Celso Daniel ainda mobiliza campanha em Santo André

João Avamileno, Bruno Daniel e Bete Siraque

A figura do ex-prefeito Celso Daniel, assassinado há 18 anos, ainda exerce influência na disputa pela prefeitura de Santo André. Ao menos três herdeiros políticos do ex-prefeito estão concorrendo, e até adversários usam as gestões do petista, que governou a cidade por dois mandatos – de 1989 a 1992 e de 1997 a 2002, como referência.

Entre os que se apresentam como seu herdeiro na disputa está o irmão do político assassinado em 2002, Bruno Daniel (PSOL). A lista conta ainda com o antigo vice de Celso Daniel, João Avamileno – ex-prefeito e candidato pelo Solidariedade – e Bete Siraque, candidata pelo PT. Celso é elogiado pelo tucano Paulo Serra (PSDB), atual prefeito que disputa a reeleição e foi secretário da gestão petista de Carlos Grana (2013 a 2016), e até por Wagner Grillo, que concorre pelo MDB.

Newsletter RD

Rompido com o PT desde 2019, Avamileno comandou Santo André entre 2002 e 2008. Foi eleito vice em 1997, e assumiu o cargo após a morte de Celso, reelegendo-se em 2004. Ele admite que o pleito deste ano deixa explícita a influência do ex-prefeito, sempre resgatado nas eleições. “Pelo seu modo de governar, sua capacidade, a maneira como foi assassinado e os trabalhos sociais, isso acabou criando uma memória.”

Na tentativa de recuperar o governo da cidade, o PT aposta na vereadora Bete Siraque, mulher do ex-deputado federal Vanderlei Siraque, que deixou o PT e hoje está no PCdoB. A candidata trabalhou na Secretaria de Educação de Santo André durante o segundo mandato de Celso Daniel. Ela afirma que a influência do ex-prefeito é “inegável”. “Ele é uma referência até os dias de hoje”. Diante da candidatura do irmão de Celso pelo PSOL, Bete faz questão de afirmar que o legado deixado no município é “parte de um trabalho construído pelo partido”.

“Celso fazia parte de um partido com outras pessoas que ajudaram a fazer seu programa de governo à luz do que o PT defendia. Todo mundo quer usar o nome do Celso, mas o legado da história do que realizamos em nossos governos é do PT.” Bete admite que o resgate de Celso Daniel pode ajudar na campanha, mas afirma que o PT necessita apresentar um projeto consistente para a cidade.

Candidato do MDB, Grillo afirma que Celso Daniel foi “o melhor prefeito” que Santo André já teve por sua capacidade de “agregar valores ao município”. “Ele fazia os orçamentos participativos e cumpria. Era bem claro no cumprimento das propostas.” Serra, atual prefeito, também teceu elogios ao petista assassinado.

Corrupção

Elogiada pelos atuais candidatos à Prefeitura de Santo André, a gestão de Celso Daniel foi marcada por um escândalo de corrupção. Em 24 de novembro 2015, a Justiça condenou três pessoas por liderar um esquema de cobrança de propina de empresas de transporte contratadas pelo governo municipal: os empresários Sérgio Gomes da Silva e Ronan Maria Pinto e o ex-secretário Klinger Luiz de Oliveira Sousa. A sentença foi confirmada pelo Tribunal de Justiça dois anos depois. Os três negam as acusações.

O crime

Então prefeito de Santo André e coordenador do programa de governo da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, Celso Daniel foi encontrado morto com marcas de tiro em 20 de janeiro de 2002, dois dias após ser sequestrado. Um inquérito policial concluiu que o crime foi cometido por uma quadrilha da favela Pantanal, zona sul de São Paulo. Seis homens foram condenados. O Ministério Público investigou se o assassinato foi motivado para acobertar um esquema de corrupção que existia na prefeitura, mas a tese não prosperou.

‘Querem atribuir a mim acusações que não fiz’, diz Bruno Daniel

Pré-candidato do PSOL à prefeitura de Santo André, o professor de Economia Bruno Daniel (PSOL) concorre pela primeira vez a uma eleição. Ao lado da família, Bruno defendeu a apuração do crime, independentemente da possibilidade de as investigações atingirem a imagem de Celso ou a do PT.

Em 2006, teve que deixar o Brasil com a família. Ele foi alvo de ameaças de morte após depor na CPI dos Bingos, que investigava um esquema de propinas para o PT. Na ocasião, chegou a acusar dirigentes petistas de receber propina, o que foi negado pelo partido.

Após 18 anos, a morte de Celso ainda suscita polêmica. “Nunca falei que o PT estava envolvido nisso. Sempre disse: é necessário investigar o que aconteceu e, se os investigados têm ou não vínculo com o partido, isso deve ser obtido a partir das apurações. Muitos querem atribuir a mim acusações ao PT que eu nunca fiz”, afirma. “Instalou-se no governo do Celso uma máfia, e máfia atua de um jeito que sai de qualquer tipo de lógica racional.” De volta ao Brasil, em 2012, Bruno rompeu com o PT, partido do qual foi fundador. Agora diz querer o resgate do legado de Celso.

De família tradicional – seu pai, Bruno José Daniel, dá nome ao estádio municipal – o pré-candidato diz que interesses em comum levaram ele e o irmão a fazer mestrado em Administração e Planejamento Urbano na FGV. “Foi no mestrado que começamos a despertar para a política. Foi a primeira vez que a gente estudou Marx, Lenin e Trotsky.”

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes