É uma grande oportunidade para repensar e avaliar o que temos feito em saneamento básico. O recado é da professora e ambientalista Marta Marcondes ao comentar o Dia Mundial da Água, celebrado nesta quarta-feira, 22 de março. Docente e coordenadora do projeto Índice de Poluentes Hídricos (IPH), da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), Marta diz que não tem motivo algum para comemorar a data em razão do cenário. A região trata, no máximo, 40% do esgoto, a transposição do braço do Rio Grande para o Taquacetuba em 2016 trouxe enormes plantas aquáticas para a Billings e esta virou uma gigante sopa de lentilhas, falta política habitacional efetiva para transferir os moradores que vivem às margens do manancial, o rio Tamanduateí está na UTI e falta vontade política para resolver tudo isso.
A data, segundo Marta, precisa mais que reflexão. “É para nota de repúdio, com muitas perguntas sobre o que estão fazendo para melhorar o saneamento e, por consequência, a água”, ressalta a professora, que há 25 anos estuda a represa Billings e desde 2004 pesquisa a situação dos córregos da região. Em entrevista ao canal RDtv, Marta lamentou o atraso do ABC em relação a saneamento e lembrou que Santo André e Rio Grande da Serra são as cidades que têm a maior dívida com a população e a natureza.
A professora citou cálculo do Instituto Trata Brasil, de que a cada R$ 1 investido em saneamento é possível economizar R$ 4, na rede de atenção básica de saúde.
Marta Marcondes afirma que a tecnologia para visualizar a situação da água avançou bastante, mas isso não é suficiente. “Não se tem política habitacional efetiva para desocupar as margens da represa Billings”, reclama a coordenadora do IPH, criado em 2010 pela USCS. “Estou sempre analisando amostras de água dos rios e reservatórios. Essa falta de investimento é perceptível”, salientou Marta, que nos últimos dias faz coleta no rio Tamanduateí, onde diz que se assemelha a um paciente em estado terminal.
Quanto a Billings, são realizados 165 pontos de coletas para análise da água. Desse total, 100 pontos estão em São Bernardo e três em Rio Grande da Serra, sendo que esses são os mais poluídos – os demais pontos estão localizados em outros municípios. “Isso está relacionado ao despejo de esgoto sem tratamento”, lamentou.
Marta (foto) contou que desde ano o passado a USCS realiza ações com a comunidade que vive da pesca na Billings, envolvendo mais de 300 pessoas entre líderes comunitários e pescadores. Na ação, os grupos de saúde do projeto IPH fazem avaliações da saúde desses moradores e discutem as causas das doenças. “Com isso, podem cobrar o poder público ações efetivas”, disse.
Outra preocupação da pesquisadora é sobre a discussão do Consórcio Intermunicipal com o governo do Estado para revisar a Lei Específica da Billings. Marta Marcondes ressaltou que a sociedade civil precisa participar. “A sociedade não pode ficar de fora dessa discussão em hipótese alguma”, advertiu. Assista a entrevista na íntegra pelo canal RDtv.