Com as tarifas mais caras do Brasil, os ônibus municipais das sete cidades da região ainda engatinham para dar um serviço que realmente corresponda à relação custo e benefício aos usuários. Exemplo é o acesso à internet gratuita nos coletivos. Em quadro de 1.360 veículos no ABC, apenas 349 contam com Wi-Fi, ou seja, 25,66%. Em Santo André, por exemplo, o serviço é esperado desde julho de 2015 para toda frota.
Todos os dias circulam 376 ônibus que operam nas 50 linhas em Santo André, sendo 300 veículos do Consórcio União Santo André, composto por seis empresas (Guaianazes, Curuçá, Parque das Nações, Etursa, Viação Vaz e Urbana), em contrato firmado em 2008 e com duração até 2023. Outros 76 coletivos são da Suzantur, que atendem na região da vila Luzita por autorização a título precário, situação na qual circula por portaria.
Segundo a SA Trans (Santo André Transportes), autarquia responsável pelo setor, apenas a Suzantur, contratada emergencialmente em outubro do ano passado, fornece acesso à internet gratuita nos 76 coletivos. Por sua vez, o Consórcio União Santo André deveria instalar Wi-Fi nos coletivos, segundo aditivo há quase dois anos, conforme nota da Prefeitura de Santo André.
No entanto, até agora, o Consórcio União Santo André não deu um passo sequer em nenhum dos 300 veículos operacionais para implantação da rede móvel. A secretária adjunta de Mobilidade Urbana, Obras e Serviços Públicos, Andrea Brisida, diz que o governo do prefeito Paulo Serra (PSDB) cobra o grupo, o qual dá suas desculpas. “O Consórcio diz que se instalarem o que está disponível hoje, não dá conta de atender a demanda, pois se cinco usuários se conectarem, o sinal da internet cai”, justifica.
Em São Bernardo, 384 coletivos operam em 65 linhas municipais, gerenciadas pelo Consórcio SBC Trans (São Bernardo Transportes). Do total, 25 veículos dispõem de sinal de internet gratuita. O governo do prefeito Orlando Morando (PSDB) informa que o atual contrato com a concessionária foi firmado em 1998, com duração de 15 anos.
O contrato com a SBC Trans era para se encerrar em 2013, porém, a gestão do ex-prefeito Luiz Marinho (PT) usou o dispositivo, segundo nota do Paço, para prorrogar o vínculo por mais cinco anos. O atual convênio não prevê a implantação da rede móvel e se encerra em setembro do próximo ano, quando ocorrerá nova licitação. No plano de governo, Morando assegurou um transporte público dotado de Wi-Fi, ar-condicionado e televisão.
Santo André e São Bernardo contam com as tarifas de ônibus mais caras do Brasil, hoje no valor de R$ 4,20. Ambas as cidades, inclusive, superam os preços de passagens de praticamente todas as capitais brasileiras, atrás apenas de Curitiba (R$ 4,25). No entanto, a capital paranaense é reconhecida mundialmente pelo sistema de transporte coletivo, inclusive por ser uma das primeiras a implantar o BRT (Bus Rapid Transit).
Duas cidades têm 91 mil conexões em 5 dias
Responsável pelas 15 linhas de ônibus da região de vila Luzita, em Santo André, e por todo o sistema de transporte coletivo em Mauá, a Suzantur informa que de domingo para quinta-feira (31), houve mais de 91 mil acessos de usuários à internet nos coletivos e nos terminais. Somado a São Carlos, interior paulista, onde a empresa opera por autorização a título precário, a exemplo do lote andreense, o número chega a 126 mil.
Mauá e Santo André tiveram, respectivamente, 65 mil e 26 mil acessos – São Carlos registrou 35 mil nesse período. De acordo com o gerente operacional da Suzantur, Robson Francisco, todo o sistema de internet nos ônibus nas duas cidades do ABC foi totalmente implantado em maio. “Primeiro implantamos em Santo André e depois Mauá. Não tínhamos obrigação contratual, mas implantamos por iniciativa”, diz.
Para testar o acesso à internet nos ônibus, o Repórter Diário embarcou terça-feira (30), às 11h20, na linha AL-127 (Cidade São Jorge/Terminal Vila Luzita), operada pela Suzantur em Santo André. No ônibus, a reportagem verificou a existência do sinal, mas sem acesso à rede. Já o Terminal Vila Luzita conta com Wi-Fi próprio e, desta vez, houve sucesso para se conectar, mas não antes de um cadastro.
À espera pelo AL-111 (Clube de Campo ABC/Terminal Vila Luzita), a estudante Ana Isabel, 18 anos, confirma a dificuldade. “No Terminal (Vila Luzita), acessei (a internet) várias vezes, mas no ônibus aparece o sinal, só que não conecta”. O pintor Ricardo Carvalho, 26 anos, relata situação similar. “No TR-103 (Terminal Oeste de Santo André/Terminal Vila Luzita), deu sinal, mas não consegui fazer o login”, completa.
A reportagem voltou a testar o sinal dentro do ônibus, às 11h58 do mesmo dia, desta vez na linha TR-101 (Terminal Oeste de Santo André/Terminal Vila Luzita). Segundo a Suzantur, a dificuldade de acesso à internet pode se dar por alguns fatores, como falha na cobertura de sinal da operadora de telefonia e pelo sistema operacional do aparelho móvel.
Mauá eleva percentual regional
O fato da média de um a cada quatro ônibus municipais ter acesso à internet no ABC se deve a Mauá. De acordo com a Prefeitura, todos os 248 ônibus do sistema municipal de transporte já dispõem de Wi-Fi nos 49 itinerários, ou seja, 100% da frota. A concessionária é a Suzantur, vencedora da licitação realizada em 2014. Segundo o governo, o contrato válido por 10 anos não previa o dispositivo, porém, o sistema foi implantado por consenso com prefeito Atila Jacomussi (PSB). A passagem dos coletivos é de R$ 4,00.
Enquanto isso, as outras quatro cidades do ABC não implantaram o serviço. Em Diadema, são 186 ônibus – 122 veículos da MobiBrasil e 64 da Benfica –, que atendem 21 itinerários. A gestão do prefeito Lauro Michels (PV) diz que já faz testes pela instalação da internet nos coletivos. A passagem custa R$ 4,20 (R$ 4,00 pela bilhetagem eletrônica).
Situação parecida ocorre em São Caetano, onde a Vipe (Viação Padre Eustáquio) disponibiliza frota de 48 ônibus à população pelo valor de R$ 4,00 por viagem, sem sinal de rede.
Em Ribeirão Pires, as 30 linhas municipais e os 100 veículos são operados pela Rigras, desprovidos de internet. A mesma situação da Viação Talismã, gerenciadora das seis itinerários e dos 18 ônibus operacionais de Rio Grande da Serra.