morto. Não dá para acreditar alguém com essa renda morando aqui”, diz o eletricista Tarcísio Saderio. “Aqui tem muito roubo durante à tarde, já que à noite há o motoqueiro (da segurança privada). Essa pessoa não moraria aqui”, completa uma moradora, na qual pediu anonimato.

Desde 1964 tendo o bairro São João Clímaco como lar, Carmínio Basucci ficou surpreso ao tomar conhecimento de que uma pessoa na localidade seria capaz de repassar R$ 350 mil a um candidato a prefeito e que necessitaria ter uma renda de R$ 3,5 milhões um ano antes. “Não conheço e nem imagino isso. A violência aqui é muito grande, como no Brasil. Impossível alguém com essa renda morar aqui”, constata.

A ação que cita Maria Alzira foi inicialmente impetrada pelo PMDB, partido do ex-prefeito e rival de Auricchio no último pleito Paulo Pinheiro. No entanto, a legenda retirou a ação no cartório da 166ª zona eleitoral, situado no Atende Fácil, em São Caetano. Entretanto, o MP-SP (Ministério Público de São Paulo) assumiu o processo.

Imóvel onde reside Ana Maria fica em bairro simples de Jundiaí (Foto: Pedro Diogo)

Ana Maria, moradora de Jundiaí, é investigada pelo MP-SP

As doações eleitorais de Ana Maria Comparini Silva já são alvo de investigação do MP-SP (Ministério Público de São Paulo). Em 2016, ela repassou no total de R$ 395,5 mil. Além do prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), beneficiado pelo valor de R$ 293 mil, a doadora também teve em seu nome repasses a mais dois candidatos não eleitos ao Legislativo da cidade e a um vereador em São Paulo.

Pelas prestações de contas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Ana Maria também tem transferências em sua autoria aos candidatos à vereança de São Caetano Irineu Luiz Vencigueri e Roberto Barbato (ambos do PSDB), que receberam R$ 57 mil e R$ 39,5 mil, respectivamente. O vereador de São Paulo Camilo Cristófaro (PSB) também foi contemplado com R$ 6 mil.

Pela legislação, Ana Maria teria de contar com rendimento bruto, um ano antes das eleições municipais, superior a R$ 3,9 milhões. Entretanto, a Promotoria constatou que ela não declarou Imposto de Renda em 2014 e 2015, o que a fez pedir a quebra do sigilo bancário da responsável pelos repasses. A defesa, porém, diz se tratar de “uma ilegalidade e violação aos direitos fundamentais” e contesta a ação nos tribunais.

Em julho, o RD foi atendido por Ana Maria em sua casa, no bairro Fazenda Grande, em Jundiaí. Ao ter nas mãos a foto de Auricchio, ela disse não conhecê-lo. A residência onde mora é modesta e não ostenta qualquer luxo de quem detém recursos milionários. O muro, por exemplo, está sem acabamento e pichado. Em conversa com moradores, apenas relatos de desemprego na região. (BC)

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