O furacão chamado Doria

João Doria ascendeu ao posto de chefe do poder Executivo paulistano prometendo impor a supremacia da gestão profissional sobre as práticas políticas. Porém, é justamente no segundo plano que JD vem impondo-se como uma liderança diferenciada e audaz.

Seu último vídeo postado nas redes sociais, em que faz juras de amor eterno e fidelidade matrimonial ao governador Geraldo Alckmin, serviu basicamente para demonstrar as diferenças de estatura entre ambos, principalmente no momento em que evidenciou um João articulado, dinâmico e impositivo, em contraposição a um Alckmin acanhado, apático e cinzento.

Newsletter RD

Suas caravanas pelo País emanam um verdadeiro frenesi entre prefeitos, empresários e demais lideranças, que se acotovelam para associar-se ao projeto e marcar presença, enquanto navegantes, no périplo doriano.

O que se intensificou logo após a exposição do filme confeccionado sob a batuta desafinada, porém desafiadora de Tasso Jereissati, que foi difundido pelos canais televisivos no último dia 17, no qual o PSDB expôs novamente a incapacidade de edificar consenso comportamental básico entre suas miríades no tocante aos temas ácidos e indigestos que acometem o Estado brasileiro.

Essas circunstâncias aprofundaram o hiato entre sociedade e lideranças tradicionais tucanas, fazendo com que JD passe de mera opção à presidência da república no pleito do próximo ano, a imperativo indispensável na viabilização do propósito social-democrata de retorno ao poder e regência dos desígnios da nação. Circunstância tão visível que, tanto lulistas como bolsonaristas, passaram a mirar suas artilharias na direção do alcaide estabelecido no Palácio do Anhangabaú, por o considerarem o principal antagonista do campo liberal na contenda porvindoura.

Outro sintoma indicativo dessa tendência são as grandes agremiações nacionais, como PMDB e DEM, além de outros segmentos relevantes do corpo social, estarem demonstrando preferência inequívoca à candidatura de JD ao Planalto Central. Manobras engenhosas, tal como a proposta de mudança no calendário das prévias eleitorais, sugerida pela ala Alckmista, não passam de tentativas disparatadas daqueles que não compreendem o curso histórico em andamento, além da miopia para com todos os sinais emitidos pelos brasileiros desde 2013.

Caso o governador de São Paulo insista na ambição de ocupar a vaga do partido na disputa ao comando da República, correrá o risco de ser obrigado a polemizar com postulantes do segundo pelotão durante o processo eleitoral, tais como, Ciro Gomes, Álvaro Dias e Marina Silva, saindo dessa forma, menor do que entrou na empreitada. Ou seja, a única forma de Geraldo Alckmin preservar sua biografia e evitar o esfacelamento do PSDB, consiste em assumir a predisposição para disputar uma das vagas ao Senado Federal e manifestar apoio ao nome de João Doria à cabeça de chapa pelo PSDB à Presidência da República.

Como bom médico, Alckmin sabe que a medicação pode ser dolorida e desconfortável, porém faz-se inevitável para a sobrevivência do paciente. São nos momentos de inflexão que a generosidade e grandeza de estadistas são reveladas como marcas indeléveis da personalidade humana.

Nilton Tristão é cientista político, diretor do Instituto Opinião Pesquisa e da GovNet S/A

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes