Tempos de perdas industriais e ganhos culturais; um local adequado para reunir poetas e interessados em cultura, partilhar e discutir ideias e projetos, um espaço para (con)vivência. É desta forma que Dalila Teles Veras e Luzia Maninha Teles Veras, fundadoras da Alpharrabio Livraria e Editora, em Santo André, falam sobre os 25 anos da casa e seu papel de inserção da atividade literária na região. Para comemorar o jubileu de prata, a livraria inaugurou a exposição Alpharrabio: Um Quarto de Século na Casa do Infinito.
Dividida em um muro de lambe-lambe, com imagens digitalizadas, a mostra gratuita conta por meio de documentos, objetos, livros e matérias publicadas a história da livraria. Idealizada por Luzia Maninha Teles Veras e com montagem assinada por Zhô Bertholini, a instalação tem paredes repletas de recortes de documentos da trajetória do espaço.
A casa pintada de cor-de-rosa e adaptada com prateleiras foi inaugurada em 1992, como uma pequena livraria com acervo inicial de 2 mil títulos. Hoje com 10 mil e premissas baseadas em sonhos e ansiedades, o espaço abre caminhos, ganha força e, além de sebo, editora, local de exposições, é principalmente local de estudo, fomentadora cultural e ponto de encontro de escritores, poetas, músicos, compositores e amantes de arte.
Apesar de ter ultrapassado as fronteiras da região com reunião de publicações de mais de 50 autores, entre eles Fabiano Calixto, Alexandre Takara, Tarso Melo e Hélio Neri, Dalila conta que o resultado do espaço é em decorrência do encontro de pessoas interessadas na atividade cultural. “Quando chegamos não havia qualquer espaço na cidade nem na região para fazer o que viemos fazer, aberto ao pensamento, veiculação de ideias, um espaço de debate constante”, conta. Ao longo de todo este tempo, diz, foi-se estabelecendo entre os frequentadores um sentimento de camaradagem e, sobretudo, de pertencimento que faz do Alpha a segunda morada dessas pessoas.
Em um mundo onde tudo tem quase obrigação de ser grande comercialmente, Dalila (foto) considera a Alpharrabio nanica. “Assumimos a posição como afirmação contra corrente, e queremos continuar assim, cumprindo papel único na região, não queremos ser mega. A Alpharrabio foi pensada desde o início para ser um sustento para a atividade cultural na região, nunca sustentou, me considero uma empresária fracassada, mas não importa, porque temos um acervo de qualidade”, reitera ao lamentar o compromisso dos grandes grupos apenas com o lucro no comércio de livros e não com a cultura.
Jorge Amado
Ao olhar para trás, Dalila faz questão de destacar a inauguração da escultura de dois metros em homenagem ao escritor brasileiro Jorge Amado, em dezembro de 2002, que contou com a presença de familiares do autor e que parte da comemoração de uma década da livraria. A escultura do artista plástico Ricardo Amadasi faz parte do acervo da livraria e fica no pátio interno que dá acesso à sala de múltiplo uso, onde são realizadas atividades culturais e debates permanentes. “Temos independência crítica e discutimos até política pública no Alpha, um espaço de utilidade pública”, comenta a diretora do Alpharrabio, que já publicou mais de 150 títulos de 50 autores, a maioria da região.
Dalila diz que a inauguração da escultura e outros eventos culturais, registros e histórias do ABC podem ser encontrados no livro Alpharrabio 12 anos: uma história em curso, escrito também por Luzia Teles Veras. Também em discussão de ideias, valorização da memória e materiais inéditos, o Alpharrabio conta com o ABCs-Núcleo de Referência e Memória, acervo da cultura da região disponibilizado na editora localizada na rua Eduardo Monteiro, 151, jardim Bela Vista, em Santo André.
(Colaborou Amanda Lemos)