Um dos assassinatos mais polêmicos da história política do Brasil volta a ser tema de livro, mas desta vez sob abordagem diferente. Na obra Caso Celso Daniel: Jornalismo Investigativo em Crise, Eduardo Correia, professor universitário e ex-secretário de Comunicação do ex-prefeito de Santo André, morto em 2002, propõe-se colocar em discussão as narrativas dadas pela imprensa sobre o episódio até hoje intrigante.
Passados 15 anos após o assassinato de Celso Daniel, o caso ainda gera dúvidas à população. O ex-prefeito foi sequestrado na noite de 18 de janeiro de 2002, após sair de um jantar, em São Paulo, com o amigo e empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra – morreu de câncer em 2016. Seu corpo foi localizado dois dias depois, sem vida em uma estrada de terra e isolada na cidade de Juquitiba, na Grande São Paulo.
No livro, Correia usa a sua experiência ao lado de Celso Daniel, na época visto como uma das maiores forças no PT e pessoa de confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além da vivência no calor das investigações e teorias, que vão de crime político a apenas uma ação orquestrada por sequestradores situados na favela do Pantanal, zona Sul de São Paulo e próxima da divisa com Diadema.
“Fui assessor do Celso Daniel e secretário (no governo dele). Então vivo muito de perto esse episódio, o desdobramento das investigações. E pude ver por outro lado, o bastidor da comunicação, da imprensa e as engrenagens do jornalismo. E foi a partir dessa impressão que escrevi esse livro, a minha história sobre o caso”, descreve.
Segundo Correia, a narrativa não tem como pretensão desvendar os mistérios em torno da morte do petista, e sim despertar o senso crítico do jornalismo investigativo, tanto para o leitor comum como ao meio acadêmico. Para o docente, a cobertura da imprensa está sujeita a fontes envolvidas na investigação, mas nem sempre imparciais e com seus interesses escusos sobre o caso.
“O jornalismo em crise, mas não é crise da crítica, é crise no sentido grego de separar e analisar. Então (o livro) é o jornalismo investigativo sob análise. E você pega a imprensa investigativa hoje, embora tenha vários avanços, de uma certa maneira, não tem o controle da história, depende das fontes, que podem ter interesses acusatórios ou não, que vai selecionar o que interessa e não interessa”, pontua.
O autor diz que a cobertura dada pelo jornal Folha de S.Paulo sobre Celso Daniel é o eixo central, porém, usa outros veículos no livro, muitos deles com diferentes contextualizações sobre o assassinato. “A ideia é colocar várias narrativas e versões em confronto e que o leitor faça a sua análise. E você coloca em confronto essas narrativas e vê o que faz sentido”, explica.
Pelo valor de R$ 54,00, o livro Caso Celso Daniel: Jornalismo Investigativo em Crise pode ser adquirido pelo site da Editora Insular: www.insular.com.br.
Outros casos
Correia ainda cita outros casos semelhantes ao de Celso Daniel, como a morte do ex-prefeito de Campinas Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, morto a tiros em setembro de 2001, que também desperta choque de versões e diferentes teses sobre as causas do homicídio. Outro episódio intrigante foi o assassinato de Paulo César Farias, o PC Farias, com um tiro no peito em 1996, em sua mansão na Praia de Guaxuma, em Maceió, Alagoas.
Outra abordagem
Em novembro de 2016, Celso Daniel também teve sua história contadas nas páginas do livro Celso Daniel — Política, Corrupção e Morte no Coração do PT, pelo também jornalista Silvio Navarro, que deu entrevista ao RDtv em 31 de outubro de 2016. A obra aprofundou sobre possíveis esquemas de corrupção operacionalizados durante a gestão do petista no Paço andreense. (Confira vídeo)
A narrativa de Navarro reconstitui o assassinato do ex-prefeito, por meio de ampla pesquisa do processo judicial de mais de 20 mil páginas. “Eu gosto de usar a seguinte expressão: ‘Santo André foi laboratório da corrupção, foi o projeto piloto de um modelo de corrupção para abastecer caixa de campanha”, afirma.